Te[s]la em branco

         Já nos habituámos a vê-los nas ruas (ainda hoje, no dia em que escrevemos este artigo e em pouco mais de 15 km’s, vimos 3 diferentes) e a não os ouvir. E com as fotografias colocadas, já perceberam que falamos de um veículo eléctrico, neste caso um Tesla. A nossa «investida» fotográfica no novo mundo que são os automóveis eléctricos tardou muito por culpa do nosso lado petrolhead que nos continua a puxar mais para os motores de combustão, para os desportivos de grande octanagem, para os clássicos gastadores e para os (alguns) diesel. Mas o mundo está em mudança e o paradigma da mobilidade eléctrica está aí, está instalada e temos de o acompanhar. E além disso, não é mau de todo pois continuamos a ter (pelo menos nos Tesla) a velocidade e performance dos motores a gasolina mas… falta muita coisa para que nos entreguemos completamente às viaturas movidas a bateria.

      Antes de mais, temos de deixar um agradecimento à Detail Concept que nos convidou a registar em fotografia para artigo o excelente trabalho feito no cuidado e detalhe automóvel desenvolvido sobre este Tesla Model 3. As várias fases de descontaminação e lavagem, aplicação de ceras e produtos de protecção provam mais uma vez que estes cuidados são importantes e não podem ser descurados se queremos manter a qualidade do nosso automóvel e aumentar a sua longevidade e bom aspecto. Muito já falámos sobre esta arte que é o cuidado e detalhe automóvel e desculpem mas temos de voltar ao tema dos eléctricos e neste caso, à Tesla, a marca responsável pela unificação do conceito de mobilidade eléctrica.

Um Tesla 3 bem destalhado e protegido com PPF by Detail Concept.

       Para a AWP, um carro é um carro. Seja ele clássico ou moderno, desportivo ou alterado. E agora temos de incluir no nosso dicionário os eléctricos que talvez se encaixem nos modernos (e daí estarmos nessa secção do nosso site). E a palavra moderno pressupõe logo à partida que o que trazemos até vós é algo novo e vibrante e essas duas palavras servem muito bem para caracterizar e adjectivar o Tesla Model 3. Desde 2003 que Elon Musk, o mentor da marca Tesla, tem vindo a desenvolver um excelente trabalho na mobilidade eléctrica. Claro que tem tido alguns sobressaltos e problemas com os seus produtos (como a mais recente «barraca» na apresentação da CyberTruck) mas tornou-se rapidamente no «boss» dos veículos eléctricos e já revelou que a sua meta é destronar todas as outras marcas e modelos, como o Toyota Prius ou o Nissan Leaf.

      E apesar de, como dissemos no início do artigo, vermos imensos Teslas na rua, ainda não tínhamos tido um contacto mais pessoal com nenhum deles. Claro que já estivemos junto e dentro de um Model X e Model S em salões ou junto dos nossos parceiros mas conviver, andar e conhecer em detalhe um Tesla ainda não se tinha proporcionado. Não conseguimos testar tudo o que Musk promete com este Model 3 como a condução autónoma ou a velocidade máxima de 260 km/h mas pudemos perceber o quão rápido este modelo é no clássico 0-100 km/h e apesar de não medirmos os 3,4 segs anunciados pela marca, conseguimos perceber que não é nenhuma tartaruga.

      Falemos (neste caso, escrevamos) mais sobre este Model 3. Em primeiro lugar, o lançamento deste modelo foi envolto em alguma polémica, relacionado directamente com o seu preço de venda. Musk anunciou o Model 3 como o mais acessível e barato Tesla que poderíamos comprar, com um preço base de 35 000 $ (supostamente e em €, 31 000) mas… afinal havia detalhes a conhecer antes de sonharmos com um valor que certamente iria catapultar as vendas da marca. Esse valor refere-se a um suposto modelo com um alcance curto, mais focado na mobilidade citadina e que utiliza baterias mais fracas e daí a diferença logo de cerca de 10 000 € no preço. Depois o pacote Premium adiciona mais uns milhares à conta o que fixaria o preço em cerca de 50 000 $. No entanto, a Tesla achou que esse valor não lhes permitia lucro e tratou de dar ao Model 3 dois motores eléctricos, um por eixo (daí a designação Dual Motor) e tracção integral (obviamente) o que fez o valor disparar e em Portugal, os Tesla 3 são vendidos por cerca de 60 000€ (AWD) e se for a versão Performance o custo sobe mais uma dezena de milhares de euros. Ainda assim, é o valor de um BMW 330 e que, como sabem, é um híbrido e não um full electric.

      Assim que chegamos ao local onde realizamos estas fotos, percebemos uma coisa. O Tesla Model 3 é giro. Sim, é bonito, atraente e sedutor até. Quase nos esquecemos que é um eléctrico até começarmos a estranhar a ausência de entradas de ar na frente (a que este Model 3 tem na parte inferior é apenas de função aerodinâmica). E claro, quando entramos e «damos à chave» que neste caso é um cartão magnético ou, em opção, uma app no telemóvel que permite iniciar a marcha. Tudo é novo, tudo é moderno, parece saído de um filme do futuro daqueles que vemos na nossa infância com carros voadores e autónomos e… não estamos assim tão longe disso. É certo que este Tesla não voa mas o seu modo de condução autónomo é qualquer coisa de surpreendente; e bem, até voa… baixinho.

      Sete em cada dez Teslas vendidos atualmente em Portugal são Model 3. Isto diz muito de um carro. E não nos podemos esquecer que no nicho dos carros eléctricos, os Tesla crescem cerca de 10% em cada trimestre referente ao volume de vendas, mesmo com preços elevados. A carga fiscal nula (ISV) e a possibilidade de dedução do seu valor nas contas fiscais das empresas também dão o empurrão para que patrões optem por gastar um pouco mais num eléctrico ao invés de ficarem pelo Prius ou pelo Leaf, por exemplo. Mas não somos do Jornal de Negócios para vos aborrecer com estes detalhes. Vamos ver melhor este Model 3.

     A fluidez das linhas e do design é algo que já estamos habituados na Tesla. Desde o Model S (de onde este 3 vai «beber» a inspiração para a traseira) que a Tesla se orgulha de mostrar automóveis sensuais, sem arestas, sem ângulos agudos, sem distracções da sua silhueta. Exemplo básico disso e a ausência de puxadores saídos da carroçaria e embora muitas outras marcas já estejam a usar esta técnica, a Tesla foi das primeiras a democratizar esta opção em todos os seus modelos. O aspecto curvilíneo do Model 3 é acentuado pelos vincos do capot que fazem com que as ilhargas e luzes da frente fiquem ligeiramente abaixo da linha de perfil, acentuado o aspecto esguio e aerodinâmico. Os faróis full led são o destaque numa frente lisa, simples e clean.

    Já falámos dos puxadores, mas não dissemos o quão interessantes ficam na lateral que é tão simplista que quase aborrece. Daí que para que haja algo que nos chame a atenção, tenhamos de optar por jantes vistosas. Neste caso, o pack premium/performance monta umas bonitas jantes de 20 polegadas e uns bonitos travões de cor vermelha com o nome Tesla gravado. Detalhes que chamam a atenção e que fazem falta no design mais insípido desta lateral. Mas é, afinal de contas, o estilo da Tesla: simplicidade e eficácia, poupança e preocupação ambiental.

      A porção posterior volta a relembrar todos esses adjectivos. Semelhante ao Model S como já referimos, o Model 3 tem uma traseira alta com o portão da mala continuo e em formato descendente, permitindo um bom volume de bagageira e uma excelente acessibilidade. O aspecto global ganha com essa decisão, tornando-se o Model 3 uma espécie de coupe de 4 portas ao estilo do Serie 4 Grand Coupe da BMW, por exemplo. No geral até podemos dizer que este Tesla está esteticamente bem conseguido, bonito e atraente mas que é algo simplista demais, tendo em conta que estamos habituados a algo mais vistoso.

      E se queremos algo mais vistoso, não é no interior que vamos conseguir ter isso, neste Tesla. Cremos que nunca estivemos perante um interior tão «despido». Não dizemos com isto que faltam extras ou que o Model 3 é um modelo fraco mas a ausência de botões, de saídas de ventilação, de pespontos no tablier, frisos… basicamente de tudo o que os outros têm, faz-nos ter alguma dificuldade em aceitar que estamos num carro e não numa nave espacial. O enorme ecrã central de 15 polegadas reúne toda a informação que comanda o Model 3, desde a temperatura ambiente às luzes, navegação, rádio, internet entre outras. É realmente um centro de comando mas como estamos num veículo que ainda por cima é automático, nem contamos com uma manete de velocidades na consola central. O friso deste modelo a imitar madeira dá alguma cor e «aquece» o ambiente mas a qualidade geral dos materiais não é, de todo, algo que esperaríamos encontrar num veículo que está num patamar de preços de cerca do dobro do renovado Nissan Leaf.

Não há muito que ver neste interior. Simplicidade, eficiência e alguma habituação são palavras de ordem no habitáculo deste Tesla Model 3.

       No geral e com base no que já tínhamos lido sobre o Model 3, não desilude. É rápido e eficaz numa condução mais desportiva, é envolvente na condição ambiental e bastante espaçoso mas falta-lhe alma, paixão e detalhes que podemos encontrar até no Model S. Claro que falamos de preços bastante diferentes mas acreditamos que quem consegue chegar ao Model 3, consiga esforçar-se até ao S. Se isso não acontecer, certamente que fica bem servido com o já apelidado de top seller da marca Tesla, pelo menos até a CyberTruck chegar (as 200 000 encomendas no dia da apresentação «assustam» um pouco, tendo em conta o aspecto pouco consensual do mesmo). Estendemos mais uma vez os agradecimentos à Detail Concept pela preparação deste Model 3 que nos ajudou na edição destas fotografias. E, meus caros, preparem-se pois os eléctricos estão para ficar.