Japoneses de Ouro – parte 1

      Inicialmente, pensámos que começar este artigo seria fácil… afinal de contas, estávamos em plena época natalícia e como tal, bastava um efusivo  «Bom Natal!». Mas nisto das inovações e das informáticas há sempre coisas imprevistas com as quais não contávamos «esbarrar» nesta altura do ano, em que tínhamos alinhavado um belo set de artigos. Ainda assim, pensamos que começamos bem no nosso novo websiteBasta a fotografia inicial para perceberem que a All Wheels Photography elevou o nível do que é um artigo «especial» com parte da nata desportiva dos anos noventa no que concerne a automóveis japoneses. Combinado ao longo de algumas semanas, e devido à logística mais complicada, resolvemos dividir em duas partes este artigo. Não dependem um do outro, mas quando virem os protagonistas da segunda parte vão entender a interligação entre eles.

Alinhados para a diversão.

     Não é de agora o nosso apreço pelos automóveis japoneses.  O Japão é, para qualquer petrolhead que se preze, uma espécie de Meca automóvel, onde a cultura é intensamente vivida e onde o limite é apenas a imaginação e a capacidade de resolução de determinadas modificações ou projectos. Não é por acaso que quando navegamos na internet e nos deparamos com projectos completamente abusados, esteticamente de gosto muito estranho, com proporções inéditas, esses estão sediados no Japão. É o gosto pelo automóvel, pela unicidade do projecto e um pouco pela excentricidade que os japoneses se guiam quando desenvolvem um automóvel.

     O mesmo se passou nos anos noventa nas principais marcas automóveis daquele país asiático. A Honda, Mitsubishi e Nissan eram (e ainda são, embora em menor escala) responsáveis por produzir automóveis inéditos e com detalhes e características que os impulsionaram directamente para os sonhos dos fãs ocidentais. Se foi assim com a generalidade dos modelos produzidos, com os desportivos não foi diferente. O NSX, o 3000 GT e o 300ZX foram os principais reponsáveis pela abertura do mercado de importação global do conceito de desportivo japonês, surgindo por arrasto a cultura JDM (Japanese domestic market) muito por culpa das diferenças entre os modelos comercializados no Japão e fora deste. As características únicas de alguns dos modelos japoneses tornam apetecível (e em alguns mercados ilegal) a importação de determinadas versões de desportivos japoneses.

Alinhados ou a circular, estes japoneses não perdem o encanto.
O termo JDM, algo que anima muitas discussões.

  No caso específico destes cinco exemplares, todos eles foram comercializados na Europa, embora Portugal tenha ficado de fora da venda de parte deles, por culpa de um mercado fortemente virado para a indústria automóvel francesa, italiana e alemã. Com o passar dos anos e com a tal vertente JDM a crescer, cada vez mais se utiliza a importação para obter alguns destes modelos, raros no nosso país e com valor comercial a crescer, com o factor raridade a associar-se ao conceito de pré-clássico que alguns já detêm. O termo JDM é amplamente utilizado quando se fala destes veículos embora erradamente, pois não se define como um carro «JDM» apenas e só por ser japonês. Essa designação refere-se aos veículos cujas especificações são exclusivas do mercado japonês ou até a veículos unicamente produzidos para esse país.

    Mas deixemo-nos de definições, termos e designações e passemos aos intervenientes. Começamos por aquele que certamente os nossos leitores menos conhecem, o Mitsubishi 3000 GT. Este portentoso (e espaçoso) desportivo da marca dos três diamantes esteve em produção durante 8 anos (1991-1999) e conheceu variações do seu nome e pequenos detalhes consoante o mercado onde era comercializado. No Japão, chamado Mitsubishi GTO, o 3000 GT teve um volume de vendas inferior ao esperado devido às suas dimensões (que excediam o suposto tamanho autorizado pela autoridade automóvel japonesa) e ao custo de produção, o que elevou o seu valor de venda, tornando-se mais caro que os seus rivais (Toyota Supra, Honda NSX, Nissan 300ZX…). 

    Fora do Japão, a sigla GTO tem um peso importante e associa-se de imediato à Ferrari, o que tornou a comercialização deste desportivo de quatro lugares no mercado ocidental ainda mais limitado. Contudo, e sob a nomenclatura 3000 GT (na Europa) e Dodge Stealth (nos Estados Unidos da América, fruto de uma aliança entre a Mitsubishi e a Chrysler), o 3000 GT lá foi conhecendo alguns clientes em alguns mercados.

    Dono de detalhes únicos para um desportivo da década de noventa, o 3000 GT contava com o inovador bloco 6G72 V6 twin-turbo e uns saudáveis 320 cavalos de potência, colocados no asfalto pelas quatro rodas (que apenas o Nissan Skyline possuía também). Além da performance bem interessante, a forma como este 3000 GT descrever as trajectórias em curva também é de mencionar. Estabilidade e segurança é algo que nunca falta na condução desportiva deste japonês, graças à suspensão adaptativa que também era algo inovador para a época.

      E já que falamos de avanços tecnológicos, o que dizer do spoiler frontal inferior e traseiro de ajuste automático adaptando-se à velocidade? E do botão de gestão do ruído do escape, que permite os modos sport/tour? Relembramos que estamos a falar de um modelo de 1991 e não de 2017. Apesar de tudo isto, devido ao custo elevado do mesmo modelo em novo e das limitações já referidas anteriormente, o 3000 GT é um modelo que em Portugal é muito incomum mas que faz parte do Hall of Fame dos desportivos japoneses.

     Viramo-nos agora para a Nissan. Se bem estão recordados, já dedicámos um artigo ao representante da marca neste «confronto» e como tal, nada melhor que ter o mesmo elemento desse artigo, acompanhado por uma versão original e stock do mesmo. Sim, vamos quebrar os moldes e ter dois 300 ZX… e dois NSX, mas a esse já lá vamos. O Nissan 300 ZX é o único dos presentes que ainda surgiu nos anos oitenta o que trouxe alguma vantagem em termos de mercado, dado que a concorrência estava atrás e não à frente em termos temporais. Também dono de uma irreverência e postura moderna tendo em conta a altura em que surgiu, o 300 ZX, tal como o 3000 GT, também conheceu nomenclaturas diferentes consoante os mercados. No tal mercado JDM, foi e sempre será recordado e chamado de Fairlady Z, nome que já se associa a esta sub-família de desportivos japoneses desde o icónico 240Z. O X adicionado à nomeação define determinado conjunto de alterações e extras luxuosos, quer sejam adicionados como opcionais ou como pertencentes à lista de equipamento de origem.

Eternos rivais na história automóvel. O 300ZX e o NSX partilham do carisma e desportividade que nos dias de hoje são dificeis de igualar.

     O 300 ZX (Z32) é o que nos interessa neste caso. A segunda geração deste desportivo surge em 1989 no Japão e em 1990 nos restantes mercados. Dotado de uma estética aerodinâmica ímpar, de um aspecto robusto e de inovações tecnológicas, este Nissan foi bem recebido na comunidade petrolhead da altura e ainda hoje é um desportivo de excelência e uma excelente aposta enquanto automóvel de culto ou para alterações mecânicas mais interessantes. Originalmente, o 300 ZX conta com um motor de 3 litros em linha, também ele twin-turbo com 300 cavalos e 384 nm de binário que contavam com uma preciosa ajuda para serem bem aproveitados na estrada: o inovador controlo de direcção às quatro rodas (denominado Super-HICAS – High Capacity Active Controlled Steering) que hoje em dia se pode ver com mais facilidade mas que há 27 anos era uma novidade interessantíssima. Tal como o 3000 GT, o 300 ZX foi pouco comercializado em Portugal devido ao seu custo de aquisição e manutenção e pelo facto de estar à sombra de modelos com pedigree reconhecido (Porsche, Mercedes e BMW).

      Também dois são os NSX. E confessamos desde já que foi com o dono do NSX preto que começou esta brincadeira que culminou neste especial. Há muito que este NSX faz parte do seio de amigos da AWP e era com tristeza que ainda não tínhamos conseguido dedicar um bom par de horas a privar com ele e com o seu dono, claro. Apesar de ainda estar prometido o artigo dedicado unicamente ao NSX, ter dois dos mais interessantes e carismáticos modelos japoneses presentes nesta sessão fotográfica foi (e continua a ser) motivo de orgulho para nós. 

    Dado adquirido para qualquer petrolhead, o Honda NSX foi desenvolvido com a participação muito importante de um dos melhores pilotos automóveis de sempre, Ayrton Senna. O apelidado «Ferrari japonês» esteve em produção durante 15 anos, atravessando toda a década de noventa e o ínicio do novo milénio.

   Não são precisas grandes descrições para este desportivo, pois desde o momento em que surgiu que se tornou uma referência para a classe onde se insere e rapidamente entrou para a lista dos mais procurados e dos mais rapidamente valorizados. O conceito de carro desportivo, construído totalmente em aluminio (até o 3.000cc V6 é em alumínio), com motor central e tracção traseira animou os mercados que no início da década de noventa recebeu este Honda de braços abertos. Não nos podemos esquecer que o Honda NSX surgiu na altura em que outras marcas desenvolviam com especial apreço os seus desportivos, o que tornava a vida comercial do NSX mais difícil do que seria previsto.

   Ainda assim, o NSX chegou e venceu. Apesar de nunca ter atingido números de venda astronómicos, o facto de contar com um motor V6 alimentado pelo já na altura extraordinário sistema VTEC (Variable Valve Timing and Lift Electronic Control) e de ser um modelo que dinamicamente tinha um nível de excelência acima do normal faz com que ainda hoje o NSX seja um dos veículos desportivos mais procurados e com maior potencial de valorização do mundo, se não contarmos com os Ferrari, Porsche e afins. Mesmo comparando com esses, o NSX é mais exótico, interessante e divertido de conduzir que muitos dos seus rivais da altura, fazendo valer o seu valor comercial mais baixo na altura da aquisição para conquistar compradores.

NSX - sigla que surge de New Sportscar eXperimental.
O «camisola» amarela a liderar o comboio japonês deste artigo.

    Seja original ou alterado, qualquer um destes desportivos que aqui mostramos atrai as atenções. Arrancar do Parque das Nações e liderar um comboio de desportivos sedentos de estrada aberta, a ronronar atrás de nós, mostrando de vez em quando a garra e voz grossa dos seus motores e escapes é algo que não esqueceremos. Nem nós, nem os traseuntes que puderam «lavar as vistas» com estes japoneses e captar raras fotografias deles todos juntos. Uma verdadeira aparição em dia de Inverno, cujo sol nos agraciou a sessão fotográfica e permitiu que os contrastes entre o cenário e os automóveis fosse algo que nos deixa bastante satisfeitos com o resultado final.

       E se gostaram deste especial, tenham calma e mantenham-se atentos… a segunda parte está para breve, com os restantes «cavaleiros» a quererem fazer a sua aparição. E nem precisamos de nomear os modelos, certamente que todos vós chegam lá!