


«O melhor ou nada!». Começar um artigo com o slogan da marca pode ser algo previsível, mas aqui pensamos ser o mais correcto para vos contar a história deste Mercedes. Basicamente, trazemos mais um projecto mas numa base muito rara a nível europeu e claro, em Portugal, sendo que nos atraíu as atenções numa das edições do evento Airfield. Apesar de nesse evento este Mercedes não estar no patamar que está hoje, a carroçaria longa, verde clara e elegante cativa o olhar e as alterações realizadas até então já eram algo que fazia virar cabeças. Claro que não descansavamos enquanto não o fotografassemos.



Ora fomos então novamente ao norte do país onde somos sempre tão bem recebidos e onde gostamos, efectivamente, de passar boas horas a fotografar automóveis. Mais do que os carros, as gentes desta zona do país não se coíbem de abrir as portas das suas casas (neste caso, dos seus automóveis) e contar as suas histórias. E se um projecto num automóvel deste porte seria já incomum, mais raro é por ser numa base não comercializada por cá, um W126 «S» 300 SDL (já explicamos estas siglas todas, ok?). Combinamos encontrar-nos com os dois irmãos Ribeiro, para conhecer melhor este «Americano» num complexo habitacional abandonado já nos limites do estado do Nevada, que casou impecavelmente com o Mercedes… ok, não fomos aos EUA para tirar as fotos, ficámos mesmo pelo norte do pais. Talvez quem saiba daqui a uns tempos possamos ir ao pais das oportunidades enriquecer ainda mais o nosso portefólio.




Geograficamente inseridos, vamos ao carro. Ora, já se aperceberam que este Mercedes não é o típico veículo que associamos aos homens de fato e gravata. Este Mercedes começou a vida do outro lado do Atlântico, dado que apenas foram produzidos, com este motor diesel, nos Estados Unidos da América e no Canadá. E como nós na All Wheels Photography andamos em busca da internacionalização, nada melhor do que esticarmos a «perninha» até um modelo que veio de fora do nosso país.
O Mercedes-Benz Classe S W126 300 SDL (ufa, ficamos cansados só de nomear este automóvel) foi o modelo da classe de luxo da marca alemã que mais anos esteve em produção. Falamos de 12 anos em que a segunda geração do special class ou sonderklasse esteve disponível para aquisição e dos quais foram vendidos milhares, com variadas motorizações, versões e extras. Apesar de ser difícil de encontrar um destes modelos igual a outro, a personalização veio garantir isso mesmo, a exclusividade que já de fábrica se tentava conseguir.





Em 1985, no Salão de Frankfurt, surge o facelift que mais do que alterações estéticas, trouxe ao W126 novos motores, principalmente os de «grande porte», 4.200 cc e o V8 de 5.600 cc. Apesar de na Europa apenas se terem comercializado modelos a gasolina não diminuiu o sucesso deste modelo no Velho Continente, aliás se analisarmos o total de vendas, este Classe S é até hoje o mais bem sucedido sedan de luxo da Mercedes, com umas fantásticas quase 900 000 unidades vendidas, entre versões diesel e a gasolina, sedan ou coupe.

Em termos globais, o W126 modernizou a linhagem estética da Mercedes e ditou o desenho de todos os modelos da marca durante os anos 80. Abandonaram os pára-choques destacados da carroçaria cromados e adoptaram uma abordagem mais agradável, em linha com a carroçaria, nomeadamente a nível dos guarda-lamas e da grelha frontal. A nível de segurança a Mercedes também não facilitou neste modelo. Airbags, controlo de tracção, ABS, terceira luz de travão (nos modelos americanos), zonas de impacto em caso de acidente e farolins de grandes dimensões são detalhes que hoje, tal como os tais pré-tensores, são tão comuns que nos esquecemos deles, na década de 80 eram importantes peças de marketing e ajudavam a cativar os clientes selectos da marca alemã.

Além destes detalhes, alterações e inovações de conforto interior, como estofos aquecidos, ecrã LCD a informar temperatura ou melhorias na suspensão pneumática e caixa de velocidades ajudam a perceber o porquê do sucesso deste modelo e da sua importância para a marca.




Falando concretamente deste modelo, como já referimos anteriormente, trata-se de um W126 300 SDL. Ora, o W126 é o código interno da Mercedes para designar os modelos. Veio substituir o W116 e foi substituído pelo W140. O 300 SD refere-se ao motor e o L vem de Longo, ou seja, é a versão com maior distância entre eixos, cifrando este W126 nuns generosos 5,3 metros de comprimento. E se a imponência pode ser devida ao seu tamanho, a bonita cor verde clara e os apontamentos cromados certamente que ajudam. Além destes detalhes de fábrica, o Marcel apimentou um pouco a estética e adicionou a este excelente conjunto umas vistosas e lindissimas jantes OZ Futura de 17 polegadas com 8,5 polegadas de largura no eixo frontal e 10 no eixo traseiro. Claro que o chamado fitment não seria como é se não fosse o ajuste à suspensão com molas H&R e amortecedores Bilstein Heavy Duty.



O apelo estético que nos atraiu pode não agradar a todos, face ao modelo clássico que é, mas o que é facto é que sempre que este Mercedes anda pela rua, é impossível não olhar e até esboçar um sorriso. O seu estilo americano foi um pouco «abafado» pela instalação de óticas europeias mas os pára-choques volumosos e a engraçada haste com a bandeira americana não escondem a origem deste W126. Para ajudar a compor a frente, foi acrescentado ao pára-choques um lip de borracha.





No interior, é como estar numa sala de estar. Os bancos em pele são muito confortáveis e dado que se trata de um modelo para passear e «rolar» nas calmas, é algo que é bastante apreciado. Depois a cor clara do interior atribuí ainda mais classe ao interior deste Mercedes, contrastando com os apontamentos em madeira e o topo do tablier em borracha preta. A consola central é tipicamente anos 80, com toda a informação concentrada nessa zona e onde o rádio da época ainda toca bonitos acordes nas colunas que se encontram bem estimadas para os anos que este Mercedes tem… sim, são 30 anos de automóvel onde até a manete de velocidades se mantem original e contribui para o ambiente retro que se vive a bordo. A maior «delícia» deste Mercedes-Benz a nível de interior é mesmo… o velocímetro em milhas, claro!




Bem, e já se sabe, saimos do interior e vamos espreitar o colossal motor diesel que puxa este W126. O bem sucedido motor OM603 de 6 cilindros em linha foi usado desde 1984 até 1999 e atravessou não só gerações do Classe S como vários modelos da Mercedes, provando ser um motor de elevada fiabilidade, baixa manutenção e de extrema confiança em termos de substituição de peças de desgaste. Um verdadeiro tanque que ainda hoje é responsável por milhares de Mercedes a circularem pelas estradas a nível mundial. Este motor desenvolve perto de 150 cavalos às 4600 rpm e além do binário de 275 nm, foi reconhecido na altura pelas emissões contidas tendo em conta as novas normas americanas para as emissões de motores diesel.





E como é um projecto, ainda há trabalho a fazer. Deverá levar um upgrade de suspensão para a agora na moda suspensão a ar e volante e manete de velocidades da Nardi, para compor o interior. Na frente, deverá levar os faróis americanos da primeira série. Depois de sabermos disto, veio a pergunta: porquê este carro, este modelo, esta versão em concreto? Marcel contou-nos que cresceu num ambiente carregado de cheiro a gasolina mal carburada e motores antigos. Quer o avô, quer o pai e até os tios, todos eles sofriam de petrolhead-ice e os carros tornaram-se obrigatoriamente o mundo desta família. Ainda antes de tirar a carta, já o Marcel procurava o seu automóvel ideal, estando virado para um W115. Teria sempre de ser a gasóleo pois seria de uso diário e por isso o W126 não estava nos planos (lembrem-se, não foi comercializado na Europa com motores diesel). No entanto, a internet é um mundo e Marcel descobriu as versões americanas, raras e esteticamente interessantes e só descansou há cerca de dois anos, quando encontrou este exemplar, completamente original e bem estimado.
Passámos um bom bocado a conhecer este Mercedes e a história por trás deste projecto. Temos de reforçar a excelente recepção a terras do Norte e claro, o entusiasmo com que os assuntos automobilísticos são tratados. Mais do que construir um projecto para aprovação de um grupo ou da sociedade, é fazê-lo para satisfação pessoal, para afirmação da sua ideologia e principalmente, para seu uso fruto. E por causa disso, fomos ter com outro amigo da AWP, dono de um outro projecto que apresentaremos em breve e que ajudou o Marcel a colocar o seu W126 no patamar de excelência em que se encontra actualmente.
