Prima Donna

     Secretamente, todos os amantes de automóveis têm um fraquinho pela Alfa Romeo. Todos. Desafiamos um verdadeiro petrolhead que nos diga que não gosta de um único Alfa Romeo. A marca, que completa em 2021 111 anos, tem uma história rica em modelos de elevada beleza, sucessos desportivos e um conjunto de seguidores e aficionados que apenas uma marca italiana consegue ter. Mais do que a paixão que os une, é a ligação única que um carro italiano consegue forjar com quem o conduz, como uma simbiose entre dois seres vivos. A transparência de sensações que se vive ao volante de um Alfa é algo que apenas alguns têm o privilégio de sentir. Esses alguns são os honrados donos dos Alfa Romeo que encantam nos encontros e viram cabeças por onde passam. Dos clássicos aos modernos, a marca italiana consegue ainda hoje reunir em eventos dezenas de modelos rodeados de fãs babados.

     Quando dizemos que todos os carros que fotografamos nos são especiais não estamos a mentir. Seja pela confiança que o dono deposita em nós, por ser um dos nossos favoritos ou ainda por ser um carro que teima em escapar das nossas lentes (por conflitos de agenda ou meteorológicos). Contudo, há algumas marcas no nosso coração petrolhead que nos fazem saltar mais rápido da cama quando o dia da sessão chega. Nós na AWP como verdadeiros aficionados que somos, sabemos também apreciar o que a história automóvel nos tem dado. E não estamos a falar de popularidades, de gostos de imprensa ou de opiniões pessoais, falamos mesmo da maneira como ajudaram (e ajudam) a criar paixões automóveis. Se há marcas cujo nome do meio é «carisma», a Alfa Romeo é uma delas, seja pelas formas como os seus carros eram esculpidos no passado ou pelo som que saía dos seus motores mais pujantes.

Detalhes que fazem a diferença neste Quadrifoglio.

       O mais potente Alfa Romeo jamais feito tinha de figurar num artigo nosso e já diz o ditado «mais vale tarde, que nunca». Lançado em 2016, esperámos 5 anos para conseguirmos ter na nossa frente um dos mais belos Alfa Romeo jamais feitos. É um automóvel apaixonante, com tudo a seu favor. Estética, motor, dinâmica, interior, história… tudo combinado para criar um verdadeiro ícone e um futuro clássico da marca, a par com inúmeros outros veículos da marca de Turim. Avisamos já os nossos leitores que vamos ser bastante subjectivos neste artigo, pois por vezes é difícil deixar apenas a razão conduzir os nossos dedos pelo teclado do computador sem que o coração interfira nas palavras que saem. Mas acho que estamos desculpados pois até os fãs dos modelos da concorrência deste Giulia QV são unânimes quando afirmam que este Alfa é um verdadeiro vencedor e um justo concorrente dos alemães M3 e C63 AMG (ok, e do Audi RS5)!

Tivémos um assistente diferente durante toda a sessão fotográfica.

     O Giulia conheceu o mundo ainda em 2015 mas só começou a ser comercializado no início de 2016, após meses de espera por parte dos milhares que colocaram logo uma encomenda assim que foi anunciado na altura do 105º aniversário, num evento único que teve lugar no museu da marca, em Arese. Veio, teoricamente, substituir o 159, cuja produção cessou em 2011. Basicamente, um interregno de 5 anos na oferta da marca italiana em berlinas familiares que cessou com uma verdadeira lufada de ar fresco na paixão italiana. O Giulia veio relembrar o mundo que os Alfa Romeo são bonitos e atrativos, apaixonantes e entusiasmantes. Vencedor de vários prémios, o Giulia é o primeiro Alfa Romeo de produção em série a usar tracção traseira em mais de 20 anos, tendo de recuar até 1992 quando o Alfa Romeo 75 foi descontinuado.

      O Giulia QV tem extrema importância para a marca, por ser um modelo com muita influência da Ferrari. E quando a Ferrari põe a «mão» num carro de outra marca, sabemos que vai sair dali algo único e muito apetecível. E… onde é que as duas marcas italianas juntaram forças? Entre detalhes estéticos e aerodinâmicos, foi na parte mais importante deste Alfa, o seu coração. O 2.9 V6 Biturbo em alumínio, construído com cilindros opostos a 90º foi feito em estreita colaboração com a Ferrari e debita uns saudáveis 510 cv e 600 nm, tornando o Giulia QV no mais potente Alfa jamais feito. E a união deste motor com todo o restante veículo foi tão bem sucedida que mais tarde a Alfa entrou na corrida dos SUV’s e criou o Stelvio QV, usando a mesma receita.

       Conhecemos o Giulia que vos mostramos há cerca de 3 anos na nossa primeira visita à Lizitália e às 48h Alfa Romeo. Podem chamar de amor à primeira vista, mas é difícil escapar à combinação entre o Rosso Competizione e um motor V6 da Ferrari. Não resistimos! O carro é baseado no Giulia normal, mas com umas formas mais arredondadas espalhadas pela carroçaria, nas entradas de ar do pára-choques, laterais e capot bem como o difusor na traseira. Tendo por comparação outros desportivos do segmento dos familiares chegamos à conclusão que as linhas simples e funcionais do Giulia QV conseguem dar uma simplicidade… bruta a esta berlina familiar. Não foi preciso um aileron grande, entradas de ar exageradas ou alargamentos de cavas desvirtuadas  para chamar a atenção aqui.

      

       A trabalhar com este fantástico V6, temos uma caixa manual de 6 velocidades que trabalha na perfeição com o motor ao enviar toda a potência para o eixo traseiro. Associado a tudo isto temos os, já obrigatórios em carros desportivos, modos de condução que na Alfa Romeo ostentam a sigla DNA – Dinamic, Neutral e Advance Efficiency. Mas como é um Quadrifoglio, temos ainda um modo mais apurado, o Race. Se começarmos no A e evoluirmos até ao topo, à medida que mudamos e subimos na escala de «excitação» de condução, vamos tendo alterações na firmeza da suspensão, na faixa de rotação em que o motor está mais responsivo e na dinâmica da direcção. Num modo mais convencional, e em condução tranquila, o motor V6 desliga 3 dos seus cilindros para poupar combustível, conseguindo consumos bastante interessantes para um veículo desta gama e com todas as suas características.

        Dinâmica à parte, que já sabemos que é soberba, tendo em conta os inúmeros vídeos que há no Youtube, passemos ao que as fotografias transmitem: estética e detalhes. Como é um carro italiano, sabemos que o aspecto importa e muito. E este Giulia QV não desilude. Da frente à traseira, é apaixonante em todos os centímetros quadrados da sua chapa em alumínio, capot e tampa da bagageira em carbono (e claro, também o tejadilho) e nos inúmeros detalhes que não nos fazem esquecer que estamos perante um desportivo. Como é sabido no mundo automóvel, velocidade e desportivismo estão associados a determinados detalhes, nomeadamente ao carbono, alumínio e a determinadas conjugações de cores. E no «nosso» QV, a combinação é perfeita. Pintado no apaixonante (e já referido atrás) tom vermelho Competezione Alfa, a atenção é imediatamente atraída para este carro. Não conseguimos parar de admirar este italiano, seja de que ângulo for.

     Aliás, difícil foi mesmo parar de tirar fotografias ou melhor, tentar não as repetir, pois parecia estar sempre a pedir mais e mais e mais fotografias. Só na edição reparámos que nos apaixonámos de tal ordem por este Giulia que enchemos o cartão de memória. Mas também é preferível termos a mais do que a menos. Escolhemos a zona do Parque das Nações a um domingo de primavera para privarmos com este italiano. E como é nosso apanágio, vamos espreitar em detalhe este Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio (primeira vez que escrevemos no artigo o nome completo… cativante, não é?). Como já referimos, o carbono faz algumas aparições visíveis na estética deste QV. Na frente temos um lip que existe não só para aprimorar o visual mais agressivo como também tem um papel importante na aerodinâmica, fazendo parte do pacote Active Aero que a mais de 100 km/h, abre e aumenta a força vertical descendente o que ajuda a colocar a frente deste Alfa em curva de uma forma mais incisiva. Depois temos dois detalhes únicos da marca italiana: o Scudetto central e a matrícula lateral. Nota dominante para os lindíssimos faróis e as grelhas que alimentam o V6 Biturbo com ar fresco.

        Mas se a frente nos atrai, a silhueta do perfil mantem-nos o olhar preso a este Alfa. Apesar de ser um carro familiar, com tudo aquilo que é habitual num veículo destes: duas portas de cada lado, bagageira e… bem, o resto é específico de um carro que apesar de poder levar os filhos à escola e ir ás compras para o mês, tem também um lado comportamental digno de um superdesportivo. Assim, há detalhes que marcam a diferença e que começam logo assim que olhamos para este Alfa, com a pequena saída de ar no guarda-lamas, elegantemente decorado com o trevo de quatro folhas que acompanha os êxitos da marca italiana desde os primórdios da competição. Depois temos as jantes, que são talvez das mais bonitas da indústria automóvel, sem perder o cunho da Alfa Romeo, derivando das usadas anteriormente nas versões GTA. Escondem uns eficientes travões que permitem abusar dos 510 cavalos e impedir que as correcções de trajectória se tornem difíceis de acontecer.

As jantes Alfa são lindíssimas. E estas têm uma tonalidade muito interessante.

    

       A fluidez no desenho confere um certo movimento estático ao carro e ilude a mente ao estar parado, parecer estar a andar. Esta sobriedade e humildade nas suas linhas contrasta com o som que sai dos 4 escapes na traseira que embora não seja como o que sai do C63 AMG, é simples mas demoníaco ao mesmo tempo. Estas quatro ponteiras inclinadas são a estrela da retaguarda deste Giulia e coroam um difusor que não tem apenas função de embelezar esta secção. Apresenta suma importância quando se trata de manter a traseira minimamente controlada, dado que assentar os 510 cavalos na estrada pode ser complicado quando as ajudas estão desligadas. Temos ainda um pequeno splitter em carbono na bagageira que ajuda a arrumar as ideias relativamente à desportividade deste Giulia QV. Depois de fotografarmos os detalhes, afastamo-nos e apreciamos a beleza que este carro tem de qualquer ângulo.

      Abrimos a porta e somos invadidos pela beleza latina que só os carros italianos conseguem entregar num habitáculo. Apesar de ser bastante «escuro» (temática habitual nos modelos mais modernos), temos pele, alcântara, carbono, alumínio, pespontos vermelhos, a marca em relevo nos encostos de cabeça… já lá vai o tempo da fama de má qualidade interior dos Alfa Romeo, pois a nova vaga de modelos da marca rompe com o passado e mostrar que também eles sabem fazer automóveis com qualidade. O tablier em pele tem um excelente tacto e combina com o friso em carbono. Rapidamente olhamos para o volante que é um dos mais bonitos e ao mesmo tempo, elegantes e desportivos. O centro pequeno, a alcântara no topo e o carbono nas bases sobressaem a qualidade a bordo e a temática desportiva a que o botão Start vermelho ainda dá mais destaque. Tudo isto está ao alcance dos nossos olhos e mãos enquanto nos encontramos sentados numas poltronas muito confortáveis em pele e alcântara que nos ajudam a manter o corpo no sítio quando fazemos uso dos 510 cavalos.

A marina do Parque das Nações e a zona do parque junto à ponte Vasco da Gama foram os cenários perfeitos para conhecermos este Alfa Romeo. E para aprofundarem a informação, deixamos um vídeo, em baixo, para verem este QV com visão Raio-X.

         É difícil parar de escrever sobre este Alfa Romeo, tal como foi parar de tirar fotografias. O Giulia QV é um exemplo de perfeição sobre rodas, uma excelente mistura entre três automóveis: o desportivo, o familiar e o track car. Consegue fazer consumos abaixo dos 10 litros /100 km (mas com muita paciência e cuidado no uso do pé direito) e ao mesmo tempo acabar com os pneus traseiros num par de horas em pista. E depois de pneus novos, consegue levar a família a passear ao fim-de-semana e terminar a viagem nas compras para o mês. E no meio disto tudo, reforça a história da marca italiana, dá-lhe uma nova vida e inscreve este modelo no Hall of Fame dos melhores carros do mundo, com garantia de clássico, ainda agora enquanto modelo recente. Não fomos racionais neste artigo, mas também é difícil encontrar defeitos num carro tão bem projectado e eficiente em tanta coisa. Nem o preço dele em novo nos consegue abalar a vontade de ter um mas até lá, vamos vendo as nossas fotografias e sonhando com o dia em que este Giulia assume o papel de Prima Donna da nossa garagem.