The Yellow Green M3

     Voltámos! Depois de algumas semanas sem escrever nada, sem mostrar novos artigos, regressamos a este formato e confessamos que já tínhamos saudades. Nem sabemos bem explicar o porquê da pausa, pois não é certamente por falta de «material» para publicar, dado que andamos a dever já bastantes artigos. Com o nosso site parado na sua transição para outro dominío, acabamos por perder um pouco o embalo, se assim lhe pudemos chamar, no que toca a artigos novos, não pela impossibilidade de o fazer, mas pela limitação quando publicados. Ainda assim, não nos esmorece a vontade que temos em partilhar convosco mais um capítulo da nossa «história» automobilística, enquanto meros curiosos e fãs dos veículos que circulam nas nossas estradas.

      Com as fotos que colocamos até agora, já perceberam que estamos perante um dos desportivos mais emblemáticos dos últimos anos, especialmente pela irreverência do design frontal que merece muitas críticas e más avaliações. Mas tal como escrevemos no artigo do M4 (aquele que foi dos primeiros, se não o primeiro M4 a circular em PT, desta nova geração), voltamos à defesa do desenho e da estética deste M3 geração G80, que acaba por nos enraizar a irreverência e acabamos por gostar. Já dizia o ditado «primeiro estranha-se, depois entranha-se». Talvez para isso contribua o facto de estar a ser um veículo com muito sucesso e ser visto com alguma frequência em eventos e na via pública. Assim, com o aumento das «visualizações», acabamos por nos habituar.

 

      Mas vamos a factos, que sobre a parte estética escreveremos mais à frente. Com a pegada ecológica a preocupar cada vez mais os fabricantes e os compradores, as diversas opções de desportivos, que eram vastas na última década, começam a rarear. Atualmente os desportivos familiares estão a cair em desuso e os que existem acabam por estar limitados. Esta sexta geração de M3 vem lutar num segmento onde tem tudo para reinar. Os seus principais concorrentes estão adormecidos e pouco apelativos, basta ver que o RS4 da Audi não é fantástico, o Guilia Quadrifoglio já tem alguns anos de mercado e o C63 que estava na calha é basicamente, castrado nos seus cilindros e trás um motor hibridado. Nada contra, mas as esperanças estão mesmo depositadas no M3 (e no M4) e a BMW sabe disso, tanto que optou por lançar uma linhagem de modelos elétricos mais desportivos para contrariar as emissões globais da marca. Uma jogada de mestre, digamos.

       Novamente a utilizar motor de 6 cilindros em linha, tal como os seus antecessores (excepto na geração E90 em que o M3 utilizou um V8 infernal (no bom sentido), este G80 utiliza tal como o predecessor um bi-turbo associado a tracção traseira (embora atualmente já possa ser adquirido com tracção integral (uma heresia para alguns) melhorando os tempos dos 0-100 km/h e claro, o dinamismo ao volante. E à parte da carroçaria de 4 portas e do referido sobre a mecânica, é a única coisa que herdou da geração anterior para este G80. Associado a este pacote herdado, temos agora uma caixa automática de 8 velocidades (sendo que o M3 normal – não Competition – pode trazer caixa manual de 6 velocidades) que permite que este M3 seja um dos mais prazerosos desportivos familiares no mercado, mesmo quando comparado com modelos mais caros (como o Panamera, por exemplo).

Uma simples mudança de lente e a alteração da cor é bastante visivel.

 

      Mas não somos uma marca que faz testes a automóveis – para isso, deixamos o vídeo da Razão Automóvel no final do artigo – e seguimos com a nossa análise que acaba por ser a trademark que gostamos de seguir. Agora, vamos fazer um exercício: abstraiam-se das grandes grelhas frontais e da irreverência de alguns detalhes, e apreciem o geral. É bonito. Vá, concentrem-se mais um pouco. Este então, numa cor muito pouco consensual mas que resulta tão bem, o chamado São Paulo Yellow (sim é amarelo e não verde) e com uma suspensão alterada e umas jantes WheelForce que lhe assenta tão bem. Mas vamos por partes, que é bem mais porreiro de o fazer. A tal grelha bifurcada, vertical e de generosas dimensões encerra uma beleza que não está ainda cimentada para todos. A matrícula acaba por enganar um pouco e por harmonizar a estética desta zona. Os faróis esguios, full led e com uma iluminação fora de série, são responsáveis por nos distrair o olhar. Depois temos entradas de ar, com carbono e todas elas funcionais, que ajudam ao apurar da dinâmica que é um fator a ter em conta neste M3. O facto de estar rebaixado também ajuda ao engodo visual que este amarelo-verde nos faz, atraindo-nos e seduzindo-nos a cada minuto que passa.

       O que é facto é que entramos na DocDetail com alguma reticência sobre o visual deste G80, mas saímos de lá completamente rendidos e apaixonados. O rebaixamento com suspensão adaptativa e coilovers totalmente adaptado a este chassis e as fantásticas jantes completam o visual muito desportivo que este M3 tem. Se já tem uma postura desportiva quando de origem, assim com estas simples alterações assume uma postura irrepreensível. A dúvida que tivemos ao escrever este artigo e quando o terminávamos foi mesmo saber se o colocávamos na secção de projectos ou da era moderna, dado que estas duas pequenas alterações podem ou não ser entendidas como importantes e essenciais. Mas dado que foi mesmo só isso e principalmente, queremos falar do M3 G80 enquanto desportivo e não enquanto projecto, ficamos pela secção onde estamos.

      A traseira acaba por ser a secção onde rapidamente notamos duas coisas: que o M3 envelhece bem, mas que não envelhece o suficiente entre cada geração. É rapidamente reconhecível e mantém dois ou três componentes que não deixam ninguém indiferente e que facilmente nos recordamos que estamos perante um desportivo que já está no mercado desde 1986. Receita fácil: quatro saídas de escape, emparelhadas, difusor em carbono e um lip também em carbono no topo da tampa da bagageira. Parece fácil, mas os designers da marca bávara aprofundaram esta zona para que não fosse uma simples evolução da anterior geração, com os farolins em led também e os reflectores verticais nas extremidades do pára-choques. As vistosa panela de escape espreita por baixo do difusor seja em que ângulo for e ainda bem que assim é, pois a maioria dos modelos atuais simulam as saídas de escape, uma verdadeira afronta para os petrolheads.

     Já o interior é o típico BMW. Muita qualidade a bordo, com alcântara e carbono um pouco por todo o lado, com contrastes muito interessantes. Esta unidade tem o mesmo tom do exterior no interior, aliado ao azul mónaco que nos remete para modelos mais antigos. Aliás, ao abrir a porta percebemos que este desportivo tem tudo no sítio. A irreverência do tablier em pele azul na parte interior e com pespontos da mesma cor na zona superior, o volante pequeno mas de pega perfeita alia-se à direcção elétrica para um feeling perfeito. E o que dizer das fantásticas baquets, abertas na lateral, tal como o M5 CS que fotografamos também para a DocDetail, que nos envolvem e ao mesmo tempo nos transmite um conforto singular e difícil de superar. Azul, verde e preto, com carbono, alcântara, pele e muita tecnologia. É assim que podemos resumir o interior deste M3 Competition.

     Mas há mais. Ecrãs com definição fenomenal, com inúmeros menus M e com capacidade de gerir todo o veiculo com um simples botão são características deste M3 G80. Além disso, temos tudo à mão, principalmente no volante onde as patilhas M1 e M2 têm a mesma função que no M5, guardando em memória determinados setups de condução. No banco traseiro sentam-se 3 adultos… supostamente, pois a arquitectura dos mesmos apenas torna esta zona confortável para dois adultos. Mas isso não belisca o conforto a bordo e é algo que já vem de trás, pois todos os modelos da BMW acabam por sair limitados neste sentido, devido ao sistema de tracção traseira. Mas é mesmo a única coisa que podemos dizer de menos bom no habitáculo deste M3. Foi difícil de sair deste interior, honestamente. Arranjávamos sempre detalhes para fotografar, zonas pala explorar e pormenores para analisar. Mas fechamos a porta e fazemos mais umas fotografias do exterior.

       O espaço da DocDetail permite fazer umas fotografias engraçadas, apesar de ser indoor. E que nos conhece sabe que não somos particularmente fãs de fotografia de interior, principalmente por gostarmos de explorar o ambiente envolvente e utilizar os desfoques e ângulos que se torna mais difícil num espaço confinado. Mas o armazém/loja/empresa (como preferirem) da DocDetail dá para algo engraçado e que vos trazemos aqui. Principalmente porque temos a vantagem de, depois de detalhado intensamente como foi este M3, não se sujar na via publica. Não há pó, não há pneus sujos, nem reflexos de outras pessoas ou de carros. Somos nós e o automóvel, numa sincronia que apenas é interrompida pela necessidade de mudar este M3 de posição. O espaço branco, luminoso, higiénico ajuda à compostura da fotografia e dá um ar de «bloco operatório» que no caso, acaba por resultar tão bem.

       Já vamos adiantados no texto. E sentimos que acabamos por escrever muito e dizer pouco. Mas este M3 fala por si, através das fotografias. É um desportivo familiar, possante, potente e dinamicamente irrepreensível. Esteticamente é algo que nem todos gostam, mas podemos afirmar que depois de um par de horas de admirar e fotografar este M3, acabamos por ficar apaixonados por ele. Talvez a cor, o ajuste da suspensão e as vistosas jantes ajudem, mas mesmo de origem, como já vimos na via pública, resulta. Deixamos agora o vídeo de análise de um modelo semelhantes, pelas mãos do Guilherme Costa, da RA que vos ajuda a compreender a nossa análise e ver o dinamismo deste brilhante modelo M. Conclusão final: ignorem a grelha porque o que está atrás da mesma traduz-se como um das melhores berlinas desportivas de sempre.