The Speedy

     Quando o assunto automobilístico tem o emblema Opel, nós sorrimos. Sabemos que há muita malta que olha para a marca alemã com desdém e desprezo e que vêm os modelos dessa marca como meros veículos de transporte, sem sal, sem interesse e especialmente, sem fiabilidade. A par com as histórias muito pouco dignas que sobrevoam a Fiat ou a Alfa Romeo, por exemplo, também a Opel padece dessa «fama» sem o proveito honestamente. Quem nos segue sabe (ou talvez não) que aqui por «casa» ambos os carros da malta que está por detrás do nome AWP são Opel, ambos de carácter desportivo, ambos com motores 1.6 Turbo e ambos com a alcunha de pocket rocket. Assim, quando nos convidam para ir espreitar um veículo interessante da marca do relâmpago, nós vamos de sorriso na cara e com curiosidade, especialmente porque quando lemos as mensagens no Whatsapp, já sabíamos que íamos ter um Opel Speedster ao dispor uma tarde inteira.

      E se a nossa curiosidade já era muita, mais aguçada ficou quando abrimos a porta deste Opel na Garagem_87 onde estava para ser detalhado e percebemos que se tratava da versão Turbo, equipada com o interessante e potente 2.0 Turbo da GM, que debita 200 cavalos (220 na versão inglesa, o VX220). E antes de vos contarmos um pouco do que é andar com este Speedy, temos de vos relembrar as origens deste Opel. Como sabem, a marca alemã não é, por natureza, uma exemplar construtora de automóveis desportivos. Contudo, tem no seu palmarés modelos de excelência e que hoje são tidos como alguns dos melhores da sua época. Recordam-se do Opel GT, por exemplo… ou do Omega, com a sua versão Lotus ou EVO 500. Temos ainda a sigla GSi e mais recentemente, OPC. Todos eles são, de uma forma ou de outra, merecedores de destaque na história automóvel da marca e devem ser tidos em conta quando se fala de modelos marcantes, no carácter desportivo em que se inserem. Mas sem ser o tal Opel GT (que a Opel depois re-lançou, décadas de pois, sem grande sucesso), a marca alemã não tinha no seu catálogo um modelo verdadeiramente desportivo.

      Mas enquadremos isto na história, pois vale a pena. No final do século XX a Lotus gozava de um grande boom comercial com o lançamento do seu Lotus Elise, um veículo barato de construir, com um motor simples, fiável e robusto, manutenção fácil e claro, com uma estética interessante e uma condução arrebatadora. Aliás, depois do desaire que foi o Lotus Elan, a marca inglesa precisava de um milagre, que chegou com o nome Elise. A primeira geração vendeu bem, aliás tão bem que nem o CEO da marca na altura acreditava; iludida pelo sucesso dessa primeira geração, a marca, já adquirida pela GM, resolve lançar-se numa segunda geração do seu desportivo de dois lugares mas como o nível monetário da marca inglesa não era a melhor, acertaram detalhes com a GM de construírem dois modelos em simultâneo, na mesma linha de montagem e que compartilhassem vários componentes.

Este Speedster é um verdadeiro carro para amantes de carros.

      

           E assim nascia o Opel Speedster, um desportivo de chassis e componentes britânicos, estética alemã e com um motor que se veio a revelar bastante interessante e necessário no seio da Opel. No final do ano 2000, a Lotus começava a construir os Speedster e os VX220 a par do Elise de segunda geração, sendo os modelos da GM os primeiros a serem comercializados, seguidos rapidamente pelo modelo da marca britânica. Mas não é por partilharem a mesma linha de montagem e a mesma origem de investimento que o Speedster e o Elise são iguais, embora a filosofia seja semelhante: motor central, tracção traseira, distância curta entre eixos e baixo peso. E tudo isto, por si só, é como já sabemos, receita de sucesso no mundo dos automóveis, provando que mais do que a potência, é o peso e a forma como o carro se constrói que importa.

Por muito que o escondemos, dá sempre nas vistas, mesmo neste tom «nardo grey».

         E o «nosso» Speedy? O nosso pequeno diabrete de quatro rodas não era a versão base, ainda por cima. Não, é a versão mais potente, com o motor 2.0 Turbo de 200 cavalos, ao invés do 2.2 atmosférico de 145 cavalos. Mas todo o resto é semelhante; a construção, o equipamento (ou falta dele), a leveza e a forma como se conduz, apenas muda a força com que este Opel te empurra e agita no banco à medida que conduzes. Apesar de apenas cerca de 10% dos componentes serem partilhados entre o Elise e o Speedster, ainda hoje são vistos como meios-irmãos embora o Lotus tenha melhor conotação enquanto desportivo, algo que acreditamos ter a ver com o símbolo que o Speedster ostenta. Apesar de ambos excelentes e do Opel ter um valor de venda mais aceitável, não vendeu particularmente bem e em 2005 o último Speedster saia da linha de montagem. Apesar disso, a Opel não desistiu e cerca de 2 anos depois, usou o caminho mais fácil para re-introduzir um dois-lugares desportivo na sua linhagem de modelos, o Opel GT (na esperança que o nome fizesse surgir paixões antigas com o seu primeiro desportivo). Na prática, o Opel GT de 2007 era apenas um re-badge do americano Saturn Sky, um modelo descapotável de motor frontal, tracção traseira e linhas inspiradas no Corvette.

Pára-choques à parte? Não precisa... poupa-se peso e fica mais agradável à vista. Tudo foi pensado para a leveza deste Opel.

      Arrancámos da Garagem 87 rumo ao local das fotografias, debaixo de um calor bastante intenso. Mas como era a nossa primeira viagem no Speedster, não tirámos a capota, algo que posteriormente teve de ser feito, porque o calor num habitáculo onde não há ar condicionado e onde o espaço é diminuto rapidamente começa a incomodar. Rumámos pela auto-estrada e tivemos a primeira dose de realidade do que é conduzir um automóvel como este no trânsito: interessante. Será a palavra correcta? Bem… na autoestrada a sensação que temos é que a traseira vai aos saltos, vai solta. Mas na realidade não vai, mas a ideia passa pelo facto de ter o eixo traseiro mais largo que o da frente e ao olhar pelos espelhos, essa ilusão aumenta ainda mais. Ultrapassar, especialmente carrinhas e camiões também é algo bastante diferente do habitual pois vamos literalmente sentados no chão e as rodas passam-nos na altura da cabeça. É único, no mínimo.

      Chegados ao local, exploramos bem este Opel. O exterior quadrado, sem excessos, sem abusos aerodinâmicos mostra bem a filosofia deste carro. Os pára-choques tanto na frente como atrás são alinhados com a carroçaria e até parecem não existir, de forma a minimizar o atrito e o arrasto aerodinâmico. Não há grandes asas ou proeminências, apenas um pequeno spoiler atrás, logo depois do capot do motor. Os faróis e farolins, de fundo preto, também têm um formato mais «quadradão» para acompanhar as linhas do carro. Afastamo-nos um pouco do carro e apreciamos o que ali tínhamos para fotografar e assim é que nos apercebemos o quão pequeno é este carro e compreendemos o propósito da sua construção. Não foi para enriquecer a marca, não foi para entrar numa competição com marcas rivais, foi mesmo para dar a oportunidade de alguns felizardos condutores terem acesso a um carro feito para conduzir.

      Não há ajudas eletrónicas, não há controlo de tracção ou de estabilidade. É tudo visceral e completamente analógico e transporta-nos ao passado rapidamente, pois são 200 cavalos num eixo traseiro, com o motor a rosnar atrás da nossa cabeça e com os uivos do turbo a ouvirem-se em cada passagem de caixa. E por falar em caixa, a deste Opel é precisa, é dura, é mecânica. Ouve-se cada passagem (e sente-se na mão também) e pede para conduzirmos rápido, sempre no limite. É um autêntico kart de estrada, maior e mais potente. Mas também no interior as coisas continuam espartanas e simples.

      Na viagem de retorno, tirámos a capota e arrumámo-la no porta-luvas, perdão, bagageira que fica junto ao motor e que se acede pela mesma tampa que o mesmo. Mas não é assim tão pequeno esse compartimento que até conseguimos colocar lá as nossas duas malas e os tapa-matrículas, que aproveitamos já para agradecer à Lok!U pelos mesmos, que já os utilizámos antes mas tínhamos falhado neste agradecimento. Foi com um misto de satisfação e tristeza que entregámos o Opel Speedster ao Eduardo da Garagem 87. Satisfação porque, bem não vamos mentir, ao preço que anda a gasolina, andar mesmo que seja devagar com este pequeno diabrete sai caro. Além do calor que se fazia sentir e do desconforto ao volante. Mas ao mesmo tempo a tristeza de entregar um pedaço da história da marca alemã, que no meio dos carros aborrecidos para famílias e jovens da faculdade, fizeram um verdadeiro carro, uma epítome sobre rodas, uma ode à condução pura e íntegra.

      Este Opel Speedster Turbo consegue aliar num chassis brilhante um motor redondo, cheio e que faz excelente uso do turbo para entregar potência numa boa margem de rotações. É desconfortável, barulhento, quente e impróprio para pessoas com artroses ou problemas de coluna, mas é ao mesmo tempo capaz de entregar uma experiência de condução ímpar. Se gostam de conduzir, se gostam de sentir a adrenalina de algo tão natural com quatro rodas e um volante, este carro tem de vos passar pelas mãos. Mas antes, vejam a meteorologia e se virem que é necessário, tomem algo para as dores de costas!