TurboFans MK2

       Liberdade de expressão. Começamos este nosso artigo com um «chavão» que tem sido usado e até abusado na atualidade para justificar por vezes opções de pensamento e atitudes que são pouco aceites pela comunidade. Com a premissa dessa «liberdade», existem comportamentos que limitam a liberdade, passe a redundância, de outras pessoas. E quando isso acontece, não podemos desculpar com a tal frase com que iniciamos este texto. Ao lerem isto, devem pensar de imediato em duas coisas: será que eu condiciono a liberdade do próximo com as minhas opiniões e comportamentos? E o que é que tudo isto tem a ver com automóveis ou até com a AllWheelsPhotography? Questões válidas obviamente… à primeira respondemos simplesmente com a necessidade de haver coerência de raciocínio e principalmente, respeito pelo próximo. À segunda questão, respondemos ao longo deste artigo.

Porsche e Volkswagen, sempre «casaram» bem!

      Há outra coisa que deve estar na vossa mente e que foi algo que referimos também há uma semana, no artigo do Golf VII personalizado pela Buckler.pt, que é o facto de andarmos a publicar imensos Volkswagen Golf. É verdade… parecem estar na moda mas na realidade é apenas coincidência em termos de planificação do nosso calendário de artigos. Mais do que isso, é prova inequívoca que o modelo alemão tem, em qualquer geração, uma série de opções de personalização e ajustes que o torna muito «vulgar» no mundo do tuning, seja ele de estética ou até mecânico, principalmente nos modelos mais potentes (GTI’s e R’s, por exemplo). Mas este artigo trás-nos mais um MK2, um dos Golf’s mais importantes da história da marca que lançou o modelo por todo o mundo e consolidou o sucesso da primeira geração.

Baixo, largo e com postura. Resume-se bem este Golf MK2.

       Prático, eficiente, poupado e de baixa manutenção, o Golf II surge em 1983 no Salão de Frankfurt e iniciou a comercialização na Europa pouco tempo depois. Entre 1984 e 1993 (ano de estreia do MK3), foram vendidos mais de 6.2 milhões de Golf’s da segunda geração, o que por si só demonstra o sucesso que teve um pouco por todo o mundo. Foram construídas versões banais e claro, versões mais potentes como o Golf Rallye e o G60, que utilizam motores sobrealimentados e bastante voláteis a alterações mecânicas, ficando com preparações muito interessantes. Mas sejam eles modelos normais ou os mais «picantes», todos os Golf II têm coisas em comum e que o diferenciam da primeira geração. É maior, mais pesado e com melhor habitabilidade e marcou a unificação do termo Golf a nível mundial, dado que o MK1 era chamado de Rabbit nos EUA, por exemplo.

     Com vários níveis de acabamento e extras, o MK2 foi crescendo nos mercados e em Portugal não foi excepção. Hoje em dia continuamos a ver muitos destes modelos da segunda geração a circular, o que comprova o que referimos mais acima, que é um modelo extremamente fiável e de baixa manutenção. Claro que em termos de valorização são os modelos especiais a reunirem maior consenso dos especialistas mas até o simples 1.1 CL bem mantido e estimado já é considerado um clássico e pode começar a valorizar em alguns mercados. Mas não estamos aqui para vangloriar os automóveis com base na sua raridade ou especificação mas sim para celebrar o automóvel e como tal, vamos concentrar o nosso artigo neste MK2 bem alterado e que tocando novamente no assunto inicial deste artigo, causa alguma comoção e troca de ideias nas redes sociais, por exemplo.

      Aqui a liberdade de expressão é a do seu dono. O Diogo, jovem entusiasta da personalização automóvel, viu neste Golf a oportunidade de fazer algo cá que é visto fora de fronteiras portuguesas, em especial no tradicional e muito conhecido evento dedicado em primeira instância à marca de Wolksburg, de decorre habitualmente em Maio em Wörthersee, junto a um bonito lado na Áustria. Já falamos deste evento no artigo do Golf MK1 (El Pistachio) e por isso não nos vamos repetir até porque acreditamos que se está a ler este artigo, conhece certamente o evento e até já lá foi ou então tem essa viagem como um dos objectivos a atingir brevemente. Este Golf não foi construído com uma ementa, com um menu de modificações, uma espécie de índice se assim lhe quiserem chamar.

       As modificações foram sendo realizadas com base no gosto pessoal do Diogo e principalmente, seguindo algumas ideias que já tinha tido para outros modelos mas que não eram tão exequíveis noutras bases. Foi com agrado que recebemos a reserva de sessão fotográfica deste Golf porque assim que vimos uma foto do mesmo a nossa mente foi logo também para o tal evento austríaco e com base nisso, partimos para a procura de um local para a sessão que nos transportasse para «além-fronteiras». E até não foi preciso irmos muito longe para encontrarmos este local, com paredes de tijolo e com ambiente mais industrial e que contrasta na perfeição com o branco deste Golf. Mas deixemo-nos de romances e vamos então explorar este projecto.

     Manhã de Dezembro, frio e humidade típicas da época. Aguardamos ao sol para manter a temperatura a chegada deste Golf e quando o mesmo chega, é-nos impossível não esboçar um sorriso, ainda que tapado pela máscara. Com um aspecto limpo e «puro», acentuado pela cor branca lavada pelo sol matutino, este MK2 rola baixinho e faz olhar os que por ali passavam, não pela «espampanância» do conjunto, mas pelo excelente estado de conservação. Mais do que um projecto, este Golf é também um clássico e como tal, antes de começarem as alterações, o Diogo tratou de toda a chapa, pintura e mecânica, de forma a que não fosse apenas um amontoado de alterações numa base com prazo de validade. E que bem sucedido que foi!

A postura deste MK2 é muito boa, não concordam?

     Grelha de quatro faróis, com capas Hella nos auxiliares é logo um excelente cartão de visita. A grelha de plástico bem estimada e protegida faz a sua presença numa frente que sem espalhafatos de lips abusados e entradas de ar desmedidas, consegue conservar o aspecto mais clássico com um toque de cleaness ao qual se juntam os piscas laranjas e os espelhos cromados. O facto de estar rebaixado acentua a largura deste carro que sem ser demasiado, acaba por dar um ar mais musculado. E ao nos aproximarmos dos faróis, por exemplo, vemos que este Golf tem sido bem cuidado, no laboratório de estética EsteticaAuto.Luji, na Amora, onde o Diogo também trabalha; um pequeno negócio que tem as bases certas para crescer!

      E já que falamos do rebaixamento no parágrafo anterior, vamos já atacar esse tópico. Não recorre a bags para rolar baixo, mas sim a um sistema de coilovers da JOM que sem beliscar em demasia o conforto, consegue aquele aspecto mais German Style que foi uma das linhas de pensamento do dono deste Golf. Mas as estrelas deste carro são mesmo aquelas «pecinhas» em plástico que tapam as jantes… não, não são tampões, mas sim aerodisc’s inspirados nas famosas TurboFans utilizadas nos modelos de rally e de turismo dos anos 90 e que ao contrário do que alguns pensam, não servem só para a estética… se bem que neste projecto, é essa a única função, dado que este MK2 não circula com elas postas e as aerodisc’s servem para canalizar o ar para a jante e travagem, de forma a arrefecê-la, em condução mais intensa. E atrás destas peças temos jantes de 16 polegadas de ferro, alargadas com pneus 165/40 para aquele look stretched que tanto gostamos. Ah e já quase nos esquecíamos dos puxadores das portas, inspirados nos usados nos Porsche 911.

       Na traseira não há mais uma vez, abusos estéticos. Talvez a peça que mais se destaca é, claro, o refletor entre os dois farolins, da Team Heko. Uma peça que acentua a inspiração germânica que este projecto tem e que é muito usada em modelos da Audi e Volkswagen por essa Europa fora e que aqui acaba por acentuar a largura conseguida pelo rebaixamento e pelas jantes largas. Nesta «vista» vemos a espreitar novamente as TurboFans e claro, não ficamos indiferentes a este toque de irreverência tão bem conseguido neste projecto. Aliás, é tão notória que acabamos por enfatizar bastante estas peças, pelo facto de serem muito incomuns no nosso país.

      Chega a hora de abrir a porta e espreitar o interior. A palavra que rapidamente encontramos para o descrever é vintage. Madeira e detalhes de outra época marcam o ponto estético que aqui temos. Até o aroma é antigo, com notas de madeira e borracha bem tratada. As esteiras nos bancos, que muitos se recordam de ver nos carros dos avós ou em táxis, dão aqui um toque tão especial como acolhedor. O volante Porsche, também em madeira e a fazer conjunto com a manete de velocidades com o mesmo acabamento são outros detalhes de extrema qualidade a bordo. Não há um buraco nos bancos, uma linha puxada ou partes do forro descoladas. O interior deste Golf MK2 está imaculado e não fossemos nós a fotografá-lo na Margem Sul do Tejo, e apostamos que enganávamos muitos com estas fotografias. É um excelente local para se estar e fazer quilómetros, garantidamente!

Que ótimo local para se estar, este habitáculo!

     Fechamos a porta para mais algumas fotos do exterior. E constatamos que já temos mais de 100 fotografias mas que não conseguimos parar de premir o botão da máquina fotográfica. «Estupidamente» fotogénico é o que pensamos rapidamente enquanto procuramos novos ângulos e exploramos o cenário envolvente. Com o aumento do trânsito naquela zona, começamos a ter de mobilizar mais vezes este Golf e percebemos que temos de dar por terminada a sessão. Mas ficamos com a sensação de estarmos incompletos, não em termos de fotografia, mas sim em termos de querer privar mais com este excelente projecto. Mal podemos esperar por voltar a vê-lo, por aí em eventos ou quem sabe, numa viagem até Wörthersee.