
Sleeper. Não, não é algo que seja sonolento ou provoque sono. E também não é nenhum medicamento em testes para as insónias. Não, é a designação para um projecto com aspecto sóbrio e elegante mas com um coração pulsante, cheio de potência e força. Basicamente, é aquilo a que chamamos lobo em pele de cordeiro. Mas não se deixem enganar pelo aspecto elegante e até clássico deste Corsa, tudo o que foi feito neste projecto serve para aumentar a eficácia e dinãmica do pequeno utilitário da Opel.



A Opel entrou no mercado concorrido dos pequenos compactos no final da década de 70, com um projecto inovador mas largamente inspirado no pequeno familiar Kadett. Numa Europa marcada pelo aumento do preço dos combustíveis e pelo maior congestionamento, o povo europeu começou a escolher veículos mais pequenos, compactos e económicos, mas ainda capazes de transportar uma família confortavelmente mesmo em viagens mais longas.




Decerto que todos já conhecem a origem do nome «Corsa», do italiano corsa – corrida, mas a escolha deste nome para o pequeno utilitário da General Motors era mais uma arma de marketing do que propriamente uma «aula de publicidade», pois nenhum dos primeiros Corsas eram propriamente rápidos ou aptos para corridas. Claro que mais tarde surgiram modelos rápidos como os GT e o Gsi, que já permitem maiores aventuras e uma condução mais desportiva e envolvente. Mas não é desses modelos que aqui iremos falar (ficam para um artigo em breve, na All Wheels Photography).




Hoje trazemos uma das versões mais completas e bem equipadas dos Corsa A mark I (ou primeira geração), a Luxus. Sim, como o próprio nome indica, tinha mais luxo interior e melhores acabamentos. Sim, vocês sabem que adoramos ouvir os nossos amigos a falarem dos seus automóveis e este caso não é excepção. O Rafael apaixonou-se pelo modelo A do Corsa em 2010, quando recebeu de oferta um A 1.0 MK2, que claro, não ficou stock muito tempo. Tanto mecânica como esteticamente, o primeiro Corsa A do Rafael levou todos os extras disponíveis na época, como por exemplo o kit Gsi, quadrante digital e o motor do Calibra 2.0. Mais tarde, quando o desmontou para restaurar a pintura, descobriu bastantes defeitos e problemas na carroçaria, a ponto de não ser recuperável economicamente, o que o levou a procurar uma nova carroçaria, dado que o resto estava em excelentes condições. Surge o Luxus que aqui vos trazemos, em excelente estado, de 1 de Janeiro de 1984, portanto mais velho do que qualquer um de nós na AWP. Apesar de passar de um MK2 «full extras» para um MK1 básico, a paixão pelo modelo leva-o a prepará-lo como aqui o mostramos e que mais tarde iremos falar em maior detalhe.


Ao longo dos anos, a Opel criou vários modelos desportivos e desenvolveu equipas em várias áreas do automobilismo, como o Rali, o DTM e campeonatos monomarca, através da sub-marca OPC (Opel Performance Center) que apimenta vários modelos da marca germânica e lhes confere uma alma desportiva ímpar. Agora a questão que vocês colocam é o porquê de estarmos a fazer menção à secção desportiva da Opel num artigo de um modelo da década de 80. Mais à frente, quando abrirmos o capot deste Corsa A, irão perceber!

O pequeno Corsa desta sessão é um exemplo perfeito e raro do que pode ser feito numa base como esta. Com uma carroçaria compacta e quadrada, tipicamente anos 80, o projecto pode enveredar por várias áreas, desde o race style ao eurolook, uma versão mais OEM+ ou mesmo focado para a performance apenas. Mas não, o nosso A encaminhou-se para algo extremamente raro no nosso país, devido principalmente à legislação vigente em Portugal. Apesar de ser algo mais comum noutros países, os engine swap vão surgindo por cá, mas sempre com semelhanças entre o veículo em si e o motor a transplantar. Usualmente, colocam-se motores novos por o anterior ter cedido ou apenas para aumentar a potência e economia do automóvel mas transplantes de coração como o que aqui vos trazemos é algo pouco comum mas felizmente a AWP foi chamada a registar em fotografia este excelente projecto.


O Rafael, jovem já bem experiente na área da modificação automóvel, encontrou neste Corsa uma base interessante para o que pretendia fazer. Esteticamente pouco alterado, foi no restauro e nas peças OEM que o dono deste automóvel apostou. Todo o carro foi devidamente preparado para a nova pintura, tendo sido totalmente desmontado, ficando com o metal a nú para que a recuperação fosse feita como deve ser. Sem ferrugens ou áreas a necessitar de intervenção, este Corsa foi pintado num tom de cinza que se encontrava no catálogo da marca na altura em que podia ser comprado novo, na Opel. Continuando a olhar para o exterior, observamos que até os frisos e lettering são os originais. O Rafael não procurou desvirtuar ou modificar a estética deste A, mas sim preservar as suas linhas «quadradonas» e detalhes como há mais de 30 anos.
Apesar do carro ser de 1984, a chapa não precisou de grandes intervenções e permitiu ao seu dono fazer tudo em casa, poupando algum dinheiro em mão-de-obra numa oficina de pintura. Além do bom estado de conservação, outro dos factores que fez com que o exterior se mantivesse como de origem foi o facto de se tratar de um mark I, esteticamente mais raro e mais exclusivo, principalmente quando nos referimos a veículos alterados.








Abrimos a porta para vermos o interior e… lá está, entramos numa década distante, em que eramos pequenas crianças. O tablier quadrado, compacto, com instrumentação de simples leitura e facilmente acessível, é um cartão de visita inimitável nos dias que correm. O volante ainda com o símbolo antigo da Opel no centro, em preto, contrasta com o vermelho dos bancos e das forras das portas e estranhamente, funciona muito bem. Estamos habituados a interiores escuros, sóbrios e monocromáticos neste tipo de veículos, mas aqui fomos agradavelmente surpreendidos. Sentamo-nos ao volante para algumas fotos e somos invadidos pelo aroma a carro clássico, e no caso de um dos membros da AWP, há logo memórias de infância que surgem e que facilitam e inspiram para as fotos restantes.







E já que estamos no interior, puxamos a alavanca que abre o capot e onde reside a grande modificação deste Corsa e o que realmente salta à vista e nos faz afirmar que é um dos projectos nacionais mais interessantes actualmente. A tampa do motor em arden blue com o logo OPC não engana: estamos na presença de um motor que não é deste Corsa A! Tal como já falamos antes, o termo sleeper ganha aqui a sua justificação e nada melhor que manter as «coisas» em casa, usando um motor da divisão desportiva OPC. Neste caso específico, o coração do Corsa é proveniente de um Opel Astra G OPC, o chamado X20XER 2000cc 16v de 163 cv, adaptado e ajustado ao chassis e menor cofre de motor do Corsa A. Depois de fecharmos o capot e olhamos novamente para o perfil deste Corsa A, sorrimos ao pensar que por fora é um «simples» Opel Corsa, mas que no seu interior esconde um motor potente, interessante e acima de tudo, desafiante quer de colocar, quer de desenvolver e optimizar. E estando nós a olhar para este A, observamos que a suspensão foi trabalhada para suportar o novo motor, contando agora com uns coilovers KW V1 regulados e adaptados quer à nova motorização, quer à tipologia de condução do Rafael.



Continuando no exterior, não podemos deixar de falar das jantes que equipam este pequeno compacto da década de oitenta. As bonitas BBS RM012 de 15” em 6,5 e 7,5 na frente e atrás, respectivamente, escondem a travagem de 256 mm e rematam com classe o aspecto clássico deste Corsa e ao mesmo tempo moderniza ligeramente o automóvel em si. Perante a temática deste Corsa, em que o antigo encontra o moderno, numa perfeita conjugação e co-existência, não é de estranhar que tenhamos escolhido a belíssima zona de Monsanto para as fotos. O verde do bosque de Monsanto contrasta diariamente com a vida moderna e com a zona urbanizada de Lisboa, visivel entre as árvores da zona onde nos encontrávamos.






Sem dúvida que é um excelente local para se acabar um dia de trabalho. Respirar ar puro enquanto se tira fotografias a um projecto tão único e cativante como este é uma mais valia para nós na AWP. Nem as rolling shots faltaram nesta sessão, claro. Aproveitando o sol mais baixo que espreita entre as árvores para criar aquele ambiente de calmaria e serenidade que tanto gostamos e que ilumina, com uma cor alaranjada, na perfeição este Opel Corsa.
