Pérola Negra

     Este artigo tem de começar com um agradecimento! Aliás, mais do que um na realidade, pois houve muita gente envolvida para que possamos trazer-vos um dos melhores projectos de um Volkswagen Golf MK2 que já vimos quer pessoalmente, quer na internet. E o melhor de tudo é que é português de gema com tudo feito por cá. Ah, os agradecimentos… em primeiro lugar, um grande obrigado pela confiança que o Rafael Medeiros, dono deste Golf, depositou em nós, de forma a receber-nos no seu dia de aniversário e na sua casa com os seus pais e amigos, como se fossemos família. Isto vale ouro. Vale mais do que likes nas fotografias no Instagram ou elogios com palmadinhas nas costas. A confiança, amizade e sentido de camaradagem que vivemos nestes dias de sessões diferentes do habitual é algo a que nos habituávamos rapidamente, somos honestos. O outro agradecimento vai para o incansável João Carias, que foi um Uber do melhor durante todo o dia. Rolámos a bordo do seu Golf MK2 Fire&Ice e claro que o presenteámos com meia dúzia de fotografias com o projecto do Rafael. E rapidamente vimos que tinhamos ao alcance das nossas lentes dois dos mais interessantes Golf’s nacionais! E o que estas fotos já correram mundo nas redes sociais… Se preparem!

     

      Agradecimentos (da equipa AWP, os do Rafael estarão mais no fim deste artigo) feitos, vamos ao que interessa. Mas vamos fazê-lo de uma forma mais introspectiva, mais estilo diário de bordo do que foi o nosso dia. Arrancamos cedo de casa pois queríamos aproveitar bem o dia e claro, irmos com calma e tranquilidade. Após mudarmos de carro e já a bordo do Fire&Ice rumámos ao centro do país onde se escondem verdadeiras gemas automóveis. A viagem fez-se confortavelmente e antes que digam que estamos a dar graxa ao Carias, não é verdade. Para um veículo com suspensão a ar, rodou-se bem, tranquilamente e a boas velocidades, aproveitou-se para por a conversa em dia em especial o que a pandemia limitou no que concerne a acontecimentos na área do stance e outros eventos e nos vários projectos que vão aparecendo nas redes sociais e nos que se vai sabendo através de grupos do whatsapp e que se estão a guardar para os eventos que hão-de chegar.

       Ficou no ar e pensada a nossa ida a Potes, em Espanha, no próximo mês para o evento Potesse. Estamos a analisar essa possibilidade, pois trata-se de um certame fora do comum, numa vila pitoresca e arquitectoralmente muito interessante de visitar e fotografar. As expectativas para o que iríamos encontrar foram aumentando a cada quilómetro feito, especialmente porque o Carias conhece bem o projecto e claro, deu algumas ideias e opiniões sobre o mesmo. Assim, quando chegámos ao local de encontro combinado com o Rafael já íamos com um grau de entusiasmo difícil de controlar. E eis que o Rafael nos chega ao volante de um potente Golf MK7.5 R, com todo o seu embalo sonoro e muita potência. Este é o seu carro de uso diário e que o trouxe desde o Reino Unido, onde vive. Fiabilidade e potência num pacote único e bastante branco. E digam lá que não fica bem ao lado do seu MK2 preto?!

Mudámos este GTI de posição muitas vezes, mas fica sempre bem!

     Mas como dissemos, nem só de fotos foi feito este dia. Na realidade, apenas estivemos de «roda» das fotografias 2h. O resto foi à conversa, a partilhar experiências e principalmente à mesa, a comer e beber como apenas os portugueses sabem fazer. Fomos recebidos com bebidas frescas, salgadinhos para entrada enquanto a feijoada e o leitão acabavam de ser confeccionados pelos pais do Rafael. Chegam mais uns amigos, alguns deles muito importantes na concepção e construção deste Golf que nos fez fazer 400 km’s para fotografar e reunimo-nos à mesa. Rir, rimos muito em boa companhia e de prato e copo sempre cheios, fomos construindo na nossa mente a melhor forma de fotografar o projecto que estava fechado na garagem ao lado de onde nos encontrávamos. Mas nada nos preparou para o que iria sair daquele portão, e que antes de o vermos, já o ouvíamos a ressoar pelas paredes que já viram muita acção automóvel.

      O carro ao sol brilha, brilha muito. Demais até do ponto de vista fotográfico. Culpa? Bem, dos produtos da Autofinesse.pt, nossa parceira e claro, do extremo cuidado e paciência em cuidar que tem o pai do Rafael, principal responsável por este MK2 estar a rolar no dia da sessão dado que o Rafael se encontra, como já dissemos, no Reino Unido. Mas detalhes e pormenores à parte, era altura de entrar nos carros e rumarmos ao local escolhido pelo Rafael para a sessão fotográfica. Em comboio, serpenteámos pelas estradas estreitas de serra durante 15 mins até chegarmos a uma antiga serração, agora devoluta devido aos incêndios de 2017 na zona que destruiu não só património empresarial como centenas de hectares de obra-prima para este tipo de fábricas laborarem. Com as devidas autorizações, entramos no local para escolher ângulos e locais para as fotografias.

     O Golf MK2 trouxe à Volkswagen algo que o MK1 tinha começado: estabilidade no segmento. A simplicidade das linhas, a fiabilidade mecânica e a fácil e barata manutenção transformaram o MK2 num dos mais vendidos a nível mundial. E depois só sucesso conseguido, começaram a sair as versões mais limitadas e especiais, como é o caso do GTI. Já sabemos que quando vemos estas siglas num Volkswagen, que algo de muito bom vamos ter em mãos e nas últimas semanas tem sido recorrente escrevermos sobre os GTI, sejam eles de que geração for. Por isso não vamos entrar em detalhes históricos, até porque a história aqui é outra… bem mais potente e interessante. E isso leva-nos a falarmos de engine-swaps, algo que em Portugal tem sido raro de documentar devido aos entraves legais e logísticos com que os donos de projectos se deparam frequentemente. Mas ultrapassando (ou colocando de lado) a questão das leis, este GTI tem um coração diferente mas altamente promissor e claro, com muitas modificações.

 

       De capot aberto e mesmo para os inexperientes, rapidamente percebemos que o que ali «mora» é tudo menos o 1.8 da Volkswagen. Mas na realidade, a cilindrada manteve-se no bloco trazido de um Audi TT, ao qual tem acoplado um Turbo e claro, mais válvulas que no motor original. Portanto, temos coração Audi, com cabeça trabalhada e todo o bloco forjado pois para aguentar a potência gerada por todas as alterações que iremos enunciar em seguida, o coração do motor teve de ser (muito) reforçado. A parte electrónica está entregue a uma centralina Ecu Master e temos novos colectores de admissão, da ADT. O sistema de injecção foi obrigatoriamente melhorado, utilizando colectores da Donkeytec e injectores Siemens Deka de 630 cc juntamente com bobines do Audi R8. Na parte da alimentação deste 1,8T, os tubos de gasolina são da Vibrant tal como as braçadeiras do IC e um regulador de pressão da Radium. E num motor turbo, se há peça importante é o tal «caracol»: está na prateleira da garagem um Garrett G30-770 para atingir valores de potência entre os 500 e os 600 cavalos… épico!

     Para gerir toda esta potência e mecânica reforçada, não podia ser nem uma embraiagem de origem nem a caixa de velocidades. Neste campo, foram ainda mais além e transplantarem a caixa de 6 velocidades também do Audi TT mas claro, toda revista e atualizada e tal como o motor, reforçada para aguentar tamanhos números. Já está pronta para atingir os 320 km/h, algo atingível quando os cavalos também chegarem ao meio milhar. Para vermos esta caixa a trabalhar, temos de abrir a porta e espreitar o interior, mas antes disso, não nos podemos esquecer de mencionar a travessa da frente do cofre do motor integralmente feita em carbono, algo único por cá e que ajuda à distribuição de peso e melhoria de arrefecimento do motor.

      Agora sim, estamos preparados para abrir a porta e espreitar o interior. Somos rapidamente brindados com as fenomenais baquets Recaro CS, em alcântara e com a já conhecida excelente posição de condução. Sentados nas CS, colocamos a mão num volante BBS de três braços e personalizado tal como o restante interior. Junto ao volante e rapidamente acessível, temos a shortshift da CAE, que nos «empurra» rapidamente para o rally, pois parecemos estar sentados ao volante de um carro pronto a rasgar as estradas de serra que envolvem o local onde nos encontramos. O trabalhar metálico, puramente mecânico da manete cria o ambiente certo para um habitáculo como poucos, para o qual também contribui o quadrante digital (que nos lembra os Kadett GSI) e a rollcage aparafusada e com função dinâmica (impede o rolar da carroçaria). Honestamente não nos apetecia mesmo sair dali mas mais fotos tinham de ser feitas.

       Rodando o carro de sítio, fomos explorando o local. Com algumas armadilhas (buracos abertos e arame farpado espalhado pelo recinto), cuidado era palavra de ordem. Mas ao mesmo tempo, tudo isso ajudou ao ambiente para as fotografias e usámos tudo o que podíamos para dar mais ênfase ao Golf GTI que aqui vos trazemos. Com a batalha com o sol quase ganha (carro preto debaixo de sol directo é um desafio para qualquer um), procurámos os detalhes exteriores deste GTI para nos entretermos. Ressalta à vista de imediato as OZ Ultrallegera de 17 polegadas num tom dourado escovado que «casa» na perfeição com o restante carro. Tentam esconder, em vão, a travagem de 6 pistons do Porsche Cayenne na frente, de 334 mm e atrás de 280 mm do Porsche 996 com maxila de 4 pistons. Usa ainda travão de mão do Golf MK4 R32 para manter o «nível» quando estacionado.

 

      Para a postura certa, este Golf recorre a suspensão totalmente a ar, da Airlift. A forma como «sobe e desce» é algo do outro mundo, bastando décimos de segundo para atingir a altura pretendida. Um verdadeiro sonho para os fãs deste estilo de suspensão e estilo. Mas não é só com a suspensão e jantes referidos que este Golf atinge o estilo tão único e irrepetível. Todo o conjunto de modificações e ajustes feitos, desde os guarda-lamas mais largos para acomodarem as OZ passando pelos puxadores das portas do Porsche 944, todos estes detalhes permitem construir uma imagem excepcional e elevar este projecto a um nível que apenas se vê «lá fora». Aliás foi esse um dos objectivos do Rafael, desde 2010 altura em que comprou este GTI, ainda na ressaca do roubo do 1.3 que tinha em construção desde 2007. Desde então que aos poucos foi construindo este GTI, com toda a ajuda possível em especial do seu pai, do Hugo da HCMotorsport e claro, dos amigos mais chegados que nos acompanharam no dia da sessão fotográfica.

      Despedidas feitas, era altura de regressarmos a casa. Com o pôr-do-sol no horizonte, vidro aberto e o ar a entrar no habitáculo do Fire&Ice do Carias, imaginávamos já a edição das fotografias obtidas. Foram largas dezenas e sabíamos desde logo que o primeiro desafio era escolher as fotografias a editar. Talvez por isso chegamos ao último parágrafo deste artigo com o brownser a cair a ligação e a dar erro e por isso pedimos desde já desculpas a quem teve a paciência de ler este artigo até este ponto. Claro que chegados a casa e enquanto as fotografias passavam do cartão da máquina para o computador, comíamos algo rapidamente. Sim, temos sempre de começar a editar no dia da sessão para que se consiga o melhor resultado mas neste caso, começámos a editar e o difícil foi parar. Não é para admirar, estamos perante o MK2 mais completo e com melhor material dentro do estilo em que se insere, que conhecemos. É claramente um vencedor e um projecto que dará cartas não só por cá como no estrangeiro. Já só o imaginamos na margem do lago a rolar, em Worthersee…