
Levantar cedo custa a todos. Levantar cedo a um domingo custa ainda mais mas… nem sempre. Neste caso então, quase que nos antecipamos ao despertador, para começarmos a sessão o mais rápido possível. Depois de reunirmos o material na bagageira e de pequeno-almoço tomado, rumamos a sul de sorriso estampado na cara para uma sessão especial. Chegando a Setúbal, o céu abre um pouco e como que ilumina-nos o caminho até ao local combinado para nos encontrarmos com o pedaço de história que viemos fotografar. E não, não fomos para a Arrábida (embora vontade não nos tenha faltado, claro!).




Ainda não o vemos, mas já o ouvimos. Um BMW M3 ouve-se bem, e o som agudo e metálico dos escapes ecoa pelos edifícios da Luísa Todi, mas este M3 em especial, com os ajustes que o tornam único, ainda é mais ruidoso. De repente, somos brindados com um vulto negro, de olhos semicerrados que surge na traseira do nosso carro… até mete medo! Dirigimos-nos até ao local da sessão, o Porto de Setúbal, que por ser domingo se encontra calmo e sem trânsito, permitindo-nos realizar o nosso trabalho tranquilamente. E o que temos então à frente? Bem, um verdadeiro supercarro, claro.



A linhagem M, da BMW (a quem damos novamente os parabéns pelo centenário) continua a fazer sonhar os apaixonados pelos automóveis e em especial os fanáticos pelos modelos mais eficazes, desportivos e icónicos. Na All Wheels Photography já nos faltava um destes, sem dúvida, dado que começamos a nossa abordagem à marca bávara pelo possante M5 E60 (que postaremos novamente assim que for possível) e que nos deixou boquiabertos com toda a envolvência na condução, eficácia em curva e ao mesmo tempo, pela capacidade de manter as funções familiares presentes a qualquer momento. Será o M3 E46 assim?





O modelo que veio substituir o bem sucedido E36 trouxe bastantes novidades, com um novo motor de 6 cilindros de código S54 que veio substituir o S50B32, que era apelidado de motor de guerra, com uma fiabilidade e margem de evolução ímpares. O S54 debita, na versão europeia do M3 E46, uns saudáveis 343 cv’s que podem ser amplamente aumentados com algumas alterações e… não estaríamos na secção de projectos se isso não se verificasse aqui. Um ajuste electrónico no centro de operações deste 6 cilindros (ECU) juntamente com a supressão dos catalisadores e a adaptação de válvulas no escape, com controlo manual ajudaram a que este M3 tivesse ainda mais pulmão do que de origem. Ah, e claro, justifica o som metálico e delicioso que este BMW emite em cada passagem de caixa, em cada aceleração. E já que falamos na caixa, temos mesmo de dizer isto: felizmente, uma manual! Uma maravilha de caixa, que casa na perfeição com o 6 cilindros em linha, e permite uma passagem rápida e precisa de mudança e ajuda a tirar o máximo partido do conjunto chassis-motor deste M3, tornando-se obrigatório levar este bimmer ao redline sempre que possível, que não é nada difícil, diga-se de passagem.








Como bom projecto que é, as alterações não são apenas mecânicas. Debaixo do metal da carroçaria as modificações foram pensadas com um único objectivo: arrasar em pista e em estradas sinuosas. E esteticamente também sofreu ajustes, que melhoram ainda mais a postura, mesmo parado, deste M3. Percorrendo a silhueta deste BMW, notamos logo duas diferenças face ao M3 normal: a ducktail na tampa da mala e o para-choques forntal, provenientes do mais potente CSL. Na frente, esse para-choques CSL casa na perfeição com os piscas laranjas e os rins em preto, contrastando com o tom âmbar dos angel-eyes tão tradicionais nos BMW. Destaca-se, claro, os apêndices aerodinâmicos em carbono e a admissão de ar colocada estrategicamente do lado esquerdo do para-choques.
Percorrendo a lateral, o que domina na imagem deste M3 são mesmo as massivas jantes BBS CH de 19 polegadas em preto brilhante, em generosas medidas (8,5 polegadas de largura na frente, 10 no eixo posterior) que juntamente com os coilovers KW V2 (reguláveis em altura e dureza) assumem o compromisso de melhorar não só a estética deste M3 como também a sua dinâmica em estrada. Claro que com tanta alteração para tirar o melhor proveito deste E46, também os travões foram melhorados, para uma segurança acrescida. Foram escolhidos uns fantásticos AP Racing (conjunto de pinças, pastilhas e discos) para uma eficácia de travagem ímpar.






O interior também não desilude. A pele vermelha faz um contraste perfeito com o azul-quase-negro da carroçaria do M3 e dá um ar de requinte ao interior. O volante da divisão M juntamente com a manete de velocidades da mesma secção desportiva da BMW formam um conjunto delicioso quando se conduz de forma veloz e agressiva, com pegas perfeitas e posicionamentos perante o condutor que não poderiam ser melhores. Os bancos são envolventes e apesar de já acusarem a idade, mantém a firmeza e rigidez que se exige quando se está aos comandos deste M3. O conta-rotações e o velocímetro já da era antiga a marcar 300 km/h é um convite a cometer excessos e demonstra logo o carácter velocista deste automóvel.



Depois de analisarmos tecnicamente este fantástico automóvel, descansamos um pouco na sombra (obrigado S. Pedro) para conhecer um pouco da história que envolveu a aquisição deste desportivo. Dado que é um carro de sonho para qualquer um, também o Tiago sonhava com o dia em que o poderia comprar. Como verdadeiro petrolhead assumido, soube aguardar e procurar a peça certa, o automóvel perfeito. Após longos meses a poupar, enquanto trabalhava e estudava em simultâneo, surgiu a oportunidade. Já com emprego certo e com certezas de futuro, mandar-se de cabeça na aquisição de um automóvel destes pareceu-lhe a opção correcta e numa segunda vez à venda, este M3 não lhe escapou. Conta ainda, satisfeito, que fez um excelente negócio pois por ter adquirido o BMW através de um particular, conseguiu poupar centenas de euros comparativamente ao preço pedido pelo stand, meses antes. Uma história feliz, sem dúvida, de um jovem que consegue ter como seu primeiro carro, um veículo de sonho e dos seus sonhos.


Este BMW transpira agressividade e desportividade. Mesmo parado e a posar para as lentes, impõe respeito e aparenta sempre ser um automóvel rápido e incisivo. Dá sempre a sensação de estar a rosnar para nós como que a dizer «levem-me para a serra… ou para a pista, tanto faz!». E o seu dono lá lhe faz a vontade, ocasionalmente, pois este M3 já percorreu os Autódromos do Estoril e do Algarve, sempre a ímpor-se à maioria dos presentes, com um andamento forte, certo e constante. E para ver isso, pedimos ao Tiago para dar uma volta pela zona, para aproveitar para as rolling shots.

Por ser domingo, as estradas da zona industrial da Mitrena estava desertas e o aspecto negro, escuro deste M3 contrasta na perfeição com o ambiente fabril, cinzento e industrial daquela zona de Setúbal. Aproveitamos uma aberta no tempo para percorrer aquelas estradas para algumas fotos e também para ver o que é este M3 a andar e claro, ficamos deslumbrados com o tom agudo e metálico dos escapes perto do redline (sim, já o mencionámos antes mas é mesmo supreendente a nota sonora deste M3 E46), que alterna com um ressoar mais grave em andamento mais contido e controlado. Contudo é quando passamos para trás deste BMW para as fotos de traseira que percebemos a eficácia do conjunto chassis-suspensão, com o M3 a descrever as curvas sem qualquer oscilação da carroçaria, imitando na perfeição um comboio sobre carris. Não há hesitações, não há dramas e mesmo quando provocado, a saída da traseira é perfeitamente controlada, embora seja praticamente e apenas trabalho de pedais e volante. Sim, este M3 ainda é da era antiga, a tecnologia presente está lá, mas é um automóvel de condução pura, envolvente e apaixonante. Obrigado BMW!



Alguns quilómetros depois, encostamos numa berma para podermos avaliar os resultados da sessão e satisfeitos com o resultado, despedimo-nos do Tiago e da sua cara-metade e claro, do fantástico M3. Um modelo que nos faz sonhar ao mesmo tempo que nos faz tremer sempre que acelera a fundo enquanto se afasta de nós. Sem dúvida, um verdadeiro supercarro, um verdadeiro ícone da paixão automóvel que não podia faltar na All Wheels Photography.
