The Boss’s A8

     Pandemia, vírus, stress emocional, pânico generalizado, revolta interior… tudo o que neste momento vos assola a mente é para esquecerem neste artigo. Nós na All Wheels Photography pretendemos levar-vos para o local da sessão fotográfica, transportando-vos numa viagem de forma a esquecerem os problemas lá fora. Sabemos que não conseguimos eliminar os fatores de ansiedade e stress que nos acompanham a todos há ano e meio, mas pelo menos tentamos desligar-vos um pouco disso, imergindo numa série de fotografias e dos nossos parágrafos mais ou menos informativos. E nem vamos falar do preço dos combustíveis, que nos dá logo uma sensação de enfartamento e dor no peito. Talvez por isso seja porreiro mostrar hoje este Audi A8 TDi… não é elétrico, mas sempre é um pouco mais poupado que os últimos que temos trazido até vocês nos nossos artigos.

       Já conhecemos o João Reis há muitos anos. E sabemos que ele segue o nosso trabalho desde quase o início desta aventura de três letras – AWP. Mas fotografar em detalhe viaturas / projectos dele tem sido sempre adiado por algo. Apesar de termos conseguido «caçar» a sua Volkswagen Passat SW numa das edições do Drop’pt, foi de fugida e com pouca atenção ao detalhe. Assim, foi com a desculpa de ver este fantástico Audi que o convencemos a vir até à margem sul para conseguirmos espreitar um verdadeiro automóvel de luxo, digo de um presidente, de um patrão ou de um CEO de uma empresa. E o que nos espanta mais quando chegamos ao local combinado, é a imponência desta «casa sobre rodas» que é a flagship da Audi já há muitos anos. Este A8 pode não ser o mais potente W12, mas é sem dúvida um automóvel que merece ser conhecido em detalhe.

Sentimo-nos mesmo importantes ao volante deste A8.

      A Audi é conhecida pela sua qualidade e rigor de construção. A par da Mercedes-Benz e da BMW, a marca alemã dos quatro anéis coloca nas suas versões de topo sempre os melhores materiais e inovações técnicas, sendo habitual usar o A8 como mostruário das novidades que posteriormente irão introduzir nos restantes modelos, em gamas mais baixas. Aliás, o A8 é habitualmente também o automóvel mais significativo em termos de gestão da sua imagem, recorrendo ao mesmo para mostrar também as novidades estéticas na restante gama, nas gerações anteriores. Atualmente a marca prefere fazer esta jogada de marketing com os seus modelos A6 ou A4, por serem os que têm maior visibilidade e expressão de vendas globais. Contudo, o A8 continua a ser, mesmo na atual versão, o modelo mais bem apetrechado em extras, detalhes tecnológicos e claro, no conforto a bordo.

       Mas recuemos até ao ano 2000, altura em que a versão que aqui vos mostramos saiu do papel dos designers e foi aprovado pela marca como sucessor do primeiro A8 da marca. Esta segunda geração conheceu os mercados em 2002 e ficou prontamente conhecido como o mais caro Audi a produzir e desenvolver, muito graças à sua carroçaria em alumínio reforçado e às inúmeras inovações nele incluído. Mostrado ao público no Salão de Frankfurt em 2001 como o conceptcar Avantissimo, o A8 era o mais leve super-saloon do mercado, ficando o seu peso e relação peso-potência longe (para melhor, claro) dos Mercedes Class S e BMW serie 7. As versões TDi (como a que trazemos neste artigo) tem um excelente consumo para o tamanho do carro e consegue ser mais económico que as versões A6 da mesma época, devido ao coeficiente mais eficaz conseguido pelo longo e esguio capot e pela frente arredondada, trabalho dos designers Miklós Kovács e Imre Hasanic.

      Provavelmente a primeira lembrança que vos veio à cabeça quando abriram o link do artigo foi o filme Transporter, protagonizado pelo grande Jason Statham em que basicamente é um motorista que acaba sempre envolvido em serviços e missões duvidosas e utiliza os seus dotes de condução e um Audi A8 blindado para conseguir fugir aos vilões e conseguir atingir os objectivos para os quais foi contratado. Diz-se que Jason gostou tanto de conduzir os diferentes A8’s nos vários filmes que acabou por comprar um para uso pessoal e diário. E pelos vistos o «bichinho» do modelo ficou tanto que Statham trocou o seu primeiro A8 por outro… e atualmente tem um S8 da última geração e alargou o seu gosto pessoal para outros modelos da marca (RS6, R8). É habitual um modelo que é utilizado num filme ganhar protagonismo e ver as suas vendas aumentarem no mundo real, mas até fazer o protagonista comprar um (neste caso, mais do que um até) é um excelente feito de marketing das marcas.

      Também noutros filmes o Audi A8 foi escolhido como o veiculo de eleição, especialmente no mundo Marvel, onde partilha o grande ecrã com outros modelos da marca, atualmente nas gerações novas, claro. É até habitual as marcas automóveis usarem êxitos de bilheteira para mostrarem os  seus modelos, sendo comum vê-los no cinema quase antes de os ver na estrada. Basta recordar o filme I, Robot com Will Smith e o RSQ, um concept car utilizado no filme e que abriu o design para o R8, o super-desportivo da marca que ainda hoje ocupa o topo da tabela dos melhores desportivos da marca alguma vez feitos.

      Esta segunda geração (código interno D3) construído com plataforma Volkswagen (daí que o primeiro Phaeton é muito semelhante em tamanho e estética com este A8) consegue albergar até 5 adultos, consoante a tipologia do banco traseiro. E já que estamos a falar do interior, porque não continuarmos por aqui? Afinal de contas, este tipo de veículos privilegia o conforto a bordo e a qualidade da viagem, principalmente para os passageiros. Ainda assim, o condutor tem ao seu dispor a maioria dos sistemas de conforto e multimédia e tudo de fácil acesso, principalmente devido à introdução pela primeira vez, do sistema MMI (semelhante ao utilizado pela BMW). Podem estranhar estarmos a dar tanto destaque a isso mas recordem-se que estávamos em 2002 quando este veículo foi lançado… há praticamente 20 anos e ainda hoje utilizado nos modelos da marca com as devidas e mandatórias atualizações e inovações que a tecnologia de hoje permite.

    O espaço interior realmente é surpreendente. Jurgen Albamonte foi o responsável pelo ambiente a bordo, priveligiando o conforto, a sensação de espaço e leveza recorrendo a materiais de qualidade superior e a toda a tecnologia que a Audi tinha ao dispõr na altura. Há TV a bordo, com uma box na bagageira, temos telefone satélite com número específico, bancos com massagem e aquecidos, totalmente elétricos e com memórias, há versões com frigorífico até. Temos o primeiro GPS com DVD, cortinas eléctricas, acabamentos de luxo e sistema de som surround da Bose… há quase 20 anos atrás. Mas se isto não vos espanta, a Audi lembrou-se de colocar um sistema de desbloqueio do automóvel recorrendo à impressão digital! Pois é… novamente recordamos que falamos de um carro que saíu para os mercados em 2002!

       No exterior há quem diga que o A8 parece um A4 grande. E até não se engana muito. O desenho foi transversal aos A4, A6 e A8, com a adoção de faróis de desenho semelhante, com uma grelha entre eles. No A8 nota-se a largura do modelo perante os restantes modelos da marca e um maior capot que ajuda ao coeficiente de arrasto, diminuindo a resistência ao ar e melhorando a aerodinâmica. Temos faróis bi-Xenon com sistema AFS (Adaptative Front Light System) e os detalhes em cromado que acentuam o carácter mais executivo e elegante deste Audi. Imponente sem perder o estatuto, este A8 visto de frente consegue ter a classe de um veículo digno de um alto cargo do estado e ao mesmo tempo passar despercebido (especialmente em preto) no trânsito do dia-a-dia.

      Na lateral temos contacto directo com as jantes de 20 polegadas Rotiform CCV de 10 polegadas de largura envolvidas em pneus 245/35 da Kuhmo. Além destas jantes, este A8 tem as jantes 19 de origem e que foram uma autêntica «praga» nos modelos do grupo VAG há uns anos, sendo amplamente utilizadas quer nas suas dimensões originais, quer em réplicas até de 17 polegadas em Golf’s, outros Audis e até noutros modelos fora do grupo Volkswagen. Além destas Rotiform, a outra alteração realizada foi a utilização de lowering links e DropBox na suspensão pneumática original (primeiro Audi a utilizar esta inovação) deste Audi A8, conseguindo uma postura mais rebaixada e que lhe fica tão bem. A bordo, a qualidade do rolar em estrada é acima da média, mesmo quando vamos baixos, embora seja ideal ligeiramente mais alto. Temos ainda as bombas de travão pintadas em amarelo (que com as CCV mal se vê) e os espelhos com capa cinza fosco, à imagem das versões de topo do A8.

      Na traseira moram as duas outras alterações realizadas. A primeira são os farolins em led da versão posterior (restyle) que dá um carácter ainda mais distinto principalmente à noite. Outro detalhe desta traseira é a moldura da matrícula e que nos levou ao título deste artigo e que espelha o estatuto que automaticamente ganhamos ao conduzirmos um veículo desta imponência – sentimo-nos o patrão, o boss! Mais em baixo encontramos a outra modificação realizada pelo João nesta porção do Audi A8: as ponteiras do modelo W12, trapezoidais e que são muito discretas mas ao mesmo tempo desportivas, sem perder a elegância neste modelo.

      Já íamos terminar este artigo sem falar do motor. Este não é o mais potente W12 a gasolina mas também é interessante espreitar o facto de ser um V8 TDi (4.0) com atualmente 350 cavalos. A potência é entregue através da caixa automática de 6 velocidades Triptonic (que fez a estreia neste modelo também) e não se sente. Quer dizer, sente-se o ganho de velocidade e o binário muito forte deste V8 TDI sem levar o «coice» típico de motores potentes. A suavidade da viagem por parte do motor em conjunto com o conforto gerado pela suspensão e pelas «poltronas» no interior faz deste A8 um automóvel perfeito para longas viagens.

       Sem o preço absurdo dos novos modelos, este A8 na altura em que foi vendido novo custava mais de 150 000€. Hoje encontram-se abaixo dos 20 000€ em estado quase imaculado. Mas uma volta rápida pelos sites de venda mostra-nos modelos até abaixo dos 10 000€ claro que com alguns afazeres. Portanto, estamos a falar de uma desvalorização de até um décimo do seu valor (ou menos) em menos de 20 anos, num modelo que tem navegação com DVD, televisão e telefone, todas as comodidades como ar condicionado bi-zona (mesmo atrás), bancos com massagem, identificação do condutor com impressão digital, som Bose, suspensão pneumática e caixa automática de utilização suave, um motor potente mas que consegue consumos abaixo dos 10 l/100 km… num modelo que ainda nos transforma num qualquer CEO de uma grande empresa. Honestamente, é díficil ver defeitos neste grande automóvel. E ainda bem, porque este Audi A8 do João até está para venda e tudo isto pode ser vosso por uma fracção (literalmente 1/10) do preço em novo.