MK2 Low

      Volkswagen, olhem bem para nós que quase aparecemos embaixadores da marca nestas semanas que se avizinham. Aliás, a volta pela marca começou na semana passada com o artigo do Golf MK1 El Pistachio e esta semana passamos para a segunda geração e embora nos mantenhamos no mesmo estilo, estamos perante um projecto bastante diferente quer nos detalhes quer, obviamente, no modelo visado. E claro que temos de fazer uma menção à sessão que aqui vos trazemos pois o Diogo, dono deste MK2, fez 250 km’s de viagem para nos encontrarmos em Águeda para estas fotos. Portanto, se alguém faz esses quilómetros num veículo com suspensão estática e baixa, apenas e só para ser fotografado por nós, acreditamos que estamos a fazer algo de bom e correcto. E claro, estamos radiantes de voltarmos ao norte para as sessões fotográficas.

      Sim, dizemos isso imensas vezes. Aliás, escrevemos! Tanto que já passou pela nossa ideia fazermos uma espécie de crónica sobre as nossas viagens para fotografia. Quer seja em eventos, quer seja em sessões privadas, a alegria que sentimos quando nos sentamos ao volante para fazermos quilómetros a caminho destes momentos que tanto gostamos. Para os poucos que não sabem, o que fazemos na All Wheels Photography não é a nossa profissão. Aliás, no nosso país continuamos a ser vistos como uns «gajos que fazem fotografias giras» e não como alguém que desenvolveu uma arte e que a utiliza para eternizar a ligação que existe entre o veículo fotografado e o seu dono, geralmente muito babado e orgulhoso do seu companheiro de viagem.

     E apesar de não ser profissão, há gastos envolvidos no material fotográfico, computador, licenças para usar os programas de edição, deslocações, tempo despendido na sessão e na edição das fotos… bem, poderíamos continuar. Não é um desabafo este artigo, apenas um heads-up para todos aqueles que passam pelo nosso perfil e nem algo como um like, um follow ou um save fazem (todos eles gratuitos). E apesar disto tudo, continuamos a sentar-nos ao volante a caminho das sessões com um imenso sorriso no rosto!

      Foi com este sorriso que recebemos o Diogo em Águeda, depois dele ter feito então bastantes quilómetros no seu Golf MK2 que rola, literalmente, a dois dedos do chão. O desafio que lançamos ao Diogo foi aceite e as fotos aconteceram numa «nesga» sem chuva pela altura do feriado da liberdade. Aliás, foi liberdade que sentimos em podermos estar ao ar livre, a fazer a sessão fotográfica, sem limitações de concelhos, sem restrições de deslocação ou horas de recolher obrigatório. E a cor deste Golf, a invocar o vermelho dos cravos que conduziram os comandantes de Abril à liberdade em 1974, foi basicamente a cereja no topo do bolo. E entre as nuvens negras no céu e os campos recentemente lavrados com pequenas zonas aradas, o vermelho deste Golf sobressai imenso e conduziu-nos à edição que vos apresentamos, mais virada para uma mood artística que propriamente demonstrativa de detalhes como em outras sessões.

      O Golf MK2 surgiu em 1983 e foi de imediato um sucesso especialmente na Alemanha e em outros países europeus. À imagem do anterior, também a segunda geração prometia baixa manutenção e economia com melhor média de consumo que a primeira geração. Produzido durante 9 anos (em alguns países a produção cessou bastante mais tarde), conheceu mais de 30 versões especiais e algumas limitadas, um pouco por todo o mundo e para conhecê-las, ou pelo menos, saber o nome delas, basta passar no Portal dos Clássicos num tópico criado pelo mentor da Type Talks onde todas estas versões estão nomeadas e onde podem ler mais sobre a história dos MK2.

       Tal como se pode ler no tópico do Bruno Arranhado no referido fórum, o MK2 foi apresentado no Salão de Frankfurt em 1983 com versões hatchback de 3 e 5 portas e um sedan de 2 e 4 portas, apelidado de Jetta conforme já sabemos. As versões de cabelos ao vento não saíram quase do papel – quase porque foram seis os construídos, todos com base em versões GTI pela marca de carroçarias Karmann sendo que apenas a metade lhes é conhecido o paradeiro. Não vamos estar a transpor desse texto para o nosso tudo o que lá está escrito, por isso renovamos o convite para irem ler (partilhámos o link mais acima).

     Maior em todas as dimensões que a versão da primeira geração, o MK2 tem linhas ligeiramente mais arredondadas mas no geral mantém o estilo da carroçaria de Guigiaro que tornou icónico o MK1. Lá está, em equipa vencedora, mexe-se pouco (não é assim o ditado, mas adequa-se muito bem aqui). E a «equipa» venceu mesmo, dado que foram vendidos cerca de 6.3 milhões de Golfs de segunda geração, por todo o mundo, e contando com todas as versões. Começou a ser vendido com volante à direita no Reino Unido cerca de um ano mais tarde e quase dois anos depois chegou aos EUA onde se enraizou no segmento dos utilitários mais vendidos. Apareceu a versão que talvez se tornou a mais importante, a GTD e os GTI evoluíram mecanicamente. Já na segunda metade do desenvolvimento da segunda geração, apareceu o super-Golf G60 com o opcional de tração integral e uma versão derivada da competição denominada Rallye.

      Ao longo do tempo de venda do Golf MK2, foram várias as marcas e os modelos com quem teve de medir forças nos mercados. Embora no início da sua comercialização o modelo da Volkswagen pouca concorrência tivesse no mesmo segmento, na primeira metade da década de 80 a Ford entrou em força com o Escort MK3, a General Motors lançou o Opel Kadett, a Peugeot tinha recentemente adquirido a divisão europeia da Chrysler (renomeada Talbot) e lançou o Simca. Outras marcas europeias também preparavam vários modelos, nomeadamente a Volvo, a Renault e a Fiat, bem como inúmeros modelos das marcas japonesas, dado que no Oriente o espaço para circular começava a escassear.. Podemos concluir que a Volkswagen manteve a ideia do pequeno familiar e incentivou outras marcas, coisa que com a primeira geração praticamente não aconteceu, sendo a VW dona e senhora desse segmento, praticamente.

      Sofreu, como todos os outros Golfs até à data, algumas alterações durante a sua comercialização, como a eliminação do pequeno vidro na janela da frente e o aumento da espessura das peças horizontais da grelha da frente. No final da década de 80, surgem os pára-choques maiores, similares aos usados nos EUA (devido a restrições de segurança) como peças de alteração do pacote Wolfsburg Edition. Ainda nos Estados Unidos, apesar do MK1 ser chamado de Rabbit, o CEO da Volkswagen decidiu que independentemente do mercado, o nome deveria ser igual para uma uniformização da comercialização e da imagem do Golf. Como já referimos, o MK2 foi substituído na maioria dos mercados (de volante à esquerda) no último quadrimestre de 1991 e no Reino Unido em Fevereiro de 1992.

        O «nosso» MK2 é um dos primeiros que apareceram, literalmente. É um Fase 1 de 1983, que foi inicialmente vendido na Alemanha. Foi importado em 1996 para o nosso país e desde então que tem sido mantido na família do Diogo. A história é curta, mas engraçada, pois na altura em que o Diogo começou a conduzir, a paixão eram os Hondas, devido à curva de progressão e desenvolvimento mecânico e claro, pelo som. Contudo, temos de concordar que para carro de uso diário, um Honda não é a melhor opção, não só pelos consumos elevados, como por ser um carro que, infelizmente, está associado a comportamentos menos adequados e também por ser algo fácil de ser adquirido pelos amigos do alheio. Assim, o pai do Diogo levou-o a ver este MK2, que estava bastante mal tratado de chapa e pintura mas que mecânicamente não estava mau.

      Assim, este Golf foi totalmente restaurado de chapa e pintura (eliminando os três tons diferentes de vermelho que tinha) e com o mexer no carro, o Diogo começou a tomar-lhe o gosto e a querer alterar pequenas coisas. O vício começou nas primeiras modificações feitas, nomeadamente na suspensão, com uns Coilovers JOM bem como as jantes, umas Porsche (vindas de um 996 Carrera) com 7 polegadas de largura na frente e 9 atrás e montam pneus 185/35 R17 na frente e atrás 195/40 R17. Mas o Diogo tem um segundo set de jantes em casa, umas OZ Racing UltraLeggera de 8 polegadas com pneus 185/35 R17 all around. Na frente temos um lip GTI fase 1 e uma grelha de 7 barras com friso cromado para aquele detalhe mais elegante bem como faróis Hella e piscas Hella clean. Atrás contamos com farolins Fifth clear que combinam bem com o spoiler Votex e que juntamente com as jantes e pneus montados para a sessão, vemos a agressividade deste projecto.

      O interior é muito interessante. O aspecto mais tradicional que se consegue mantendo o xadrez dos bancos estilo GTI é acentuado pelo volante BBS de três braços e pela manete de velocidades com o tradicional emblema de Wolfsburg (que também podemos ver nos guarda-lamas exteriormente). O vermelho e preto dos Recaro é cor predominante e detalhada em vários pormenores onde nem falta uma almofada da Coca-Cola, tradicional e da mesma época que este Golf MK2. Andar neste Golf é uma experiência engraçada. Vamos baixos, muito baixos, especialmente na estrada de calçada onde fizemos as fotos. Mas não vamos desconfortáveis, ao contrário do que possa parecer. Claro que não é um Mercedes ou algo similar, e sentimos todas as imperfeições, mas acaba por ser engraçado ver as pessoas na rua a olhar para nós a percorrer a cidade a 20 km/h, criando uma fila substancial de carros atrás deste Golf.

      

        É um projecto que ainda está no cavalete de modificações. Irá levar travagem melhorada recorrendo à Porsche com maxilas de 6 pistões com discos 334 mm e atrás de 4 com discos 280mm e rollbar atrás. É um automóvel algo conhecido nas redes sociais e vai surgindo nos eventos ganhando destaque principalmente pela altura ao solo que apresenta e por ser «fixo», ou seja, circula assim, não tem diferentes distâncias do chão consoante as necessidades. Para alguns é «estragar material», para outros é um modo de vida. Mas para todos, é um exemplo de resistência e preserverança, especialmente para os quilómetros que este pequeno 1.6 diesel já fez, mantendo sempre a eficiência e economia de utilização. No geral, este MK2 conta bem a história da Volkswagen e mostra que até os pequenos utilitários podem ter piada, com meia dúzia de alterações.