
Duas letras e dois números. Um ícone cuja história é mais que conhecida, principalmente no mundo de quem tem os automóveis como grande paixão Um ícone que começou a espalhar o seu charme em 1983, no Japão. Um ícone com duas letras e dois números, japonês, da década de oitenta, já adivinharam? Facilmente, aposto. Falamos (ou iremos escrever, melhor «dizendo») do AE86, a quinta geração do mítico Toyota Corolla, que durante décadas deu à marca reconhecimento em fiabilidade, utilidade e baixo custo de manutenção. Mas para quem não domina o mercado japonês, o que significa então o nome AE86? A letra “A” refere-se à unidade motriz do pequeno Toyota, o “E” transcreve o modelo (a Toyota definiu internamente com a letra E os Corollas) e o “86” denomina a sexta (6) revisão da quinta geração (E80) do Corolla. Confusos?





Além da explicação para as duas letras e os dois números, há ainda mais «desviantes» na saga desta quinta geração do Toyota Corolla. Isto porque a marca nipónica decidiu desenhar duas opções de modelos para o AE86. O mais conhecido além fronteiras é o Trueno, a versão do AE86 com faróis escamoteáveis que ficou mundialmente conhecida depois da banda desenhada Initial-D surgir em 1995 e ser mostrada na televisão anos mais tarde. A história resume-se a um jovem que entrega tofu, Takumi Fujiwara, num Trueno GT-APEX (AE86) pertencente ao seu pai, através de estradas de montanha, denominadas Touge. A série teve imenso sucesso e a versão de televisão ainda mais, com o contributo precioso de Keiichi Tsuchiya, um assumido viciado no AE86 e que se tornou globalmente conhecido pelas suas demonstrações de drifting (condução que utiliza a perícia da derrapagem como forma de descrever as curvas).



Mas além da versão Trueno, existe ainda o Levin, a versão do AE86 com faróis fixos (e que vos trazemos neste artigo, conforme já repararam). Além destes dois, ainda houve derivações consoante os mercados e os motores que equipavam os coupés mas com menores números de venda (AE85 e o AE82 – de tracção dianteira já). Estiveram em produção de 1983 até 1987, tendo sido substituído pelo AE92 mas apesar do curto período de produção, o seu sucesso estava garantido, anos mais tarde.
Historicamente instalados, há outra pergunta a que nos propusemos responder: porque razão em pleno século XXI, o AE86 (ou Hachi-Roku – japonês para oitenta e seis) se mantém tão popular e com uma procura crescente? Em primeiro lugar, a paixão pelo modelo. E se há algo com que nos revemos na All Wheels Photography é com a paixão automóvel. Logo era questão de tempo até conseguirmos deitar as mãos (ou as lentes) a um modelo com importância histórica como o AE86. Depois, há também o factor dinâmico, pois o pequeno AE86 com uma distribuição de pesos de 50% em cada eixo, motor pequeno mas altamente rotativo e claro, o factor da tracção traseira, era uma diversão de ser conduzido por estradas sinuosas. A tudo isto, se lhe juntarmos a já referida baixa manutenção e equipamento de época, temos um modelo que facilmente obtém a conotação de clássico em valorização e consequentemente, a grande procura que referimos anteriormente.

O «nosso» AE86, com matrícula de 1987 (já dos últimos a serem comercializados) conta com o motor 4age de 16v, 1600cc DOHC de 124 cavalos mas com alguns ajustes, claro. Conta com velas TRD, colectores 4-1 (feitos na AutoRacing) que derivam numa simpática linha em inox de 55mm, oil catch can da D1 e mais umas pequenas modificações que aumentam a «alma» deste AE86, a que muitos chamam «Panda» pela sua confguração branca e preta. A tracção traseira é alimentada por uma caixa de 5 velocidades bem escalonada e de relações curtas que aumenta a adrenalina quando conduzido no limite, auxiliada pelo volante do motor da Quaife, pela barra Whiteline e ainda pelos ajustes na suspensão, constituída por amortecedores Koni e molas Apex (suspensão preparada na conhecida casa de amortecedores Jorge Amortecedores).

Tudo isto ajuda à dinâmica apurada do AE86 mas há ainda uma pequena peça que faz maravilhas e permite que quem conduz o pequeno Corolla não acabe abraçado a uma árvore – falamos do autoblocante Kaaz 2Way LSD, que facilita o controlo da entrega da potência para as rodas traseiras e é especialmente utilizado em veículos preparados para o drifting.




Depois do motor, passemos para o interior. Abrir a porta e olhar para o interior de um ícone como este é um momento sempre interessante de uma sessão fotográfica. Sentamos dentro do habitáculo, um misto de adrenalina e nostalgia surge e a vontade de ir para a Arrábida (relativamente perto do local das fotos, até) é mais que muita. Mas o pequeno AE86 ainda tinha centenas de quilómetros para fazer, pelo que a diversão ao volante terá de ficar para outro dia. O que não fica para outro dia são as restantes fotos e no interior, há factores de interesse, claro. O principal é o volante de três braços da OMP, modelo Corsica e que cai na perfeição no interior clássico deste japonês. Os bancos, já desgastados pelo tempo, não perdem a compostura e capacidade de reter o condutor e o passageiro em incursões mais «desportivas» ao longo das curvas das nossas estradas. Conta-nos o Marco que em breve todo o interior levará uma série de upgrades e será alvo de restauro e com base no que nos disse, ficámos em «pulgas» para ver esse trabalho realizado.



Saímos, fechamos a porta com aquele ímpeto necessário num automóvel clássico e continuamos as fotos do exterior. A frente do «nosso» Corolla, com os seus faróis fixos até dispensava o lettering Levin, depois de toda a explicação dada, mas é a assinatura que compõe esta frente, juntamente com a grelha da versão japonesa que engloba os faróis de nevoeiro. Os piscas e os sidemarkers juntamente com a pequena fita de reboque da Takata são outros pormenores que marcam este AE86 e lhe atribuem carisma, desportividade e ao mesmo tempo, conotação histórica.


Percorrendo a lateral, notamos logo a colecção de autocolantes no vidro traseiro, de eventos e grupos de amigos, importantes para contar a história deste Levin. Além dos stickers o perfil deste automóvel fica marcado pelas saias laterais da TRD que apesar de réplicas, cumprem na perfeição o factor estético na lateral principalmente pelo facto de estarem pintadas de preto, o que acentua o tal aspecto de «panda». Nas extremidades desta saia lateral, estão as bonitas jantes SSR Longchamps XR4 em 14 polegadas, com maior largura no eixo posterior, obviamente.





De olhos cheios com as linhas deste coupé, passamos à traseira. O lettering não deixa os menos conhecedores na dúvida, trata-se de um Corolla. O aileron em preto a combinar com a porção inferior do pára-choques fazem um contraste perfeito com a carroçaria branca e claro, a espreitar na parte esquerda do mesmo, a parte final da bonita (e ruidosa q.b.) linha em inox já mencionada anteriormente. No geral, é um veículo que apesar dos anos que tem e do aspecto mais «quadrado», típico da década de oitenta, continua actualizado, principalmente pela imensa procura que tem tido.




E «procura» é a palavra-chave para a história do Marco com o seu AE86. Antes de rumarem a norte, o dono orgulhoso deste Levin conta-nos a história que o levou até ele. Estava a tirar a carta e o lado petrolhead já comandava algumas decisões, nomeadamente na escolha do seu automóvel. Ainda sem o documento legal para conduzir em sua posse, procurou automóveis clássicos e foram vários os visados na pesquisa: BMW M3 (E30 e E36) e Ford Sierra Cosworth, por exemplo mas o Toyota AE86 sempre encabeçou a sua lista de preferidos e não descansou enquanto não encontrou o exemplar perfeito para ele. Numa pesquisa online, às 3h da madrugada, o Marco encontrou este Levin, em Lisboa e «arrastou» o seu pai até à capital para ver e experimentar o carro. O primeiro olhar para o seu AE foi em frente ao Centro Comercial Vasco da Gama e depois de um pequeno teste de condução ao mesmo, adquiriram-no e daí até à primeira incursão em pista foi um «saltinho», com a participação num trackday organizado pela Gentleman Drivers no Autódromo Vasco Sameiro em Braga.




6 anos depois da aquisição e com os altos e baixos de uma manutenção de um veículo clássico o Marco refere estar na posição de dizer que nunca se irá desfazer do seu Levin, pois até agora, nunca o desapontou e foi o cumprir de um sonho. A paixão pelo automóvel fala mais alto e o dono deste AE86 prepara-se para gastar mais uns euros na recuperação que falámos anteriormente e também numa nova pintura, nova suspensão e mais umas surpresas que contamos poder mostrar em breve.
Despedimo-nos do Marco e do seu AE86 e não resistirmos a tirar uma fotografia em andamento. Um dia em grande, que acabou da melhor maneira, com uma sessão fotográfica que nos deixa de alma e coração cheio por podermos continuar a partilhar estas histórias e claro, por podermos dar a importância que os «nossos» automóveis merecem. Até breve, hachilover.
