Wild Cat

      Olá. Benvindos a mais um episódio de… nop, não estão a ver um programa de carros na televisão, mas podíamos ter começado este artigo assim, principalmente pela inspiração que nos banha neste momento. Aliás, desde o primeiro contacto que tivemos, ainda que através da caixa mágica que é a televisão, com o Jaguar F-Type que rapidamente decidimos que um dia teríamos de fotografar um, não só pela responsabilidade que este pequeno britânico trás sobre os «ombros» como também pela beleza ímpar que encerra nas suas curvas. É, de longe, um dos mais bonitos Jaguares feitos e da era moderna, não tem nenhum que se lhe compare. Talvez seja por isso que não podemos deixar de fazer comparações (certas ou não, fica ao critério de cada um) com o saudoso Jaguar E-Type, um dos automóveis mais bonitos de sempre e que se mantém no pódio dos carros mais icónicos do mundo, talvez a par do Ferrari F40, do Lamborghini Countach ou do Porsche 911, para não continuar aqui a nomear grandes nomes do mundo automóvel.

    Apesar de toda a paixão que temos por este inglês, não contávamos fotografar um. Andam escondidos nas garagens, nas colecções privadas e há vários meses que nem pensávamos no F-Type. Mas curiosamente, estávamos nós a arrumar o disco rígido da AWP e a catalogar algumas fotografias numa espécie de limpeza de primavera, no inverno, quando a Garagem 87 publicou uma story no seu Instagram, de um «quarto» de veículo que rapidamente reconhecemos. As «ancas» deste Jaguar são inesquecíveis e rapidamente o nosso coração acelerou: a paixão pelo britânico F-Type tinha voltado e seguiu logo uma mensagem ao Eduardo, dono da G87. «Sim, ele está aqui, vai ser tratado e fica à vossa espera!» foram as palavras escritas pelo mestre do detalhe da Charneca da Caparica com quem trabalhamos há mais de um ano e continuamos a depositar toda a nossa confiança e apoio no que concerne à parte de fotografia e registos dos seus trabalhos. Depois desta curta mas vibrante conversa por escrito, começamos a contar os dias até podermos fotografar esta obra prima.

 

      Já vamos no terceiro parágrafo deste artigo e pela quantidade de fotografias que já temos, certamente que já perceberam que preferimos a imagem à palavra. E se dizem que não devemos conhecer os nossos heróis (escrevemos o mesmo no artigo do 930 Turbo Cabrio, também da Garagem 87), este F-Type prova que não só devemos conhecê-los como passar o máximo de tempo possível com eles. A paixão que tínhamos por este desportivo de dois lugares apenas ganhou força e damos por nós nos sites de classificados à procura de modelos à venda (sonhar não custa, não é?) até que somos relembrados pelo Eduardo que este Jaguar F-Type V6 S (a motorização mais rara) está precisamente para venda… caro Banco de Portugal, pode emprestar uns euros sff? De volta à terra, concentramo-nos em fotografar este felino escuro que numa cor mais banal (preto metalizado) pode passar um pouco mais despercebido aos olhos de quem circula no estacionamento onde nos encontramos.

Reconhecível em qualquer parte do mundo este símbolo.

      Apesar de não ter o tom verde tão tradicional (e lindíssimo) – British Racing Green, BRG – este negro invoca a raça deste F-Type. Acutilante, esguio, desportivo, este Jaguar é tudo aquilo que se pode desejar num desportivo de dois lugares. Tem a potência suficiente para nos divertirmos em estradas sinuosas, podemos passear num final de tarde à beira mar de capota aberta e ainda podemos fazer virar cabeças num centro citadino, graças não só ao estilo inconfundível como também ao som viciante que este V6 produz. E é aqui que este modelo em específico ganha, a nosso ver, ao V8. O som! O ruído do escape deste V6 S é hipnotizante. Ecoa no nosso cérebro de uma forma tão apetitosa quando viciante, quase que como uma droga que nos caça lentamente. Nem precisamos de ser brutos com o pedal direito, basta pressionar o botão de abrir a válvula do escape e a orquestra acorda, emitindo decibéis de puro prazer. O v6 S foi descontinuado após a Jaguar rever uns parâmetros, especialmente as emissões, que ultrapassavam as do V8, não tornando rentável este modelo. Assim, o V6 S existe em menor quantidade que os restantes V6 e V8 (sem contar com as versões mais radicais como o SVR), fazendo com que este exemplar em específico seja uma oportunidade única de aquisição.

      Conversa de vendedor à parte, vamos ao que interessa. Vamos escrever um pouco sobre este Jaguar F-Type com base na nossa experiência e claro, nas fotografias que aqui vos trazemos. Sucessor espiritual do E-Type para muitos, o longo capot deste Jaguar alberga o então referido anteriormente V6 de 3 litros e 375 cavalos, que ombreia com o Porsche Boxster S, rival direto e cujos números de performance andam em sinfonia com os que este Jaguar manifesta. Além das diferenças de preço e de performance em determinadas situações, a escolha entre o britânico e o alemão prende-se puramente com a paixão emocional e com a estética e aí, por muito fãs que sejamos da Porsche, este Jaguar consegue estar ligeiramente acima. Não há igual no mercado e sejamos francos, este F-Type é um hino à beleza automóvel, sem ser necessário recorrer a abusos estilísticos, a entradas de ar desmesuradas ou a spoilers de grandes dimensões. Tudo casa bem neste inglês de smoking.

Detalhe interessante neste F-Type.

       Ao contrário da maioria, nós na AWP preferimos as versões fechadas às de cabelo ao vento de vários modelos. Aliás, na sua generalidade, achamos sempre que o mesmo modelo em coupe funciona melhor que a sua alma gémea descapotável mas o F-Type é diferente. Apesar do coupe ter surgido primeiro, é nesta versão cabrio que a beleza ímpar deste inglês salta à vista, com o design de Ian Callum a passar pelos anos de forma única, sem perder a beleza que o caracteriza. Sim, o Jaguar F-Type não é um carro «velho», mas tendo em conta o tempo que tem já de mercado, podemos dizer que está tão atualizado como se tivesse saído já nos tempos COVID. Desafiamos o leitor a parar de ler, fazer um scroll up e olhar para as linhas deste Jaguar. Irresistível, não é? Nem sabemos por onde começar a falar (neste caso, a escrever) sobre ele…. Mas vamos avançar!

 

      «Malta…então?» diz-nos o Eduardo para nos «acordar». Na realidade estávamos de olhos bem abertos mas hipnotizados pela beleza deste desportivo britânico. Tipicamente, os descapotáveis da terra de Sua Majestade têm o luxo aliado ao estilo e ao desportivismo, quando a palavra de ordem é essa. Este Jaguar transborda tudo isso e ainda acrescenta uma agressividade medida na proporção certa. Olhar de frente para este F-Type é estar de caras com um dos felinos mais belos da classe. Os faróis ao alto rasgam a frente e como que um par de olhos, fitam-nos preparados para o ataque. A grande entrada de ar central está ladeada por duas mais pequenas que se assemelham aos dentes caninos do felino que dá o nome à marca. Passar muito tempo a olhar este Jaguar na «cara» é provocá-lo, é preparar-nos para acartar com as consequências. E isso começa ao volante. Mas já lá vamos.

Não conseguimos explorar nenhum ângulo «menos bom» neste Jaguar.

    O perfil é uma obra prima. Sigam com os olhos a silhueta deste Jaguar, desde o nariz baixo e pronunciado, subindo até à cintura alta com vidro pequeno e terminando no quadrante posterior, de «anca» subida e que termina abruptamente com um pára-choques alto e curto. O preto brilhante deste exemplar, detalhado e mantido pela Garagem 87 claro, reflete o sol da manhã de Inverno e contrasta bem com as pinças vermelhas da marca britânica. Temos ainda uma entrada de ar lateral com moldura cromada e inserção da marca e claro, uns puxadores «da moda» que antes de o ser, já eram modernos… hoje em dia, amplamente utilizados em diversos modelos não só das marcas associadas à Jaguar como em outras. A capota num tom entre o cinza e o bege é outro ponto de discórdia para quem vê este F-Type. Já para nós, está au point e traça um contraste quase perfeito no esquema cromático deste cabrio.

      Na traseira o estilo 100% Ian Callum é hipnotizante. Farolins pequenos e esguios, decalcados do XF alinham todas as linhas (passem a redundância de palavras ao lado) que vem da cavas das rodas e da tampa da mala assinalando e aumentando ainda mais a saliência e impertinência das ilhargas posteriores. É neste ângulo que é evidente o desenho que valoriza a estética intemporal e que vai buscar inspiração directa ao E-Type dos anos 60. Depois, a assinatura do V6 S, a dupla saída de escape montada ao centro, com generosas ponteiras responsáveis por uma das bandas sonoras mais ricas e entusiasmantes dos últimos anos, especialmente se nos lembrarmos que está associado a um «modesto V6» ao contrário de outros que têm acoplados V8’s, V10’s e até V12’s. Por fim, o facto do para-choques se encontrar subido e angular face ao solo sobressai o estilo de «rabo empinado» e deixa antever a largura imponente dos pneus traseiros. E… já nos esquecíamos de um dos elementos importantes, o spoiler retrátil que apesar de quebrar a beleza das linhas, é essencial para manter a animada traseira em contacto com o alcatrão, ainda que por vezes, durante pouco tempo, pelo menos bilateralmente (falando dos pneus, claro).

     Recolhemos a capota e damos três passos atrás… a silhueta deste F-Type ganha ainda mais expressão e justifica a opção de muitos da versão cabrio face ao coupe. O interior que na versão fechada pode ser um pouco claustrofóbica, ganha aqui novos argumentos (ou aliás, perde-os) sendo o céu o limite. Cheio de pele e tecidos nobres, com um toque muito agradável e suave, o habitáculo deste F-Type é acanhado sem se tornar desconfortável. Ao volante percebemos que temos tudo no sítio certo e ao alcance rápido e além do conforto físico, também nos sentimos agradavelmente bem do ponto de vista da… vista. É tudo linear simples e eficiente, com um toque macio e aborrachado na maioria dos locais, principalmente no tablier e consola central. O volante pequeno, de base plana e pele tem um bom feeling e acaba por compensar bem a ginástica que por vezes temos de fazer com ele, quando desligamos o controlo de tracção.

        No centro da consola temos botões importantes como o do controlo da válvula de escape, que a nosso ver deve estar sempre aberta, para levantar aqueles pequenos pelos na base da nuca. O som metálico é mais vibrante e intenso de capota aberta, claro, e deixa-nos constantemente no mundo das nuvens o que pode não ser o melhor, pois este F-Type exige muito do condutor se o quiser conduzir em modo «faca-nos-dentes». E nestes momentos quem vai à pendura percebe o porque da gigantesca pega na consola central que é o elemento menos bem conseguido no design do interior do britânico. Não fica bem, é despropositado e intrusivo mas eficiente quando nos apercebemos que precisamos dela. Sem exageros tecnológicos, este F-Type tem tudo aquilo que precisamos para o dia-a-dia no quotidiano: GPS, AC Bizona, todos os sistemas de segurança, um quadrante analógico «da velha guarda» e umas excelentes baquets em pele camel que nos seguram firmemente no lugar, enquanto que em simultâneo mostram o seu contributo positivo se nos apetecer ir jantar ao Algarve, por exemplo.

       Apesar de parecer leve, este F-Type acaba por ser mais pesado que o seu concorrente directo, o Boxster S. Nos 1700 kg’s, apesar de ter muito alumínio na sua construção, consegue no entanto manter-se nos números do Porsche, com 4,8 segundos apenas dos 0-100 km/h e uma velocidade máxima de 275 km/h (teoricamente). Além disso, o V6 S consegue ser, em média, pouco mais gastador que o 6 cilindros boxer do seu rival de Estugarda mas em contra-partida, o som que emite faz com que o condutor seja mais provocador com o pé direito, o que eleva os números de forma bastante interessante (e negativa para a carteira, com o litro da gasolina 98 nos 2€). Mas quem compra um F-Type apenas se tem de preocupar com uma coisa: multas! É fácil andar depressa em locais proibidos, é fácil provocar a traseira e fazer pinturas no asfalto e é ainda mais fácil esquecermo-nos que estamos ao volante do Jaguar mais pequeno atualmente à venda (apesar deste em questão já ter sido substituído por uma nova versão).

     O texto vai longo… e as fotos também. É hora de fazer aquele parágrafo de conclusão embora nos custe. Continuávamos aqui a escrever, de forma imprevista e informal, sem necessidade de recorrer ao armazém de memória para recordar a manhã passada com este desportivo. Ir ao encontro deste F-Type, passar a mão nas linhas sensuais para encontrar o puxador elegante e retrátil, abrir a porta e sentar a bordo. Deixar-nos envolver pelo som que sai do excelente sistema Meridian e confortavelmente sentados, dar à chave para acordar o V6 que se encontra debaixo do longo e proeminente capot. Acelerar, dar a conhecer a quem por nós passa o hino da música automóvel tão metálico como clássico e acima de tudo, apreciar bem tudo o que este Jaguar é. E se estão deliciados com as nossas palavras, recordem que este exemplar está para venda. Está na hora de ter na garagem um pedaço do céu da história automóvel que encerra nas suas linhas um legado ímpar e sem igual que é o Jaguar E-Type, um dos mais belos automóveis jamais feitos. E agora, liguem o som e apreciem o som deste V6 S, nesta review da CarThrottle.