Saga AX – GTi vs Sport

    Por vezes vemos em várias publicações a que temos acesso, pequenas reviews a modelos mais antigos e que, de uma certa forma, marcaram gerações de amantes de automóveis e principalmente os petrolheads de hoje. Esses fanáticos pelos «carros», tal como nós na All Wheels Photography, cresceram a ver pequenos automóveis ganharem o respeito e o lugar na história que mereciam. Já passaram pela nossa «redacção» muitos exemplos de veículos marcantes e basta espreitarem o nosso website para concordarem com isso. No entanto, há ainda vários exemplares que pela sua marca histórica na evolução automóvel, carecem de uma análise nossa. Hoje colmatamos uma dessas faltas, hoje falamos sobre o Citröen AX.

      Não vemos este artigo como um tributo, pois para isso teríamos de analisar em maior detalhe o modelo que projectou a Citröen para os topos das tabelas de vendas nos mais de 10 anos em que esteve à venda. O AX foi mostrado ao mundo em 1986 no Salão de Paris e veio substituir o datado Citröen Visa apesar das «más línguas» dizerem que poucas diferenças se viam de um modelo para outro. É o que dá comentarem estes lançamentos depois de um jantar bem regado, certamente.

 

      Sim, inegavelmente o AX manteve alguns traços dos modelos que o antecederam, mas rompeu com a tradição ao mostrar um carácter mais desportivo que tipicamente confortável como era apanágio da marca do double chevron. Talvez por terem melhorado a rede viária em França, achamos nós… Mas fora de brincadeiras, o AX revolucionou a forma como a marca era vista pela concorrência. Inicialmente, os AX foram vendidos apenas em formato hatchback de 3 portas e motores a gasolina, com a versão mais familiar de 5 portas a surgir em 1987, juntamente com a opção diesel.

    Se a concorrência já tinha criticado as poucas diferenças entre o AX e o Visa, essas vozes ecoaram ainda mais quando se soube do defeito tão característicos dos primeiros modelos da Citröen, em que a manete da caixa de velocidades simplesmente… caía em andamento, causando alguns constrangimentos no dia-a-dia. Rapidamente rectificado, o AX ganhou o estatuto de familiar devido ao seu preço em conta, aos consumos reduzidos para a época (para o qual também contribuiu o baixo coeficiente de atrito de 0,31 e o baixo peso – 640 kg’s na versão mais básica) e aos custos baixos de manutenção.

O ar mais despido do Sport é realçado pela vibrante cor vermelha.

    Ao longo dos anos de produção, o Citröen AX conheceu algumas evoluções e versões especiais. Chegou até a existir uma versão 4×4, que devido ao seu lançamento ser temporalmente desajustado (o Panda 4×4 teria saído uns meses antes), não conheceu praticamente qualquer sucesso. Há cerca de 2 anos, numa estadia da equipa AWP em Viseu, conhecemos um destes exemplares, impecavelmente mantido, como um dos poucos conhecidos em Portugal. Além desta versão mais virada para eficácia em estradões e aceiros, a Citröen não esqueceu a tal veia desportiva e em 1987 lançou o Sport, aqui num vibrante vermelho.

    Na altura do lançamento do Sport, o Peugeot 205 Rallye era o rei dos pequenos desportivos e o modelo que muitos ansiavam ter assim que tivessem a carta de condução. No entanto, o AX Sport foi, pouco a pouco, conquistando muitos dos fãs do seu meio-irmão 205 e ganhando o seu espaço (merecido) no quadro de honra dos desportivos natos, os tais que nasceram para nos tornar verdadeiros pilotos de trazer por casa. Em 1988 os carburadores usados no Sport passaram a ser da marca Weber, tal como o 205 Rallye 1.3. Tendo em conta as parecenças e partilhas entre o Citröen e o Peugeot, é fácil perceber porque foram ambos considerados verdadeiros exemplares desportivos da secção «puros e duros».

    O Sport contava com um peso um pouco superior ao referido há 3 parágrafos atrás, fruto de alguns extras e aumento de espessura em determinados painéis. No entanto, ainda era consideravelmente leve e com 96 cavalos, «voava» pelas estradas, mantendo sempre uma certa dose de confiança no seu condutor, devido ao chassis bem afinado e aos travões de disco no eixo frontal. Em termos de design, à primeira vista aparenta não ter grandes alterações face aos modelos mais convencionais. Mas se olharem com atenção, facilmente perceberão que o Sport tem um aspecto mais concentrado, mais focado no lado desportivo do modelo.

     Os pára-choques pintados à cor da carroçaria, com um pequeno acerto aerodinâmico na frente em formato de lip, inclui os faróis de nevoeiro e abre espaço para uma boa entrada de ar. Nas saias laterais, destacamos os pequenos adornos nas suas extremidades, que ajudam a canalizar o ar que se desloca por baixo do chassis afinado do AX Sport e nos foca a atenção nas jantes que, apesar de despidas de adornos e desenhos muito técnicos, marcaram uma geração e são ainda hoje conhecidas como steelies. Na traseira, o pequeno spoiler na bagageira e a inscrição Sport (que também podemos ver nas laterais) acentuam o modelo e o seu carácter desportivo.

    No interior não há luxos. E haver um rádio já é uma loucura! Verdade seja dita, os interiores dos desportivos de finais da década de 80 e início da década de 90 são espartanos, para dizer a verdade. Não há frisos ou cores berrantes, cromados e adornos desnecessários. Tudo o que está lá, está à vista e é para ter utilidade quer num momento de descontracção, quer numa condução mais desportiva. Mas espaços de arrumação não faltam, principalmente se o pendura for fraco de estomâgo numa dessas incursões mais agressivas por uma qualquer estrada serpenteante! Os bancos em tecido, com algum apoio lateral principalmente nas pernas ajudam a manter-nos no sítio, mas não são a epítome da eficiência no que concerne à imobilidade exigida ao condutor quando está concentrado em conduzir depressa. No entanto, rapidamente nos lembramos que estamos num carro com quase 30 anos de história e todos estes detalhes voam janela fora à medida que descrevemos as curvas de vidro aberto para ouvir o braaapppp que ecoa do pequeno escape deste Sport.

Despido de luxos e de distrações para o condutor.

    Já com a equipa da CarOnline.tv satisfeita em termos de filmagens de passagens do Sport estrada acima, estrada abaixo, paramos ao lado do GTi que o nosso amigo Rúben trouxe para esta sessão fotográfica. Antes de nos sentarmos ao volante e fazermos as incontornáveis comparações, percebemos rapidamente que o GTi aparenta ser mais refinado e até menos «puro» que o Sport. Mas olhem que não… já lá vamos.O GTi surge em 1991 acompanhado pelo facelift realizado pela Citröen ao já na altura sucesso de vendas. As principais alterações estéticas permitiram ao AX entrar na derradeira década do século XX de cara lavada e um pouco mais moderna. O emblema do capot passou para o centro do mesmo, os piscas da frente deixaram de ter o tradicional laranja e o interior conheceu um tablier mais arrumado e de mais fácil utilização.

     Com ambos lado a lado, é fácil perceber que pouco alteraram nas «novas» versões do AX. O GTi aqui analisado conta com os mesmos detalhes aerodinâmicos do Sport, mudando apenas o já referido «equipamento» do facelift e o pára-choques traseiro, menos pronunciado no GTi. Ah, e se formos mesmo ao detalhe do detalhe, a grelha da frente, por baixo do capot, é mais estilizada e simples no GTi, com apenas um friso ao invés dos dois na grelha do Sport. E se por fora pouco difere, no habitáculo a história repete-se, apesar do que referimos anteriormente em termos da organização do tablier.

220 km/h num Citröen AX... medo!

    Sim, está mais arrumado, as imensas prateleiras e «buracos» de arrumação das versões pré-1991 desapareceram (Sr. Pendura, leve um saco se faz favor!) e os bancos além de um tecido com um desenho mais atual e que nos dias de hoje ainda é agradável aos olhos, têm mais apoio lateral, inclusive na região lombar. Contudo, não esperem milagres ao conduzir o GTi rapidamente, continuamos a «escorregar» dos bancos. Mas algo que melhorou a «olhos vistos» foi o volante, que no GTi apesar de manter o desenho de três braços, tem uma melhor pega, é mais leve nas manobras e de mais fácil manuseamento.

Tudo à vista, algo que falta nos carros de hoje em dia.

   Falar do GTi e não falar do seu motor seria pecado, certamente. O bloco de 1360 cc e 100 cavalos mostram-se mais que suficientes para os 795 quilos do AX GTi, causando alguns momentos de maior «aflição» aos condutores mais incautos. Sim, o GTi era conhecido por ter uma traseira muito bailarina, principalmente quando se fazia curvas com muito apoio na dianteira. A sublime deriva do eixo traseiro era muitas vezes mal interpretado pelos «pilotos» de fim-de-semana e atribuíu ao AX uma fama que não é de todo, verdade. Na realidade, trata-se de uma característica que mais tarde foi repetida em vários modelos de pretensões desportivas e baixa distância entre eixos e que nos dias de hoje são auxiliados pelas ajudas electrónicas como o ESP e o CT, algo impensável naquela época.

    E realmente, a traseira parece flutuar em estradas de curva-contra-curva. Sempre com ambas as mãos no volante, lá vai sendo possível controlar o irrequieto francês e manter a postura do mesmo (seria feio ver-se num programa de automóveis um qualquer condutor «estampar» um ícone como o AX GTi, certo?). Este Citröen é daqueles automóveis que quanto mais tempo se passa com ele, mais aprendemos a gostar e principalmente, a dar valor aos pequenos desportivos do passado. A experiência mais «ossuda«, mais natural, mais desportiva sem necessidade de floreados, exagerados apêndices aerodinâmicos e ajudas electrónicas ensinam-nos muita coisa até aos que conduzem à vários anos e se acham os Fitipaldi’s do asfalto.

Especial agradecimento à Vintage Factor pela oportunidade. E já agora, espreitem o vídeo no fim do artigo para verem um pouco do trabalho da CarOnline.tv.

     Depois de umas horas passadas em redor destes dois «diabretes» de quatro rodas, e já com a equipa da CarOnline.tv entusiasmada com as filmagens feitas, sentamo-nos à conversa com o Rúben, que se tem mostrado incansável e um pilar importante nos pequenos passos que vamos dando na AWP. Depois do seu Lancia Integrale e do convite para o 911T da Vintage Factor (que iremos re-postar em breve), devemos a ele mais uma vez este dia. A ele e claro, à referida Vintage Factor, que tem restaurado e melhorado verdadeiros ícones que marcaram gerações. Tal como muitos dos seguidores do canal do Youtube da CarOnline.tv, também o Rúben teve uma infância marcada pelo AX, neste caso, pelo GTi. Foram necessários quase 20 anos até esta memória se transformar em realidade, com a aquisição deste exemplar de 1992. E se há realmente boas realidades, estamos neste artigo na presença de dois belos exemplos.