o cantar do CiSne

       A BMW já tinha esta guardada no cofre, certamente. Esta quê, perguntam vocês? Esta ideia de pegar num dos seus mais eternos desportivos e apimentá-lo de forma singular, unificando num só automóvel tudo aquilo que pode ser definido como perfeito: estética, dinâmica, conforto e personalização. Raro é quando começamos os nossos artigos logo a abordar o veículo em questão, mas neste artigo não nos vamos perder muito em introduções e «paleio» desnecessário. E como da história não rezam os fracos, este BMW M5 CS é o mais potente M5 de sempre, com uns respeitáveis 635 cavalos que «empurra» esta berlina até aos 100 km/h, em arranque parado, em 3 segundos. Não estão impressionados ainda? Então vão continuando a ler mas principalmente, a ver as fotografias que tirámos a este que bem pode ser o «cantar do cisne» dos motores V8 na linhagem M, com a eletrificação e o verdadeiro downsizing a acontecer em larga escala. Este M5 é daqueles casos raros que comprado agora, já é um clássico, por toda a conjetura em que se insere.

       Banhados por uma aberta no tempo imprevisível de Sintra, fomos com a DocDetail até ao Penha Longa Resort para fotografar este BMW. Requintado mas ao mesmo tempo desportivo, esta berlina de 4 lugares (sim, são só quatro mas não façam já scroll down para espreitar o interior) insere-se tão bem neste ambiente de luxo como num traçado de pista como o Estoril. Sempre fomos especialmente fãs de veículos polivalentes, em que o seu propósito não seja apenas o conforto mas possam ser dinâmicos, ou terem espaço para bagagem mas ao mesmo tempo permitirem fazer umas curvas bem rápido. Ou então que sejam eficazes em pista sem exageros estéticos, sendo agradáveis à vista… e no entanto, este M5 CS é tudo isso e bem mais. Já viram algumas fotos até este momento e já podem dizer uma de duas coisas: ou amam, ou odeiam! Apesar da estética ser convencional e sem exageros, os apontamentos bronze das jantes, dos «rins» e de outros pequenos detalhes não agradaram a todos, quando este BMW foi apresentado. Nós não podíamos gostar mais dessa pequena extravagância, acentuando ainda mais o carácter de exclusividade que este CS tem.

Os detalhes em «Gold Bronze» neste M5 são o elemento diferenciador principal face aos M5 Competition e M5 «normal». Um detalhe de cor que contrasta na perfeição face à cor da carroçaria.

     Curiosamente, seguimos com alguma atenção os vídeos, fotografias e teasers da marca de Munique. Mas nunca pensámos que pudéssemos ter uma peça disponível para trazermos para o nosso portefólio. Ainda para mais quando em Portugal são conhecidas, até ao momento, apenas 3 unidades matriculadas, o que sublinha ainda mais o factor de exclusividade que este M5 tem associado a si. Desde 1985 que o M5 simboliza o topo-de-gama dos familiares da marca alemã e sempre com intensa intervenção da divisão desportiva M. Volvidos 37 anos, conhecemos este M5 que será, como já referimos, o último dos puramente a gasolina, esse combustível em vias de extinção fruto de muitas políticas, más concessões de exploração e principalmente, pelo ambiente. Mas não vamos entrar aqui em discussões geo-politico-económicas pois achamos que isso é tema para, quiçá, fazermos um artigo especial entre dois ou mais veículos com tipologias de motorização diferentes.

     V8 4.4 litros. Lido assim, ficamos logo de alerta e com umas borboletas no estomâgo de ansiedade. Quando ouvimos trabalhar este V8 é refinado mas marca presença e não nos deixa esquecer que temos ali algo muito potente e agradável de ouvir e conduzir. Aliás, a letra V aliada a um 6, 8, 10 ou 12 a seguir é fator de excitação para qualquer petrolhead que se preze, e este BMW M5 CS não desilude. Mal seria, com preços a começarem no nosso país nos 225 mil euros e com a gasolina 98 a ultrapassar a impensável barreira dos 2€/litro, este BMW é algo que só está ao alcance do apreciador dedicado (e abonado). Não obstante e apesar dos valores de venda mais baratos fora do nosso país, as 1100 unidades que serão produzidas já têm todas dono, aumentando ainda mais o factor de exclusividade que este M5 tem. E poder dar-nos ao luxo de ter uma destas peças no nosso portefólio é algo que nos enche de orgulho e estendemos desde já um agradecimento ao Bruno Albuquerque da DocDetail o convite.

       Arrancamos da Doc para a Penha Longa Resort e desde logo somos bafejados por um som rouco, limpo, sereno mas intrusivo na nossa mente. Fruto da irrepreensível filtração e isolamento acústico deste BMW, os ruídos externos ficam… no exterior, e apenas somos brindados com um excelente sistema de som que rapidamente baixamos para o mínimo pois aqui o que nos interessa é mesmo ouvir a sinfonia dos 8 cilindros que tocam notas melodiosas em formato de octanas. A experiência fica completa quando somos constantemente encostados aos bancos-baquet de design futurista e de um conforto ímpar, em cada aceleração e passagem de caixa. Rapidamente esquecemos que estamos numa berlina com uns anunciados 1825 kg’s (o que, tendo em conta o tamanho, não é muito) tal não é a forma como este BMW se comporta. E já que estamos a «falar» sobre bancos e som e etc, porque não explorarmos mais deste excelente habitáculo.

Não nos esquecemos onde estamos.

      Começamos pelo óbvio: os bancos. Sim, são quatro baquets perfeitamente integradas num ambiente de luxo, desportividade e conforto. E desenganem-se os mais céticos que este M5 CS não vem desprovido de extras em prol do peso e da performance. Temos um grande ecrã tátil no topo do tablier que é o comand-center deste M5, onde podemos controlar todo o sistema de infoentretenimento, conforto (através das diversas configurações) e performance, como Menu M a ser amplamente utilizado por quem queira explorar bem este M5 CS, podendo até memorizar componentes e modos de condução, acedidos depois através das patilhas M1 e M2 no volante. Além disso, as tais baquets com o traçado da pista alemã Nürbürgring (onde este BMW foi amplamente testado) no encosto de cabeça, apontamentos em pele vermelha, peças em carbono e o emblema M5 iluminado (nas frontais apenas) são mais do que locais para nos sentarmos: são uma obra de arte em pele e alcântara e bastante leves, fruto das aberturas laterais na região lombar.

      No meio dos bancos, temos uma consola central fixa, sem alçapão, para otimização de peso e atrás temos também uma zona central sem banco. E enquanto que noutros desportivos de 5 lugares, o foco são os passageiros da frente, neste M5 CS todos são importantes, indo os de trás confortavelmente sentados em baquets tb individuais. Um pouco por todo o lado temos inscrições M5 e CS, com apontamentos em carbono, em vermelho Mugello e detalhes em pele e alcântara, tudo para otimizar a experiência e justificar o luxo que tem de existir a bordo de uma berlina que apesar de tudo, também tem componente familiar. A caixa automática M Streptonic de 8 velocidades com Drivelogic acopolada ao sistema de tracção integral xDrive tem uma bonita manete na consola central e claro, patilhas no volante para aumentar a adrenalina ao volante. Contudo é no modo puramente automático que os mais mundanos que se sentem atrás do volante podem retirar todo o «sumo» deste V8.

        Os menos 70 kg face à versão 10 cavalos mais «fraca» M5 Competition, deste M5 CS, são justificados também no exterior e até no motor. Capot, tejadilho e difusores em carbono ajudam à dieta deste BMW bem como pequenos detalhes como as jantes M, mais leves que as utilizadas nas versões abaixo. Os enormes «rins» circundados por uma grelha na tal cor bronze (que a BMW chamou Gold Bronze) são ladeados pelas bonitas ópticas full led com a luz diurna em amarelo ao invés de branco. As entradas de ar escondem os massivos radiadores e podemos ver ainda um pequeno lip em carbono. Mais acima, a esconder o estábulo, temos então o tal capot em carbono que ganha duas entradas de ar quando comparado ao capot da versão Competition. Até a tampa do motor é numa liga de plástico reforçada por carbono, para mais uma gramas ganhas no combate à obesidade deste veículo.

       No perfil o que se destaca mais são mesmo as jantes, no mesmo tom dos restantes apontamentos que permitem a este CS destacar-se dos restantes BMW M. A cor bronzeada das jantes e da pequena saída de ar no guarda-lamas frontal estende-se também à travagem. As generosas (mas sem exageros) jantes de 20 polegadas estão confortavelmente calçadas pelos brilhantes Pirelli Pzero Corsa, 275/35 na frente e 285/35 atrás. Não há grande diferença de larguras e tamanhos nestes pneus em cada eixo por se tratar de um BMW xDrive claro. Tudo isto, aliado a um chassis reforçado e à suspensão herdada do M8 GranCoupe fazem deste M5 um verdadeiro GT mas com a grande capacidade de nos causar algumas dores no pescoço num circuito ou numa estrada sinuosa. A performance deste M5 tem ainda o condão de só ser interrompida aos 305 km/h, porque está limitado eletronicamente, e faz o sprint dos 0 aos 200 km/h em apenas 10,4 segundos. Majestoso!

O pequeno lip da mala em carbono é já uma visão comum nos BMW M.

     A traseira encerra a responsabilidade de ser o cartão de visita para este modelo. O único local onde a sigla CS no exterior é mais visível (por ser maior, claro), este M5 tem a sua imagem garantida. Quatro ponteiras, um difusor generoso e spoiler da mala em carbono e claro, farolins em led são os pontos de interesse neste desportivo. Neste ângulo conseguimos também ver que este CS tem as «ancas largas», fruto do discreto aumento de largura do eixo traseiro – apesar deste M5 ter tracção integral – a dinâmica do sistema xDrive acaba por beneficiar o eixo traseiro e a maior estabilidade é assim garantida. É também deste canto deste BMW que conseguimos também espreitar o tejadilho em carbono com a pequena depressão central, algo já mais «tradicional» nas versões M com esta opção.

 

       É um automóvel brilhante. Apaixonante. Cativante. Hipnotizante. Não faz nada errado ou menos certo e consegue ser excelente em todas as áreas onde um desportivo familiar deve ser. Tem espaço para quatro adultos, consegue fazer longas viagens com alguma atenção ao consumo (11,3 litros de consumo médio anunciado pela marca, algo que duvidamos seriamente…) e ainda podemos encher a bagageira de couves, garrafões de azeite, bacalhau e outros bens quando vamos à terra. No entanto, se nos apetecer ir pela serra em vez da autoestrada, conseguimos divertir-nos imenso a bordo, sempre com a segurança que um BMW deste gabarito consegue garantir e também com a garantia (passe a redundância) de muitos sorrisos por quilómetro percorrido.

     São ¼ de milhão de euros, algo a que podemos chamar bastante caro, mas face ao facto de ser um automóvel tão completo e com um fator de valorização já garantido, achamos que é uma peça ímpar que merece todos os euros nele gastos, não só na aquisição como na manutenção, onde este exemplar em específico já está bem habituado, ao ser cuidadosamente detalhado na DocDetail a quem estendemos novamente um agradecimento pela confiança. O próximo M5 será algo bem diferente deste no coração mas acreditamos que na alma continuaremos a sentir o poder da sigla M associado a um número. E se o M5 sempre foi um dos melhores da divisão desportiva, este CS é a forma perfeita de encerrar o capítulo da marca BMW Motorsport, preparando o futuro com a eficiência de consumos, e a eletrificação total ou híbrida no horizonte. Mas antes disso acontecer, deixamos aqui o vídeo da Razão Automóvel, sobre o «nosso» M5 CS e que nos inspirou para a nossa sessão fotográfica e artigo.