Plus.

    O nosso ano de trabalho não podia terminar sem um automóvel marcante. E se queremos fazê-lo bem feito, temos de recorrer à sensualidade das linhas italianas, claro. E não precisamos de ir para a Ferrari ou Lamborghini para o conseguirmos, basta escolher o automóvel certo, na cor certa e com o dono certo para conseguirmos algo que nos lance para os desafios de 2019. Não precisamos de esconder o jogo, estamos perante um dos mais bonitos Fiat produzidos desde o início da globalização da marca italiana. No tempo em que os desportivos prosperavam com os seus motores a gasolina e a preocupação com os gastos no combustível era ainda uma utopia distante, a Fiat resolveu finalizar a comercialização do seu desportivo com uma versão limitada e recheada de equipamento, de nome Plus.

   Foi no longínquo ano de 1992 que a Fiat mostrou a público as linhas do seu desportivo de duas portas, motores potentes e linhas apaixonantes. O Fiat Coupe começou a ser comercializado cerca de dois anos depois com a versão de acesso a debitar cerca de 130 cavalos num motor de 16v atmosférico e uma versão mais potente também de 2 litros mas com turbo de 190 cavalos. Mas mais que a potência do seu motor, o que cativou os fãs foi obviamente a beleza deste desportivo cuja receita utilizou ingredientes chave para obter um apetitoso prato final. Culinária à parte, conseguimos rapidamente perceber que as oposições de determinadas linhas no design funcionam muito bem e prova disso são as rectas sob as cavas das rodas, detalhe que consegue cortar o perfil sem quebrar a beleza do coupe, atribuindo-lhe carisma e tornando-se em algo que para sempre marcou o design deste italiano.

Contraste imponente: o vermelho da carroçaria e o verde do cenário.

     E como começamos a falar de motores e potências, voltemos a ele. A base do motor que a Fiat usou nos Coupe vem da irmã de armas Lancia e era usado no Delta Integrale e foi, neste modelo, responsável por várias vitórias no campeonato do Mundo de Rallies e com provas dadas em outros sectores de competição, sejam elas oficiais ou regionais. Neste caso, do Plus, o motor de 20v foi desenvolvido pela Fiat de raiz e estreou-se na segunda geração dos Coupe, sendo uma característica dos mesmos a tampa das válvulas em vermelho. Curiosidade ou não, os dotes artísticos e de design do rei Pininfarina foram recusados pelos patrões da Fiat (referente ao desenho exterior) o que fez com que fosse a Peugeot na altura a aceitar o desenho de um coupe de duas portas e cariz desportivo, dando origem ao lindíssimo Peugeot 406 Coupe, em 1996. Apesar disso, podemos dizer que a Fiat não ficou mal servida em termos de desenho e prova disso é o facto de praticamente duas décadas depois este modelo continuar a ser procurado pelos aficionados e atingem valores bastante elevados. Valorização já em marcha, sem dúvida.

    Várias versões foram vendidas como por exemplo a Limited Edition que supostamente era constituída por 300 automóveis, numerados através de uma placa no espelho retrovisor que, anos mais tarde se veio a confirmar existirem modelos com números superiores, o que fez com que os donos desses 300 modelos ficassem bastante «descontentes» com a desvalorização que os seus modelos tiveram. Mas temos à nossa frente outra versão, a derradeira e denominada de Plus, cujos detalhes passam pelos travões Brembo (pintados em vermelho), bancos Recaro (com pespontos vermelhos), botão de Start Engine e detalhes decorativos e cores específicas desta edição fazem com que esta versão continue a ser apreciada, se conseguirmos esquecer os tais detalhes das numerações.

Um gosto poder vislumbrar esta frente.

    Voltemos à nossa senhora de vermelho. A elegância das linhas está patente em todos os cantos, em todas as arestas, em todos os detalhes. Fica difícil de descrever o quão agradável é de ver este Fiat Coupe reluzir para as nossas lentes. É daqueles momentos repletos de epicidade para quem gosta disto, para quem gosta do que fazemos. Conhecer estes automóveis além das revistas e dos comparativos muda a nossa forma de ver a indústria automóvel e faz-nos viver a fotografia que captamos, uma a uma. Aliás, nesta sessão o tempo voou de tal forma que não nos apercebemos de a realizarmos.

    Para realizar esta sessão, optámos por uma zona mais isolada e pacata, de forma a absorver todos os pormenores deste desportivo. O desenho da frente faz todo o carro, com uma linha de cintura baixa, uma pequena grelha que atrai o olhar pela sua simetria perfeita. Os faróis com as «bolhas» são um detalhe que passou através de todos os modelos e versões, durante os 7 anos de produção do modelo. O lip inferior (pertencente a um conjunto de adornos estéticos tal como as embaladeiras, específicas deste kit desportivo) acentua a desportividade deste modelo e abre o olhar para a lateral, onde as embaladeiras continuam o design da frente e correm paralelamente aos tais vincos dos guarda-lamas, detalhe de design característico deste modelo. As bonitas jantes de quatro raios não escondem os tais travões Brembo perfurados, característicos das versões mais potentes e que não se negam a trabalhar e bem quando solicitados. Sim porque este Fiat consegue atingir os 250 km/h e chega rapidamente lá.

Já nos faltam as palavras para descrever este Coupe... bem, talvez uma: fantástico!

   Os típicos farolins (quatro, na realidade) na traseira são mais uma imagem de marca. A forma como se iluminam e se traduzem numa assinatura noturna quase inconfundível é algo que não podemos ficar indiferentes. A simplicidade da traseira é ímpar. Os reflectores simplistas, a ponteira de escape a «apontar» para a lateral, a ausência de asas e apoios aerodinâmicos que distraem o observador, tudo isto resulta tão bem que nos faz questionar para onde caminhamos no design automóvel, cheio de apêndices, grelhas, asas, emblemas, escapes… tudo adereços de uma festa que muitas vezes nem acontece. Aqui tudo é visceral, autêntico, essencial. E é isso que gostamos de ver e sobre o qual escrever. Mas não é tempo ainda de concluir neste artigo… vamos ao interior.

   Inspirem fundo. Mais… mais um pouco. Já está? Sentiram o cheirinho a carro novo? Queríamos tanto que as fotos transmitissem aromas, para perceberem que as palavras são parcas para descrever este Fiat e o cuidado no seu tratamento e manuseio. Pele e plásticos macios são palavras chave no interior deste Coupe e a parte mais marcante é mesmo a porção a meio do tablier e na zona superior da porta em vermelho que apenas é interrompido pelos mostradores dos quadrantes (de fundo branco) em que o velocímetro chama a atenção pelos 280 km/h (específico da versão 20v Turbo Plus) que marca e que sabemos que quase são atingidos. O conforto a bordo é excelente e vamos bem encaixados nos bancos da frente. Atrás é outra conversa, mas para ajudar a manter-nos «quietos» temos umas pegas em pele muito interessantes para nos segurarmos… mais um detalhe interessante, neste caso saído das mãos de Pininfarina. Neste interior a única coisa que não está original é o rádio, que foi atualizado mas que não destoa na qualidade deste interior.

As histórias em torno dos automóveis que fotografamos levam-nos a passeios pela mente. Imaginamo-nos no lugar de quem nos conta as peripécias em torno dos seus automóveis e apaixonamo-nos ainda mais pelos veículos.

   Sendo este Fiat propriedade do Nuno, que já tanto contribuiu para a nossa evolução na All Wheels Photography, só podia haver uma história interessante por detrás da aquisição deste Fiat Coupe. Este Plus foi adquirido em Castelo Branco através de encomenda na Fiat da cidade. Devido a atrasos «estranhos» (provavelmente ter-se-á perdido na alfândega), a sucursal da marca italiana viu-se obrigada a devolver o sinal dado pelo cliente e a cancelar a encomenda…. mas o Coupe vermelho já estava em Portugal e cerca de três meses mais tarde chegou ao stand. Foi vendido posteriormente a um amigo de um primo do Nuno que tinha ido estudar para a cidade de Castelo Branco em 2008 e assim que lhe pôs os olhos em cima, percebeu que era um excelente par para o outro Fiat Coupe que tem na garagem. Assim, um ano depois disto, em 2009, o negócio concretizou-se e hoje, o par de Fiat Coupe desfila a sua linhagem e sensualidade nas mãos do Nuno e do seu pai e até são utilizados como carros de férias, devido à interessante capacidade da mala e ao rolar tipicamente GT, confortáveis, fiáveis e suaves em estrada.

   Um desportivo de linhas elegantes, com um pulmão bem vivo e carregado de detalhes únicos e ímpares. Um objecto de desejo para muitos fãs e aficionados que ainda hoje vira cabeças por onde passa. Tem tudo num só pacote e tem o privilégio de habituar no seio de uma família única e de partilhar a garagem com modelos icónicos do mesmo país de origem e cujo ambiente é realmente fantástico. Inspirem, inspirem fundo e sintam o aroma a paixão pois nós renovámos a nossa pelos automóveis italianos.