The Godzilla

    Há momentos da vida que devemos recordar de uma maneira diferente das restantes. Normalmente esses momentos estão reservados para o casamento, para o nascimento de um filho ou, talvez a sua formatura. Mas nós, aqueles rapazes e raparigas que adoram veículos e em especial os automóveis, aqueles chamados de Petrolheads juntamos a esses momentos outros relacionados com as quatro rodas. E qualquer Petrolhead que se preze tem nos automóveis japoneses um determinado conjunto de modelos que adora, que aplaude e que o faz vibrar quando os vê. Mas claramente que um dos mais desejados é o Skyline, em especial os modelos GTR. E já perceberam que aqui trazemos um R34, talvez dos mais conhecidos a envergar a sigla GTR.

    Espreitem as fotos. Sim, estas fotos são fruto de mais uma parceria, novamente confiada ao Fábio Caetano que já trabalhou connosco antes. Ora o Fábio e a sua namorada Jess viveram o sonho de todos nós ao passar uns dias no Japão com um GTR R34 nas mãos, com o qual conheceram o país, a sua cultura social e automóvel, participaram em encontros, percorreram algumas das mais míticas estradas e claro, viveram a verdadeira cultura japonesa em redor do exótico, do exibicionismo e do show-off que tanto caracteriza o povo nipónico. E se há área onde eles se manifestam, é mesmo na área automóvel.

O famoso RB26DETT que tanto carro já «fez feliz».

    Mas estamos aqui para falar do GTR R34. A geração 34 do GTR foi aperfeiçoada durante 11 anos de competição, onde o sector mecânico e tecnológico foi sendo alterado e desenvolvido de forma a figurar no R34. Apesar do R33 ter sido um dos mais bem sucedidos Nissan Coupe de sempre, o R34 veio roubar a ribalta com novidades debaixo do capôt e no habitáculo. Do ponto de vista mecânico o grande destaque vai para os dois turbos cerâmicos que conseguem eliminar em grande parte o chamado turbo-lag o que faz com que os 330 cavalos debitados pelo RB26DETT se façam sentir muito bem, com melhor entrega de binário e um limite rotacional de entrega das 6800 rpm’s. Um motor resistente, com um nível de evolução enorme e com uma capacidade de triplicar a sua potência, se for preciso, de forma fiável e com «alguma» facilidade.

     O R34 é um verdadeiro carro de corrida legal e de estrada e temos de nos lembrar que embora nos dias de hoje estes valores não sejam nenhuma loucura, há 20 anos atrás eram consideráveis, ainda para mais se pensarmos na evolução da forma como esta potência era conseguida (afinação electrónica e dois turbos). Os seis cilindros em linha com quatro válvulas por cilindro casam na perfeição com a caixa de velocidades curta de 6 velocidades GeTrag e com a afinação aerodinâmica herdada da competição, como já tínhamos referido. Mas há mais para falar do R34 que o seu coração.

     Mas olhem bem para este carro. Os detalhes estéticos são todos eles virados para a competição, para a potência entregue, para a condução. A frente conta com generosas entradas de ar para arrefecer os dois turbos, o grande 6-cilindros e toda a instalação eléctrica e informática deste Skyline. A meio da grelha destaca-se o GTR, a sigla mágica e que nos faz suspirar e nos aumenta a pulsação. Os «ombros» deste R34 já se notam largos quando se perfila o olhar pela frente e percebe-se desde logo que este carro está feito para atacar umas estradas de montanhas, pois as jantes estão «enfiadas» para dentro, melhorando a aerodinâmica sem prejudicar a dinâmica.

    Depois, a lateral. É aqui que a imagem do GTR R34 se destaca e se tornou quase que viral. A silhueta ascendente, com o habitáculo no centro e umas «ancas» muito pronunciadas são o mote para o verdadeiro JDM-car. Apesar de mundialmente se ter tornado uma estrela ao ser o carro do Brian O’Conner na saga Velocidade Furiosa, antes dos filmes já o R34 e a suas linhas de perfil eram conhecidas e comprovadamente interessantes, tendo em conta as capas de jogos, artigos de revistas e até nos desenhos animados japoneses, os Anime. As jantes de 18 polegadas escondem (aliás, tentam esconder) os travões Brembo de 4 pistões e ventilados; As jantes além do formato esteticamente interessantes, funcionam bem como «arrefecedores» dos travões e o facto de estarem escondidas nas cavas ajuda, como já disseram, à aerodinâmica deste Skyline.

Podem não estar novas, mas estas jantes são reconhecidas em qualquer local.

     Chegamos à secção mais emblemática deste R34. Os quatro farolins formam uma assinatura nocturna única e inimitável. O logo GTR marca a presença novamente e completam a estética com a insígnia «Skyline» embutida e o grande spoiler traseiro; basicamente, as formas e conteúdos da traseira do GTR R34 são algo que se reconhece ao longe e mesmo à noite e habitam o nosso imaginário de carros de sonho.

    Começa a chover com mais intensidade junto à fábrica da Nismo e como tal, refugiamo-nos no interior. Aqui, ainda é o século XX a mostrar as suas graças com detalhes muito analógicos apesar de já contarmos com um generoso computador de bordo no topo da consola central que mostra gráficos da força G, consumos e detalhes mecânicos como a pressão do turbo, temperatura do óleo, entre outros fenómenos interessantes e importantes num carro destes. E este é o grande destaque do habitáculo do R34, juntamente com o volante da Momo de três braços e as confortáveis baquets que «gritam» por cintos de quatro pontos. Tudo neste interior está virado para o condutor, para o prazer de condução, para a adrenalina que só um GTR pode dar.

A sigla GTR está um pouco por todo o lado.

    Pode não ser o carro mais bonito do mundo nem o mais potente. Até nem é o mais sofisticado apesar de termos gráficos de desempenho, tracção integral e uma suspensão artilhada. Não é o mais rápido da sua época, embora haja poucos contemporâneos que o igualem; mas o GTR R34 é o carro mais emblemático, mais desejável e mais icónico dos últimos anos para os petrolheads da nossa faixa etária especialmente. Talvez seja o facto de ser mais exótico que muitos desportivos pois apenas foi comercializado no Japão e algumas unidades no Reino Unido. Talvez seja pela invocação directa à cultura japonesa. Talvez seja apenas e só porque é o culminar de quase 40 anos de evolução de uma sigla, de um conjunto de três letras que nos dias de hoje são respeitadas e cobiçadas por todo o mundo: G T R.