Rat Bug

      «Este artigo é fácil de escrever» pensámos nós enquanto revíamos as fotografias que tirámos numa tarde bem amena no meio do campo a um engraçado Volkswagen Beetle. O termo barn find diz-vos alguma coisa? É que este Carocha, como é apelidado por cá, foi basicamente isso mesmo, encontrado ao abandono no barracão com imensas outras coisas velhas a que muitos chamam lixo. Basicamente e resumindo, estávamos a arrumar o nosso Instagram e no meio da nossa «passeata» de final do dia, vimos uma foto deste Beetle, publicada por um velho amigo nosso cujo anterior projecto foi um dos que nos fez começar a All Wheels Photography. E por falar nisso, temos de voltar a colocar esse projecto no nosso site, mas fica para uma próxima.

      Apesar de acharmos que todos os que nos seguem e têm a paciência para abrir os nossos artigos conhecem a história do VW Beetle, achamos por bem falar um pouco disso, mais que não seja para incutir algum conhecimento aos poucos que possam não saber o que levou ao desenho do carro do povo ainda na primeira metade do século XX. De Käfer a Bug, este coupé de duas portas e quatro lugares (os primeiros tinham cinco mas por questão de segurança uns anos depois dos primeiros modelos passaram a levar apenas 4 ocupantes) foi construído para ser o carro do povo, barato, económico e fácil de manter e modificar. Apesar de historicamente estar ligado ao líder da premissa Nazi, Adolf Hitler, foi o engenheiro chefe Ferdinand Porsche a tomar conta das alterações finais e dos ajustes necessários para circular nas estradas. Entre 1938 e 2003 foram fabricados mais de 21 milhões de VW Beetle’s e tornou-se um dos mais populares e conhecidos automóveis a nível mundial. A fiabilidade deste Volkswagen está mais que comprovada por ainda haver milhares destes veículos a circular nas estradas. Vejam o caso da cidade do México, cujo modelo favorito para se ter como táxi é, precisamente estes Beetle.

         Os primeiros Carochas apenas conheceram produção já no final dos anos 40 apesar do seu início de desenvolvimento ter sido uma década antes pois aconteceu algo que mudou o mundo, a Segunda Grande Guerra. Os primeiros modelos ficaram conhecido como os Type 1, primeiro modelo. Mais tarde surgiram as designações conhecidas entre nós (1200, 1300, 1302, 1303…) que ainda hoje compõem cerca de 95% dos Beetle ainda em circulação. O Type 1 contava com um motor de cerca de 25 cavalos, potência mais que suficiente para a rede de estradas alemã dos anos 40. Com o surgimento das auto-estradas e o aumento da produtividade de outras marcas, rapidamente a Volkswagen percebeu que tinha de alterar o seu motor de forma a corresponder aos «novos tempos». A acompanhar os novos motores de 35 e 40 cavalos vieram outros modelos que do Beetle derivaram, nomeadamente a Pão-de-forma e o elegante Karmann Ghia. Para perceber a importância destes VW’s, o facto desta marca ter colocado o motor atrás juntamente com a tracção traseira fez com outras marcas europeias o fizessem também, de forma a acompanhar a nova moda.

       Os anos passaram e os construtores perceberam que era mais barato e fácil de produzir modelos compactos com tracção frontal e motor montado na frente do veículo mas a filosofia do Beetle não mudou, até ser lançado no final do século XX o New Beetle, este já com motor e tracção frontal também, tal como todos os outros concorrentes da mesma gama. Independentemente do caminho que tenha seguido é inegável que o VW Beetle foi um dos automóveis mais importantes do século XX, juntamente com o Mini e o Ford Model T, por exemplo. Hoje em dia, ver circular estes pequenos «insectos» (Bug) com rodas é raro mas sempre um deleite, principalmente quando vemos projectos fora do normal.

       E é out of the box que temos de estar ao ver este Volkswagen. Basicamente, foi como já referimos, resgatado de um barracão e apenas precisou de uma bateria e de um pouco de gasolina para que pegasse à primeira, comprovando o que dissemos anteriormente acerca da fiabilidade e longevidade destes automóveis. Depois disso, foi rolar com ele para perceber quais as primeiras necessidades a resolver antes de se poder fazer quilómetros cheios de estilo. E o que é facto é que aparte de uns ajustes na mecânica e na suspensão, este Beetle é um poço de charme e… alguma ferrugem. Aliás, o termo mais correcto para este Beetle é mesmo o do título, Rat Bug. As imperfeições maiores foram corrigidas com spray de forma a passar na IPO mas o resto, bem o resto mantém o charme dos anos 60!

         Mas caros seguidores da AWP, quando começamos a espreitar os detalhes deste Bug ficamos apaixonados pela simplicidade e carisma que encerra. O interior vermelho, surpreendentemente em excelente estado, nunca foi restaurado. Conta com a mesma pele desde que saiu da fábrica e todos os detalhes, arranhões e pequenas falhas contam a história e por onde passou este Volkswagen. O tablier tem ainda a pintura original, já desbotada do sol mas cuja patina é um deleite para os fãs da fotografia como nós e os botões que parecem ter acabamento de madre-pérola, funcionam. O velocímetro marca uns respeitosos 140 km/h mas até a 14 km/h este Beetle vira cabeças, mais que não seja por não estar brilhante e cheio de cromados espelhados como habitual.

         Basta ver as fotos para perceber que este Bug vai ter ainda mais histórias para contar e quando perguntamos ao João se os planos passam pelo seu completo restauro, encontramos uma grande hesitação no discurso. Ao mesmo tempo que um Carocha recuperado é algo de fantástico de se apreciar, temos de perceber que conservar a patina e estilo original de um também é opção a seguir, desde que se cuide dos cuidados relativamente à segurança, que aqui estão já tratados, nomeadamente travões e a referida mecânica e suspensão. Claro que sendo o João um fã de automóveis alterados (o outro projecto que fotografámos era uma Audi A6 com suspensão a ar) a altura ao solo deste Beetle foi diminuída para uma melhor postura. Depois temos ainda os detalhes como o deflector do capot, a placa com o «P» de Portugal e os variados detalhes da carroçaria que lhe dão o verdadeiro charme. Por isso ainda hoje não sabemos se este Bug vai ser melhorado ou aprimorado.

         Depois de um par de horas junto deste VW Carocha amarelo, era altura de ir para a sombra, repor os líquidos e apreciar o quão bem este pequeno «insecto» fica num aceiro no campo. Não precisamos de um cenário artificial e de um carro brilhante para que possamos apreciar o objecto em questão. A nosso ver, esta sessão fotográfica superou em muito as nossas expectativas e fez com que o bichinho dos clássicos se entranhe ainda mais na nossa mente de petrolhead que temos e… bem, ficamos apaixonados pela irreverência e exclusividade deste Käfer.