R(ed)X7

        Este artigo é um romance. É a história de «amor» entre o dono e um automóvel. É a manifestação do que defendemos desde 2016 quando iniciámos o nosso projecto fotográfico, transformar a fotografia num meio de transmissão de sentimentos e da paixão de cada um perante o seu veículo, seja ele de duas ou quatro rodas; mas isto já os nossos leitores sabem, pois fazemos questão de o afirmar categoricamente imensas vezes. Ora bem, pelas fotografias que colocamos até estas linhas, já perceberam que vos trazemos um automóvel raro e que rapidamente nos remete para os jogos de vídeo e para os filmes da saga Velocidade Furiosa. O Mazda RX7 foi um importante marco da história automóvel ao ser o primeiro a uniformizar a utilização do motor rotativo Wankel que dispensa os pistões, árvore de cames, cambota e outros detalhes mecânicos diminuindo o atrito e conseguindo uma potência específica mais elevada, com menos cilindrada e ombreou na altura do seu lançamento na primeira metade da década de 90 com o Toyota Supra, Honda NSX e Nissan Skyline, por exemplo.

      E é um romance porquê? Porque o Cláudio, dono deste RX7 ajudou-nos imenso no texto, ao contar toda a sua experiência com o seu menino de quatro rodas que, como em muitos outros casos que nos passaram pelas lentes, começa com um sonho de infância e se materializa quando a oportunidade surge. A maioria dos «culpados» por determinadas paixões de quatro rodas são os filmes e os jogos de vídeo e este caso não foi excepção. Quando o primeiro filme da saga Velocidade Furiosa saiu, e começa logo com uma corrida entre quatro excelentes automóveis, o RX7 que ali alinhava saltou à vista. O Cláudio estava apaixonado! E o útil juntou-se ao agradável, dado que na altura era um 106 GTi que levava as poupanças do Cláudio até uma correia partir, algo que num RX7 não poderia acontecer. Foram meses de namoro com um RX7 num stand junto ao autódromo do Estoril até que numa das visitas ao stand, estava presente o antigo dono. Rapidamente trocaram ideias e o negócio fez-se.

        Sim, houve receios, até porque é um carro com uma mecânica rara e por isso, de difícil manutenção. As peças, o desconhecido e quiçá o fator raridade fizeram com que este RX7 estivesse vários anos no referido stand até o Cláudio se ter chegado à frente, após muita pesquisa, por exemplo no Rx7Club.com, fórum americano específico de RX7 onde se trocam muitas ideias e informações sobre o modelo. Contudo, continuava a haver um detalhe que poderia demover um comprador: o tal fator raridade que faz com que tudo o que era preciso para o carro poder ser complicado de aparecer e adquirir em Portugal. Mas existe uma coisa chamada internet e tudo se resolve! Contou-nos o Cláudio que este RX7 é americano, comprado novo nos EUA por um militar lá emigrado; esse primeiro dono trouxe para Portugal o RX7 e um 300ZX, dois modelos que na altura eram extremamente difíceis de comprar por cá, não só pelos tempos de espera (mais longos que noutros mercados) e por serem bastante caros.

       Este RX7, por ser americano conta com um mapa de potência diferente dos modelos europeus (felizmente) dado que assim conta com 255 cavalos ao invés dos «apenas» 239 da versão destinada ao velho continente. Além disso, tem dois catalisadores (devido às restrições de gases dos EUA) e alarme de temperatura do escape, por exemplo. Já a versão europeia apenas tem um catalisador mas tem lava-faróis e a tonalidade dos mesmos é diferente. Os dois turbos são a atracção quando se abre o capot. A forma como estão montados, bastante visíveis, só é possível devido ao menor espaço ocupado pelo motor Wankel deste RX7. Menos componentes, menos espaço, menos peso e mais potência – parece a receita perfeita, o que leva muitos a questionar o porquê de não ter sido amplamente utilizado noutros modelos. Todas estas características fazem com que o custo de produção e manutenção seja extremamente elevado e como em tudo, lucro é a chave do sucesso das marcas pelo que o Wankel ficou reduzido a um punhado de utilizações mas fica inscrito na história automóvel.

        Mas se acham que o RX7 é um carro interessante, fiquem a saber que existiram várias versões (algumas delas nunca tínhamos ouvido falar mas é a vantagem de estarmos a fazer as fotografias com um expert da área). R1, Touring, R2, PEP, Type S, Type RZ, Type R Bathurst e o Spirit R são as designações que as diversas versões adquiriram, consoante o nível de equipamento, afinações mecânicas e dinâmicas e o mercado onde eram comercializados. O R1, que saiu em 1993 era focado para pista e desprovido de alguns extras de conforto, onde os bancos eram de tecido, sem tecto de abrir e claro, afinações mecânicas como dois radiadores de óleo e uma suspensão mais rija e rebaixada que a versão mais «civilizada» do RX7, a Touring; este último tinha então estofos em pele, tecto de abrir, escova do vidro traseiro, aileron… e não queremos continuar aqui a descreveras versões, se não em vez de um artigo obtemos um capítulo.

      Obviamente que até ao momento já espreitaram muitas fotografias deste RX7 e como já perceberam, estamos na secção de projectos, por isso parece-nos pertinente que, estando já alongados no texto, nos dediquemos um pouco às modificações feitas pelo Cláudio desde 2004, altura em que o bichinho do aperfeiçoamento automóvel começou a «morder». Curiosamente, conta-nos, que a primeira peça que comprou ainda não está montada, uma dumpvalve da Blitz. A ideia principal para este RX7 era uma réplica do referido RX7 do Velocidade Furiosa mas a dificuldade em arranjar as jantes (da Andrew F Racing) acabou por ditar a viragem para outra forma de alteração. O kit da Veilside até se arranjava, importando do Japão, mas ou era uma réplica perfeita ou então não se fazia. Assim, o Cláudio virou-se para uma das ideias iniciais, fazer uma atualização para a versão de 1999 (ou Spirit R).

      Depois seguiram-se mais modificações, obviamente. Filtros Blitz com tubagem em alumínio e removeu o AST (air separator tank) que é basicamente um pequeno tanque se enche de água para «purgar» o sistema de refrigeração e trocou esse sistema pelo do FC que é mais pequeno e logo, mais leve facilitando também a manutenção. Além disso, houve lugar a novo escape, também da Blitz e de 3 polegadas, removendo também os catalisadores e a bomba de ar que envia ar directo para o catalisador para na inspeção os gases serem menores. Tudo detalhes técnicos que foram prontamente explicados pelo Cláudio para que possamos enriquecer este artigo.

     Posteriormente colocou-se uma centralina Apexi com o monitor de controlo no interior do RX7, de forma a controlar os parâmetros como a entrada de ar, pressão do turbo, temperatura da água, knock do motor, injecção, entre outros. Juntamente a isso, o Cláudio colocou um controlador do turbo também da Apexi e uma wideband que verifica e controla a mistura ar/combustível de forma a todos os cavalos estarem disponíveis em qualquer faixa de rotação. Para trocar entre mapas, o FC Datalogic é essencial. Comunica entre a ECU e o computador e faz a gestão programada dos diversos mapas. Esta ECU também foi melhorada de forma a otimizar a ausência dos catalisadores que, com os turbos de origem, podia levar a aumentos de pressão nos mesmos, causando danos irreversíveis nestes componentes. Mas se estão cansados de lerem alterações, esperem que há mais. De uma assentada, montou um intercooler Blitz FMIC, a bomba de combustível Denso de um Supra e injectores mais capacitados para aumentos de potência (de 1680cc). Com isto, precisava de novo mapa para melhor gerir essas alterações e otimizar a potência gerada, com base num carro americano mas cujas alterações eram semelhantes.

       Estas alterações elevaram bastante a potência do «nosso» RX7. Dos originais 255 para 394 cv medidos em banco com 1 bar de pressão nos turbos, o ganho com as alterações feitas após muito estudo e leitura de informação compensou o tempo e dinheiro investido. Era então momento de se virar mais para a estética e nesse campo, este RX7 ainda está em evolução. A primeira foi o pára-choques do RX7 de 1999 japonês, importado directamente do país do sol nascente (da RHDJapan.com). Juntamente com ele, vieram as luzes e piscas e o lip frontal e o aspecto deste Mazda alterou-se completamente. A atualização passou também pela troca das jantes OEM de 16 polegadas pelas 18” que vemos nas fotografias, embora saibamos neste momento que virão outras a caminho (umas fenomenais Rays Gram Lights 57DR). Seguiu-se depois as saias laterais em carbono e o spoiler também do RX7 de 1999 para deixar todo este RX7 homogéneo.

        E já sabemos que os projectos são sempre projectos e por muito que os donos digam que estão acabados, sabemos sempre que isso não é verdade. Há sempre objectivos que surgem com a inovação tecnológica e com as novidades que aparecem no mercado. Neste RX7, há planos no campo estético e também mecânico. Está na prateleira da garagem um turbo Precision 6766 e um kit de injecção de álcool e água e ainda os belos Recaro do Spirit R. O grande objectivo do Cláudio é atingir os 600/700 cavalos com estética a condizer.

       A chegar ao fim do nosso artigo, paramos para «respirar» e apreciar. O Mazda RX7 é um verdadeiro automóvel que assim que foi lançado ficou automaticamente inserido na história não só pelo segmento em que se inseriu e que faz parte de um conjunto de supercarros de sonho, onde temos de incluir o Nissan Skyline, o Nissan 300ZX, o Honda NSX e claro, o Toyota Supra. A inovação do motor, a estética que permanece atual e a forma como continua a deixar todos os que olham para ele deslumbrados faz com que rapidamente possamos colocar este RX7 no nosso top em termos de portefólio. São 20 anos de ligação entre o Cláudio e o seu RX7 e sentimo-nos honrados por podermos ter tido a oportunidade de captar a essência nipónica deste ícone. Esperamos que em breve o possamos juntar aos que referimos anteriormente, pois estamos a «dever à sociedade» a segunda parte dos nossos Japoneses de Ouro. Stay tuned.