
Infância. Uma palavra que tende a desaparecer do quotidiano de cada um de nós. Ou porque caminhamos para a idade adulta, ou porque já lá chegamos ou então porque simplesmente optamos por passar essa fase (há quem diga que é a melhor fase da nossa vida) agarrado a consolas de jogos, telemóveis ou às redes sociais. Não vamos dissertar aqui sobre o desaproveitamento dos jovens nem da forma como os seus tempos livres devem ser ocupados mas o que é facto é que a nossa infância foi bem diferente da que agora observamos.




Imaginem então isto: dois jovens adultos, nascidos na década de oitenta, cujos passatempos na sua infãncia era a televisão, andar de bicicleta, jogar ao berlinde ou fazer jogos de futebol em que os postes da baliza eram pedras ou até os ténis dos jogadores… se se identificam com isto, sigam o nosso raciocínio. As séries de televisão na nossa juventude eram baseadas em acção, aventura e muita animação. E se já tínhamos a pancada pelos automóveis nessa altura, esse gosto era potenciado com determinadas temporadas televisivas de algumas das mais bem sucedidas séries. Quem não se lembra do Esquadrão Classe A com a fantástica GMC (furgão preto com riscas vermelhas literalmente indestrutível) ou do MacGyver que guiava um Jeep à prova de tudo.

Pois bem, na linha destas séries, surgia o KITT – Knight Industries Two Thousand, um automóvel com capacidade autónoma de tomar decisões e se conduzir sozinho. David Hasselhoff protagonizava esta série, como Justiceiro, um «agente» que com a ajuda de uma equipa e do seu Pontiac Firebird Trans-Am de 1982 (motor V8 de 5,7 litros), venciam os inimigos e evitavam assaltos, raptos e outros fenómenos de vilania que surgiam nos vários episódios. Se ainda estão no modo imaginação, pensem então como nós reagimos quando um dos heróis da nossa infância saltou dos ecrãs para as nossas lentes na All Wheels Photography. Sentados à mesa a delinear esta sessão fotográfica, lá trauteavamos o genérico da série, entusiasmados com o dia.



Pois e o dia chegou, molhado e escuro, o que nos pareceu perfeito para enquadrar o KITT no cenário ferreo da zona portuária de Lisboa, junto ao Parque das Nações. Começamos as fotos com um sorriso de orelha a orelha e sem esconder o entusiasmo, colocamo-nos logo à conversa com o Miguel, dono deste Pontiac, para conhecer a história por trás desta verdadeira estrela de cinema. Tal como nós, também o dono deste KITT era fanático pela série, sendo que a aquisição deste automóvel, há cerca de um ano, foi o concretizar de um sonho de infância. Apesar de ser genericamente igual ao usado na quarta temporada da série, o «nosso» KITT tem um V6 de 3.1 litros e 145 cavalos (o primeiro deste modelo a ter injecção electrónica), mais que suficientes para desfilar pelas ruas da cidade.


As principais diferenças entre este modelo (da geração de 1992) e o usado na série são o para-choques frontal, espelhos, saias laterais, farolins e aileron traseiro. Ainda assim, e devido ao excelente estado de conservação em que se encontrava, o trabalho de Miguel em transformar o seu Pontiac numa réplica do filme estava facilitada pois bastava alterar esteticamente alguns componentes, ao invés de restaurar o automóvel e ainda fazer as referidas alterações. Ora espreitem o work in progress. deste KITT.







Como em todas as réplicas, há partes da mesma que foram mais complicadas de encontrar que outras. O mercado português é pobre nestas peças e o investimento grande, pelo que é um projecto especial cujo desenvolvimento não está ainda terminado, digamos. No caso do KITT, existem réplicas um pouco por todo o mundo. Algumas são cópias fiéis do carro da série, mantendo o mesmo motor, utilizando todo o material original e adaptado para transformar o Pontiac Trans-Am no veículo do Justiceiro e ser o mais preciso possível. Outras pessoas optam por réplicas personalizadas, valorizando mais o que é feito tendo em conta o projecto inicial e a referência cinematográfica, mantendo algumas partes originais e intocáveis.

No caso do KITT português que aqui mostramos, foi dada maior importância ao exterior de forma a manter a funcionalidade do interior (convenhamos, o cockpit do verdadeiro KITT é tudo menos espaçoso e confortável). Assim sendo, o processo de alteração e personalização deste Pontiac restringiu-se à estética e aos componentes básicos de transformação, aqueles detalhes que fazem com que qualquer pessoa que se cruze com este automóvel na rua o reconheça imediatamente como o KITT, o carro do Justiceiro.


Antes das alterações, o Miguel viu-se obrigado a intervir no motor e escape, para melhoramentos dinâmicos. Depois disso, adquiriu o para-choques frontal da quarta temporada da série (que eram alterados, juntamente com outros detalhes, de temporada em temporada) com os respectivos faróis diurnos. Depois investiu nas jantes, utilizando os tampões estilo turbocasts que dão o ar limpo e intemporal ao set rolante (e que permite ter o look sem as jantes originais. Depois vieram os espelhos iguais aos da série e o black out traseiro, o painel que esconde os farolins e que apenas se pode colocar de forma directa no Trans Am de 1992, como é o caso.
No tejadilho levou T-Tops, os painéis removíveis estilo targa que tanta emoção davam na série quando era preciso ejectar algum passageiro menos benvindo a bordo. Posteriormente a isto, veio a peça mais emblemática do KITT, o scanner frontal que na série oscila horizontalmente à medida que o carro fala com as personagens. Caros leitores, embora a fala e o som do scanner não se ouçam muito alto (por enquanto), há a oscilação na mesma, ora vejam no vídeo no fim do artigo..

A alegria e satisfação do trabalho feito até agora neste Pontiac está impresso no olhar e no tom de voz do Miguel à medida que nos conta todas as fases de desenvolvimento do seu KITT. A experiência tem sido fantástica e que como se tratar de um automóvel facilmente reconhecido, surgiu a par com o investimento no carro em si, o investimento numa empresa de aluguer deste automóvel para casamentos, festas temáticas e outros eventos (para mais informações, visitem a página do Facebook: https://www.facebook.com/specialcustomer .





Claro que, tal como dissemos anteriormente, este Pontiac está ainda em fase de aperfeiçoamento. Tendo o exterior terminado, Miguel irá investir no interior, instalando o famoso tablier futurista com o volante digno de uma nave espacial. Para já, este interior mantem o design simples e básico do modelo base, escuro mas de fácil leitura e que foi alvo de melhoramentos tal como o restante automóvel. Certamente que estas alterações serão feitas na Rodrigues Autoshop, onde este Pontiac tem passado parte da sua vida recente a ser alvo de transformação pelas mãos do José, membro da equipa da oficina.


Como todas as replicas do KITT, cada uma delas tem um valor específico, de acordo com o material e com a quantidade de gadgets instalados comparados com o da série. E aqui falamos de valor sentimental / pessoal e não monetário, pois é objectivo de cada dono destas réplicas transformá-las da forma mais pessoal e correcta possíveis, conforme referimos. Este «nosso» Pontiac está realmente no bom caminho e ajudou-nos a reviver o passado, quando corríamos para a frente da televisão para durante cerca de uma hora, sonhar que conduzíamos um automóvel que além de falar connosco, ainda conseguia saltar por cima de obstáculos, era à prova de bala e ajudava o seu condutor a combater o crime. Voltámos, ainda que por pouco tempo, a ser crianças. E se foi bom!
Para terminar, temos de deixar o nosso agradecimento ao Vitor, um “fan” da série que nos auxiliou num momento em que o KITT deixou de “falar” e precisou de uma ajuda preciosa. O nosso obrigado!