
Quando os raios de sol irrompem pelas frestas da janela, de manhã cedo, e acordamos a pensar que estamos de folga, surge logo na ideia aproveitar para tirar o pó à máquina fotográfica. Confirmado que está o bom tempo, fazemos aquela pesquisa matinal pelas redes sociais e ganhamos inspiração para essa ideia inicial de ir tirar umas fotografias. Mas como estamos na All Wheels Photography, não é paisagens ou pessoas que nos apetece captar nos instântaneos do cartão de memória, mas sim automóveis. E sim, a palavra usada para falar com uns amigos e desafiá-los para umas fotografias rápidas foi mesmo «ressaca», no sentido figurativo, pois há já algum tempo que não fazíamos o gosto ao dedo.



Dado que perto de um dos HQ da AWP existem bons locais para umas sessões rápidas, convencemos então um trio bem curioso para um café tardio e duas de letra. Rapidamente passamos a parte do café (até porque queríamos aproveitar a chamada golden hour para as fotos) e resolvemos contemplar o que tínhamos à frente. Apesar de serem três, houve tempo para apenas uma sessão completa e dado que andamos parcos em automóveis mais clássicos, viramo-nos para o Honda Prelude ali presente, neste caso numa curiosa e rara versão 2.0 4WS.
Este «prelúdio» foi desenvolvido como uma montra tecnológica para a Honda testar algumas novidades no final da década de 80. Em 1987, o modelo Prelude é mostrado ao mundo e rapidamente se tornou clara a apetência da marca nipónica pela tecnologia. Ainda hoje este Prelude de terceira geração é avançado e olhando para o passado, percebe-se o quão à frente do seu tempo estava.




Baby NSX. Termo carinhoso dado a esta geração do Prelude que no caso específico do modelo que aqui mostramos, conta com o motor b20a7 (nome de código, claro) de injecção e com 150 cavalos. E antes que divaguem na sigla que ostenta na traseira, este Prelude tem o sistema direccional nas quatro rodas (4WS) apesar de muitos confundir com tracção integral (4WD) ou de pensarem que se trata de um erro de tipografia (dado que o S e o D estão ao lado um do outro no teclado… sim, nós sabemos que vocês foram olhar pro teclado!). Este sistema direccional melhora a resposta em curva e a dinâmica em andamentos mais rápidos, permitindo uma mais rápida abordagem do apex de cada curva o que implica uma maior velocidade de saída, algo digno de um potente desportivo.
Além deste sistema 4WS, a Honda empregou neste automóvel «beta» imensa tecnologia e electrónica. Dos espelhos retrovisores ao tecto de abrir, passando pelo ar condicionado, direcção assistida e até memória de posição dos bancos, este Prelude está minado de gadgets e detalhes interessantes. E recordem-se, estávamos em 1987, há 31 anos atrás, altura em que muitos de vós nem eram nascidos; e hoje, damos como obrigatório e como dado adquirido estes detalhes nos automóveis novos. O tal sistema 4WS foi considerado um feito da engenharia e venceu vários prémios e claramente ajudou a que em 1987 este Prelude vencesse o prémio de carro do ano; este sistema é totalmente mecânico, isto é, existe sempre comunicação entre a direcção e as rodas traseiras, ao contrário das versões com sistemas controlados por um sistema electrónico (computador).




Este Prelude com a potência de 150 cavalos foi lançada apenas na Europa, sendo que em outros mercados as versões equivalentes tinham menos potência (nos EUA, por exemplo, a versão de topo era a SI, com 105 cavalos). O coupé era, na altura do seu lançamento em 1987 e 1988 a versão topo de gama da Honda no que concerne a desportivos e a detalhes tecnológicos, sendo destronado mais tarde (em 1989) pelo NSX, que tal como referimos anteriormente, foi amplamente inspirado neste Prelude. Em Portugal o seu valor era elevado, o que motivou uma baixa procura e uma raridade cada vez maior nos dias que correm. Já no mercador doméstico japonês (JDM), a aceitação foi interessante e superou até as expectativas da Honda, especialmente na versão 4WS.

Esteticamente apelativo, a frente esguia e baixa ajuda na aerodinâmica, tal como indica o baixo coeficiente de 0,34. A sua linha de cintura também baixa e um perfil coupé com traseira mais alta revela as intenções deste desportivo. Apesar das jantes não serem as originais e terem surgido anos depois, casam na perfeição com o rigor japonês que a Honda imprimiu neste automóvel. E claro, os faróis escamoteáveis dão aquele toque final de classe e tão característico da década de 80. Sentimo-nos jovens novamente, como que se estivéssemos a desfolhar uma revista automobilística da época. E parece que não mas a luz mais baixa do final de tarde ajuda a compreender melhor este Prelude; é «quadradão» mas tão charmoso.





O interior é, como dissemos, uma maravilha. Os bancos tipo baquet com memória e ajustes eléctricos sentam confortavelmente pessoas até de porte bem mais vasto que o nosso e ajudam a manter no sítio o nosso corpo quando este é sacudido lateralmente nas curvas mais apertadas. Curiosamente, a posição de condução é melhor que alguns desportivos recentes, apesar de conduzirmos em baixo, o que se compreende devido ao próprio desenho deste Prelude. Detalhes não faltam e até tem local para guardar as moedas. Ficámos fascinados. Tão fascinados que quando olhámos para o relógio percebemos que não havia tempo para mais.



Enquanto fizemos estas fotos, fomos conversando com o seu dono, Fábio, que conhecemos já no passado noutras sessões fotográficas. Modesto e tranquilo, conta-nos que nutre um especial carinho por este Prelude. Apesar de ser um modelo raro no nosso país, a sua procura culminou mais rapidamente do que pensava e a aquisição foi quase que obrigatória. E na nossa opinião, em boa hora a fez. Este Honda Prelude é um pedaço de história importantíssima para a Honda e que merece ser conservado e desfrutado em pleno, principalmente pelo conforto e disponibilidade do chassis e motor que faz ainda inveja a muitos modelos atuais. Ressaca curada, da melhor maneira!
