MGA

*Telemóvel a tocar*. Atendemos e do outro lado está o Eduardo, fundador da Garagem_87, uma das mais recentes parcerias da All Wheels Photography. O telefonema apesar de curto, deixou-nos muito curiosos, principalmente depois de vermos uma fotografia em jeito de teaser no Whatsapp. É um clássico, vermelho, aparentemente descapotável e com um aspecto muito retro e vintage. Se a chamada nos tinha deixado curiosos, a fotografia obrigou-nos (de bom grado) a ir até à Charneca da Caparica ter com o Eduardo e a sua equipa. A caminho fomos espreitando alguns locais para fazer as fotografias, dado que se trata de um veículo bastante especial e único, em que a Garagem_87 trabalhou para a Timeless Garage, recuperando o brilho da pintura e prestando um serviço de excelência na protecção da mesma, bem como do restauro de alguns detalhes.

    Com a chuva a brindar a nossa chegada ao HQ da Garagem_87, pensámos em adiar as fotos. Fotografar um descapotável à chuva não é, de todo, aconselhável… principalmente depois de olharmos para este lindíssimo MGA e percebermos que nem capota o referido veículo tem. Mas como somos um pouco out-of-the-box, temos o email do S- Pedro à mão e após uma mensagem, a chuva deu tréguas parciais e entrámos a bordo do habitáculo estranhamente espaçoso deste clássico dos anos 50. Apesar de entrar a bordo requerer alguma ginástica para não sujar o bonito e elegante creme dos bancos e das portas, depois de encaixados nos bancos, acabamos por rapidamente nos sentir como que «em casa», tendo bastante espaço para as pernas e até algum conforto  a nível lombar. Mas claro, o foco aqui não é o conforto. Estamos a bordo de um carro com quase 70 anos e o que importa aqui é a experiência a bordo e principalmente, o orgulho de deter uma parte importante da história da marca inglesa.

        E como somos mesmo um pouco malucos e o Eduardo da G87 alinha nas nossas aventuras, decidimos desafiar o estado meteorológico e ir até aos Capuchos, na Costa da Caparica, nomeadamente ao Convento para fazer umas fotos mais a sério deste bonito clássico. Aposta segura, dado que o sol rompeu entre as nuvens e nos brindou com uma bonita luz para fotografar este inglês de cabelo ao vento. A única limitação, se é isso que lhe podemos chamar foi a viagem, com o vento frio e as pequenas gotas que teimavam em cair a lembrar-nos que estávamos ainda em Fevereiro, no inverno e principalmente, que íamos a caminho da Costa, zona que parece ter um micro-clima sempre instável nesta época do ano. Os vidros baixos do pára-brisas servem para nos impedir de engolir alguns insectos e se nos encolhermos nos bancos, quase conseguimos ouvir o outro ocupante a falar. Mas a experiência única supera todos estes detalhes.

     Já no Convento dos Capuchos, tiramos uns minutos para apreciar este belo automóvel e conhecê-lo em melhor detalhe, principalmente nos pequenos pontos que nos podem escapar depois nas fotografias. Com isso, guiamos todo o processo fotográfico em torno desses detalhes e acrescentamos as fotografias de «corpo inteiro» de forma a que possamos dar ênfase ao que importa sem esquecer toda a estrutra do objecto fotografado. É, basicamente, o «bê-a-bá» das sessões fotográficas automóveis (ou a motas ou qualquer outro veículo, basicamente). Com este MGA, tal como em muitos outros clássicos, esta forma de direccionar a sessão fotográfica torna-se ainda mais importante pois há mais detalhes, mais formas mecânicas, está tudo à vista e são usualmente pormenores que orgulham os proprietários, pelo que temos de os captar na sua essência.

     Este MGA é um dos 101 000 exemplares feitos entre 1955 e 1962, ano em que foi substituído pelo MGB, claramente mais conhecido e com mais vendas. Isso não se traduz num menor interesse nesta peça que aqui vos trazemos até porque tem um formato de carroçaria totalmente diferente e bastante mais «limpo», digamos. E neste específico, esse clean look foi aperfeiçoado com a remoção dos para-choques cromados tornando o MGA bastante redondo e mais elegante, mais baixo até. Este aspecto é realçado pela fantástica cor vermelha viva que a Garagem_87 tratou e protegeu num trabalho de grande mestria e perfeição, como já é apanágio da casa. Aliás, mesmo antes de sairmos, o Eduardo entreteve-se a «puxar-lhe o lustro» para saltar ainda mais à vista e o que é facto é que, juntamente com o escape bem audível e característico, este MGA faz virar umas cabeças por onde passa.

     O nome do modelo derivou da quebra da linhagem de estilo que a MG operou para este modelo. Foi tão à frente do seu tempo em termos de design e de estilo, rompendo completamente com os padrões estabelecidos anteriormente, que foi considerado o primeiro de uma nova era, ficando apadrinhado de modelo A, MGA. O responsável pelo desenho deste futurista aspecto foi Syd Enever, projectista da MG que em 1951 resolveu criar algo elegante e estiloso. Aliás, o aspecto foi garantido assim que decidiram realizar uma carroçaria quase numa peça única, desde a frente até à traseira, para menor quebra com linhas e vincos dos diferentes painéis. Além disso, na versão descapotável não colocaram puxadores exteriores para não quebrar a fluidez do estilo. E olhem bem para ele, é de babar não é?

      O contraste da cor vermelha com os cromados das jantes em malha, das grelhas, dos detalhes dos para-brisas, dos espelhos em formato de bala… e claro, com o interior em pele clara que se mistura perfeitamente com o vermelho no tablier, fazem deste MGA uma das mais belas obras de arte sobre rodas que já tivemos oportunidade de fotografar e andar. Aproveitando o sol, voltamo-nos novamente para o interior que tem muito detalhe a explorar, principalmente no tablier, onde a estrela é o divinal volante em madeira e os vários manípulos bem como a chave com o porta-chaves da Deus ExMachina, uma marca conhecida no mundo dos hotrodders e amantes de clássicos personalizados, bem como de moda relacionada com carros e motas. O espelho no topo do tablier, junto à orla em pele remata o conjunto e remete-nos para outra época e levamos a imaginação para os finais de tarde do início dos anos 60, à beira-mar, a aproveitar a brisa… talvez fosse de estarmos perto das praias da Costa da Caparica, mas juramos que até sentimos o cheiro a maresia.

      Ainda fomos até ao miradouro para umas últimas fotos antes do céu fechar e a chuva voltar. Como se fosse uma espécie de aparição, a luz iluminou apenas o MGA e via-se no horizonte e até mais perto a chuva a cair na praia e no mar, com o céu carregado e a temperatura a descer novamente. Mas o MGA não se incomoda com o risco de mais umas gostas de chuva e continua a mostrar todo o seu charme, ali parqueado. Exploramos ângulos, espreitamos detalhes, até no chassis e escape, perfeitamente colocado à esquerda da traseira, responsável pelo «borbulhar» deste motor… Todo este MGA respira classe, elegância e um «quê» de exotismo. Sentimo-nos uma estrela a bordo dele e ao mesmo tempo humildes por podermos conhecer como é circular num veículo com quase 7 décadas.

    Uma experiência fantástica que nos mostrou novamente o grande trabalho feito pelos senhores da Garagem_87 que projecto após projecto, continuam a deslumbrar e a mostrar que além de recuperar pinturas e fazerem detalhes mais cuidados, a mestria no restauro está cada vez mais aprimorada. Mal podemos esperar pelos próximos veículos que a G87 nos convidará a conhecer!