Performante

      Íamos para sair de casa a caminho da Garagem_87 quando vimos no nosso feed do Instagram uma publicação com um touro amarelo. Bem, na realidade, ainda era mais branco que amarelo quando espreitamos a publicação da SecondSkin Design. A curiosidade levou-nos a melhor e rapidamente fomos espreitar esta obra de arte sobre rodas que é o Lamborghini Huracan Performante, principalmente quando há, em Portugal, menos de uma mão cheia deles a circular! Não, não podíamos deixar passar a oportunidade que tínhamos para fazer um registo fotográfico deste touro italiano. Mas não seria ainda nesse dia mas nas mãos do Nuno e do Vitor, da SecondSkin, rapidamente este Lamborghini se vestiu num dourado profundo de nome energetic yellow, da conceituada marca de vinil, Avery Denisson Graphic Solution Europe. E que bem ficou, não acham?

       Já lá vai o tempo em que a Lamborghini apenas se preocupava em construer carros desportivos para vencer à Ferrari, na estrada e nas vendas. Apesar de todo o esforço dos que permanecem a bordo da marca fundada por Feruccio Lamborghini em 1948, a Ferrari continua a vender muito mais do que a sua conterrânea e adversária mas será isso um problema? Não, para nós não é, aliás temos de ver isto completamente ao contrário, pois quem procura um Lamborghini ou um Ferrari procura um legado, uma lenda de quatro rodas. Procura a tradição da desportividade e claro, exclusividade. E neste último detalhe, a marca de Sant’Agata Bolognese bate a marca do cavallino rampante aos pontos. E em pleno século XXI, a imagem dos Lambos pode estar mais refinada mas continua a ser irreverentes e completamente show stoppers.

     

       Mas entremos no Huracan (contextualmente, no habitáculo é mais lá para baixo…). O «furacão» (Huracan) foi o nome escolhido e, como outros modelos, deriva de um touro muito corajoso que enfrentou muitos toureiros nas arenas ainda no século XIX (1879). Veio substituir o mais bem sucedido modelo da marca até ao momento, o Gallardo, que vendeu milhares de exemplares, nas suas imensas versões e derivações. Apesar de ter sido tudo alterado, o coração deste italiano de sangue fervente continua a ser o fenomenal, ruidoso e excelente V10, naturalmente aspirado que aqui, nesta versão mais focada para a pista, produz uns saudáveis 640 cavalos (mais 30 que a versão base) e 640 nm de binário, quase totalmente disponíveis logo às 1000 rpm. Mas é bem mais acima nas rotações que este Lamborghini ganha vida. E que vida!

       Com alguns ângulos a explorar e para espreitar melhor também o interior, não resistimos a acordar o estábulo que espreita logo atrás dos bancos, montado numa posição longitudinal posterior (daí o LP na nomenclatura das versões «normais») e o «gritar dos escapes» ecoa pela garagem de uma forma quase que grutesca. Sentimos, literalmente, o peito a vibrar enquanto o Huracan aquece os fluídos e se prepara para arrancar. Quando o relantim é alcançado, torna-se mais suave, calmo, quase que domesticado até pressionar o pedal direito. Mas infelizmente, o tempo disponível não permitiu que a voltinha acontecesse o que nos deixou ainda mais com água na boca para um próximo contacto com este especimen.

    A versão que aqui vemos é, conforme já perceberam pelas fotografias e pelas nossas referências, a versão mais hardcore e focada para a pista feita até agora pela marca italiana com base no Huracan. Surgiu no Salão de Genebra em 2017 e causou muito tumulto quando a marca decidiu não revelar «logo» o tempo feito na pista alemã de Nürbürgring, local habitual de comparação de vários modelos e marcas. É quase como que a Meca dos construtores, assumindo como oficial e definitivo o tempo que cada modelo faz ao longo dos 22 km’s da exigente pista de Nordschleife para mostrar a eficácia dos seus modelos. Mas este Huracan nem precisava de lá ir e bater o recorde em vigor na altura, dado que os 2,9 segundos dos 0-100 km/h e os 8,9 segundos dos 0-200 km/h anunciam desde logo a ferocidade deste automóvel.

        Para a dinâmica, não é só o poderoso V10 que contribui. Também todo um investimento tecnológico no chassis, suspensão e componentes de direcção e transmissão ajudam. Está 10% mais rígido graças à utilização de molas específicas e utilização de novas barras estabilizadoras que em conjunto com os amortecedores magnéticos, transmitem ao condutor uma verdadeira sensação de piloto de competição, mesmo a velocidades mais «mundanas». Mas a estrela neste Performante não é nenhuma das nomeadas anteriormente, é mesmo o fenomenal sistema ALA (Aerodinamica Lamborghini Attiva) que é, basicamente, um conjunto de flaps e ailerons eletronicamente ativados com tomadas de decisões em décimos de segundo para ajudar este Huracan a descrever as trajectórias quase impossíveis, à velocidade que o faz.

     

       E o ALA como funciona então? Não somos engenheiros nem gostamos de carregar os nossos artigos com muito texto técnico, mas por vezes, há mesmo necessidade disto. O sistema ALA é uma inovação da marca e faz com que este Performante consiga seguir trajectórias a velocidades bem superiores às humanamente «aceites». Segundo a marca italiana, este sistema ativo aerodinâmico consegue mais 750% de força descendente que os normais ailerons e spoilers. Basicamente consiste num sistema de vectorização do ar desde a frente até à volumosa asa traseira e utiliza uma série de «canalizações» e válvulas para conduzir o ar de forma a aumentar ou diminuir o «peso» que o ar deslocado faz na traseira.

      Duas canalizações junto à tampa do motor abrem e fecham de acordo com as informações do «cérebro» deste Lamborghini e fazem fluir o ar através de aberturas na asa traseira, aumentando o peso sobre esta e o grip que pode ser alterado e colocado apenas de um dos lados, aumentando o downforce na roda inferior e contrariar a transferência de forças e peso ao curvar. Se ambas as câmaras estiverem fechadas, há menos peso e consequentemente, mais velocidade de ponta, ideal para rectas. Também na frente existem detalhes deste sistema ALA com a ativação dos flaps no spoiler que em menos de meio segundo muda completamente a sua configuração abrindo nas rectas e fechando em curva para melhorar a aderência em curva.

     Mas escrevemos, escrevemos e escrevemos sobre a dinâmica e o motor e a potência e som deste Huracan mas… e o resto? Visualmente este Lamborghini é um hino à beleza automóvel. Baixo, largo, esguio, com traseira mais larga que a frente, iluminação totalmente em led e a utilização do Forged Composite na asa traseira, pára-choques, difusores e cobertura do motor, oferecendo um contraste muito interessante com a cor da carroçaria, que recordamos, passou de branco para este amarelo/dourado satin. Enquanto na frente, o destaque vai para o nariz baixo e esguio, na traseira é a colocação dos escapes que nos conduz o olhar ao restante. Inspirados na versão SuperTrofeo (de competição), a colocação e desenho da asa bem como do difusor e a posição dos dois escapes teve muitos dias de estudo em túnel de vento, para não alterar a dinâmica conseguida pelo sistema ALA. E o som… sim, temos de voltar a referir isto! 

      Já o interior não tem tanta surpresa, pois parece decalcado do Aventador. O Quadrante totalmente digital que altera o seu desenho e forma de apresentação de informações consoante o modo de condução (Estrada, Sport e Corsa) sendo o último apenas para quem tem boas mãos para este domar este touro, apesar de todos os apoios aerodinâmicos. Também no interior a Lamborghini não se poupou no uso do tal material compósito (mais leve e moldável que o carbono) e um pouco por todo o lado, pode ver (e tocar-se). As baquets desenhadas em exclusivo para este modelo forradas integralmente em alcântara seguem o padrão do tejadilho, quartelas das portas e até do chão, todos com este material. E não poderíamos sair deste habitáculo sem referir o botão Start-Stop escondido sobre o interruptor do «avião a jacto».

     Temos muito texto e muitas fotos mas em ambos os casos, são poucas as palavras e as imagens para documentar este automóvel. Uma verdadeira obra de arte limitada e bastante exclusiva, cujo dono tornou ainda mais exclusivo ao optar por forrar integralmente neste energetic yellow da Avery. A fotografia não faz jus ao impacto visual deste Huracan e da sua nova cor, tornando-se quase visceral a experiência de o fotografar, ouvir, sentir e tocar. Sim, estamos rendidos a esta peça de relojoaria sobre rodas que apesar de, provavelmente, passar mais tempo fechado na garagem que na estrada, merece todo o nosso respeito, imaginando-o a rasgar as curvas do Autódromo do Estoril ou, talvez mais facilmente, a percorrer o asfalto da nossa amada Serra da Arrábida. Resta-nos agradecer ao Nuno da SecondSkin e ao dono deste Huracan a disponibilidade e convite para conhecer uma das melhores obras da Lamborghini!