Streethunter RX7

     4 meses distam a captação destas fotografias do artigo que hoje partilhamos. Se é bom sinal ou menos bom, não sabemos, mas prova que não temos tido mãos a medir nas nossas sessões privadas, sejam elas para privados, para venda ou sessões de serviço, como é o caso deste belíssimo automóvel. E sim, é um automóvel, daqueles em que a tecnologia maior é mesmo os faróis escamoteáveis. Liberto de computadores e ecrãs digitais, sistemas complicados eletrónicos e computadores de bordo, voltamos ao analógico com este fenomenal desportivo japonês, de seu nome Mazda RX7 FC. E antes de darmos aquela pequena aula de história, conduzida por um professor que de professor tem pouco, queremos agradecer à Mechatronic Vehicle Services pela simpatia com que nos recebe sempre e por confiar no nosso trabalho.

     Estão sentados confortavelmente? Então passamos a uma breve introdução… bem, deixemo-nos de formalidades pois que já nos conhece sabe que somos práticos e não gostamos de encher o artigo com letras e linhas de paleio desnecessário. A Mazda continua a ser a única marca automóvel a utilizar motores rotativos (rotary engines) de uma forma surpreendente, desde modelos banais como pequenas pick-up a desportivos, passando por modelos de competição, a potência gerada pela forma única de funcionamento de um motor deste tipo acaba por ser bem vinda em vários formatos de automóveis. Aliás, a fé da Mazda nestes motores é tal que está pensada a colocação de um pequeno motor Wankel como auxiliar e extensor de autonomia dos modelos elétricos como o MX30 EV. Contudo, há um modelo em específico que tornou estes motores conhecidos e que ainda hoje são peças de elevada procura: o RX7 – construído em três gerações durante 25 anos, totalizando cerca de 800 000 exemplares.

É estranhamente bonito, mesmo sem as «pop-ups» levantadas.

     Foi ainda no longínquo ano de 1986 que a segunda geração do RX7 viu a luz do dia. Mais largo, mais pesado mas também mais potente, a versão FC (código interno da Mazda) pretendia terminar com o reinado alemão no que concerne ao segmento dos desportivos onde o Porsche 924/944 era o mais vendido. E isso vê-se rapidamente no design, menos curvilíneo e harmonioso que o FB, adotando uma estética mais quadrada, mantendo alguns traços de investimento japonês como as celebres luzes pop-up e claro, o seu fantástico motor Wankel. Nesta segunda geração, este motor desenvolvia uns muito interessantes 150 cavalos, sensivelmente, e foi através deste motor e das restantes condicionantes que revistas como a Motortrend o definiram como o carro importado do ano de 1986, vencendo também outros prémios noutros mercados.

Vintage. Tudo original, com a «patina» que lhe é devida.

      Mais tarde, já no final da década de 80 (1988) surgem novas versões do FC. Um modelo com turbo, a debitar 182 cavalos e um impressionante tempo de menos de 7 segundos dos 0-100 km/h e posteriormente, em 1989, uma versão descapotável. Nesse mesmo ano apareceu ainda em alguns mercados um modelo denominado GTU, mais leve, mais focado na performance mas sem turbo, versão que serviu de base para os modelos de competição usados no campeonato IMSA. Foi já em 1992 que os últimos FC saíram da linha de produção, dando posteriormente lugar ao responsável pela fama da sigla RX7, o FD que já tivemos oportunidade de fotografar e que recordamos aqui.

       A aposta da Mazda neste FC foi grande. Construiu um carro totalmente de raiz, inspirando-se nos principais rivais como o 944 para ter o sucesso que acabou por ser menor do que a marca antecipava. Mais largo, mais pesado também mas mais potente, o FC foi fruto de muito estudo e investigação e alguns anos de planeamento, onde a estrela continuava a ser o revisto motor Wankel agora associado a direcção assistida eléctrica e uma suspensão independente em ambos os eixos, que melhorou substancialmente o comportamento em curva e permite algumas derivas de traseira controladas. Aliás, o esforço da marca japonesa é notório quando olhamos para os números do FC e comparamos com o seu antecessor, ao vermos que o motor tem o dobro da potência praticamente e com uma excelente relação peso-potência e houve ainda um investimento na segurança ao dotar o FC de travões de disco nas quatro rodas.

    Apesar de todo o desenvolvimento e investimento num novo modelo, a Mazda manteve a filosofia e design do primeiro modelo, para o bom e para o menos bom. Apesar da referida direcção assistida, o volante não é ajustável, pelo que encontrar uma posição de condução ideal é difícil dado que o banco também tem pouco alcance. No interior houve pouco investimento e estar a bordo do FC é quase como fechar a porta de um FB mas com mais alguma «tecnologia», o que a nosso ver acaba por ser interessante. Gostamos imenso do estilo retro dos mostradores laranjas, com leitura simples e rápida e sem os tais ecrãs que agora são obrigatórios em todos os carros. A manete de velocidades da caixa de 5 marchas está à mão e todo o habitáculo está focado para o conforto, mais até que para a performance. Melhores bancos, mais envolventes e uma linha de visão desafogada para o exterior são também características a reter neste FC.

       Não foi preciso muito para nos apaixonarmos por este japonês. Aliás na realidade somos um público fácil para a maioria dos carros japoneses. Temos várias paixões, umas mais evidentes que outras como bons petrolheads que somos mas claro que há sempre aquela predilecção e este RX7 FC foi uma agradável surpresa. Pouco conhecido em Portugal, pelo momento em que saiu e pelas restrições de importação nacionais, atualmente é uma peça de colecção que poucos têm o privilégio de ter ou mesmo de contactar. Este exemplar encontra-se a precisar claro de algumas melhorias, mas o estado original em que se encontra valoriza-o a cada dia. E claro, está muito bem entregue na Mechatronic, de onde sairá com um projecto bem interessante que mistura a classicidade vintage com melhorias mecânicas de forma a mantê-lo a rolar por mais umas décadas.