GTi-cónico

      23h30. Meio da semana. Sentados no sofá, viajamos pelo Youtube a ver alguns vídeos de carros, de comparativos e de testes, uns mais sérios que outros. Confirmamos a tendência de cada vez mais serem o número de Youtubers, Instagramers, Influencers a usarem as redes sociais para tentarem vingar num mundo progressivamente mais digital e competitivo neste sentido. As horas passam e a inspiração para escrever este artigo teima em não chegar mas certamente não é por culpa do excelente sujeito em revista aqui, o belíssimo Volkswagen Golf GTi Performance, aqui na sua mais recente geração, a 7 e ½ (ok, vamos lá… mk 7.5, vá-se lá perceber o grupo VAG…).

      E de repente, já escrevemos um parágrafo. Já desbloqueámos a mente e as palavras fluem naturalmente. Ok, vamos confessar que o que nos fez ganhar «asas nos dedos» foi mesmo o percorrer a galeria das fotografias que editámos deste GTi e recordar a presença que este Golf tem ao vivo. Pode parecer apenas «mais um» Golf no meio do mar urbano de automóveis mas essa impressão dissipa-se quando estamos a uns 100 metros dele. A postura, acerto estético e claro, a sonoridade fazem-nos logo ter a certeza que não estamos perante um bluemotion (nada contra, atenção!), principalmente no dia da sessão que aqui vos trazemos, dado que tivémos tempo para apreciar a chegada deste GTi dado o acesso ao local não ser o mais fácil que existe.

Com mais ou menos ângulo de foto, este GTi é uma agradável visão.

    Geograficamente encontramo-nos na «ponta» de Almada, na zona do Olho de Boi, conhecido pelos mais antigos do concelho como a fonte do peixe, hoje em dia uma zona devoluta que ainda tem alguns teimosos a pescar e claro, a trabalhar em pequenas empresas que ali se mantêm sediadas e ajudam a manter à tona uma zona que tem um incrível potencial turistico e até comercial mas que como em muitos outros locais do nosso país, se vão perdendo em políticas de centralização e de pouco aprumo no que é tradicional e tão necessário à população. Não vamos prolongar-nos no discurso político, autárquico mas temos de reforçar a ideia de estarmos num local tão interessante e do ponto de vista da fotografia, bestial.

O que dizer desta frente?

    Agora que estamos todos na mesma página, vamos ao Golf. Depois de o parquear no primeiro local para as fotografias, tiramos uns minutos para o apreciar. Com 7 gerações anteriores, este 7.5 parece, à primeira vista, ser mais do mesmo no sentido estético e na oferta dinâmica. Mas a Volkswagen não anda a dormir e isso percebe-se assim que nos aproximamos dele e reparamos nos detalhes estéticos, no ronronar do motor ao relantim e claro, nas pipocas que o escape entoa ao mínimo toque no acelerador. Sem dúvida que estamos na presença de um grande carro, cheio de personalidade mas também de responsabilidade em tempos de mudança em que ter a sigla GTi na bagageira está já longe de significar sucesso de vendas e presença no primeiro lugar do pódio dos melhores desportivos compactos (ou hothatchback).

      Este GTi merece e pede para ser conduzido no limite, bem para lá do que a lei rodoviária portuguesa define. É daqueles automóveis que tem duas personalidades, um pouco ao jeito do Dr Jeckill and Mr Hyde, com a vertente utilitária e familiar de fácil acesso e depois um lado selvagem, provocador e até sensual quando conduzido com as unhas cravadas no volante, prontos a desafiar as leis da gravidade e da física. As quatro portas e bagageira com volumetria aceitável percorrem o lado racional de possuir um Golf Gti mas depois o velocimetro digital, os bancos com envolvência total e o motor possante e de excelente envolvência exploram o nosso lado emocional e como em muitas coisas na nossa vida, por vezes deixamo-nos levar pela emoção ao invés da razão. Mas será aqui o caso?

    Se para os mais desatentos este Golf GTi pode passar despercebido, para quem tem mínima cultura automóvel isso já não acontece. Mas mesmo para os que preferem futebol aos automóveis, há muitas siglas «GTi» no exterior deste Volkswagen, de forma a não se perderem no vasto (not!) compêndio automóvel. E se há sigla que nunca está a mais é o GTi, que transporta para este 7.5 a importância e relevância dos desportivos da marca alemã. Desde o primeiro GTi que o cariz desportivo e o porta-estandarte de novidades técnicas e dinâmicas da Volkswagen ficou entre a este segmento de desportivos. Não era difícil ver em meados da década de 80 e posteriormente nos anos 90 os GTi serem adquiridos por pessoas mais velhas, na sua maioria já com poucos anos de trabalho pela frente que procuravam num carro a baixa manutenção, o conforto e alguns extras que nas versões inferiores não eram uma possibilidade.

    Mas viremo-nos para o «nosso» GTi. A bonita cor branca ganha nesta versão um encanto que não tem nas versões mais mundanas. Os diversos apliques em preto e os detalhes contrastantes do carbono dos espelhos tomam a sua devida importância em quebrar a tela mais neutra do restante trabalho de carroçaria. Sabemos que o vermelho é cor que fica mesmo muito bem nos Golf GTi mas quanto mais olhamos e apreciamos esta «Branca de Neve», mais lhe achamos graça. E claro, fotogenicamente é bestial, especialmente pelas sombras que o local em que nos encontramos têm, prometendo um aspecto mais sombrio ao trabalho final.

      Começamos esta sessão fotográfica sob o Tejo, num cais onde os pescadores que partilhavam connosco a manhã de inverno lá iam apanhando o almoço. Rapidamente nos alertaram para a pouca conservação do cais (nós diríamos mesmo nenhuma) pelo que não era aconselhável por ali permanecer muito tempo. Mas deu para algumas fotografias com Lisboa como fundo. Aproveitámos o som da rebentação para fitar a frente deste Golf, que se destaca dos demais pelas grelhas laterais inferiores que «escondem» os faróis de nevoeiro. Mas atentem que num GTD, por exemplo, esta zona é semelhante. Depois mais acima, na grelha, a ostentação do logótipo GTi acaba por ser o factor predominante da distinção neste Golf, dado que até as ópticas full led são semelhantes a outras versões igualmente bem equipadas. Aqui a diferenciação é feita pelo risco vermelho no interior da mesma que se prolonga pela grelha favo de mel, uma tradição já nestes modelos desportivos.

A frente capta-nos o olhar e seduz o observador, especialmente com os leds diurnos ligado.

    Sem perder o embalo no olhar, fitamos a lateral onde o claro destaque vai para as massivas jantes de 19 polegadas Brescia que escondem os travões que apesar de não encherem as vistas e a jante, fazem a sua função e em ritmos mais rápidos custam a acusar a fadiga embora quando o fazem, seja algo complicado. Problema? Não… pois podemos usar a caixa manual (sim, felizmente este Golf tem uma caixa manual mas já lá iremos) para travar o embalo e auxiliar os travões. Também ainda na lateral temos a inscrição GTi na ilharga e um ligeiro lip na embaladeira e claro, as 5 portas para o conceito familiar não ficar desvirtuado. Olhando neste ângulo, tudo parece fluir tão naturalmente que chegamos a achar que houve mão divina no design deste desportivo.

     E para não perder a tal fluência de linhas, na traseira temos o difusor que nas laterais faz a ligação visual com o referido «acrescento» da embaladeira e claro, dupla ponteira, uma de cada lado, com uma sonoridade ímpar e que nos faz pensar como será a voz deste GTi com escapes de marcas mais viradas para a performance e desportividade como a Akrapovic ou a Milltek. Mas atenção, não estamos a desdenhar a «goela» deste GTi que já envergonha muitos tenores na forma como soa, mas apenas a imaginar «este» Golf com uma afinação das cordas vocais. Tal como nos restantes ângulos deste Golf, também a traseira mostra a agressividade subtil e até «calma», sem cair em exageros dos detalhes de ângulos e acrescentos e lâminas e etc, que tanto é comum nos dias de hoje. Apenas um reparo, o dono deste GTi acrescentou um pequeno lip da Maxton Design no topo do spoiler, para um maior acentuar das linhas de tejadilho. Aposta ganha.

     Aproveitamos que o sol vai virando a sua iluminação para espreitarmos o interior. Aqui sim há mais diferenças perante os Golf’s mais acessíveis, digamos. O que nos salta à primeira vista é o padrão icónico do xadrez do Golf GTi MK1. Os tons de cinza e as riscas vermelhas ditam o estilo neste habitáculo e os bancos, sem serem baquets, apresentam um excelente apoio principalmente a nível das pernas e lombar. Outro detalhe absolutamente delicioso é a manete das velocidades que, neste GTi por ser manual, é a obrigatória «bola de golfe», um pormenor tão icónico quanto a sigla que este Golf ostenta. Sentados ao volante, a posição de condução é rapidamente encontrada com simples ajustes do banco de forma a ficarmos perfeitamente enquadrados com o volante, também com a sigla GTi e base plana (como já é hábito em desportivos).

     No quadrante estão mais algumas novidades, neste caso não exclusivas da versão GTi como é o caso da utilização de ecrãs na totalidade para transmitir as informações a bordo. O tradicional manómetro e velocímetro entram no século XXI e transformam-se numa tela de excelente grafismo e definição onde é possível passar de vários menus e optar por ter em destaque informações do carro ou a navegação. Em conjunto, o ecrã no tablier complementa o quadrante, com gráficos de potência em BAR’s ou temperatura da água e óleo, podendo alternar entre estas informações mais técnicas e as banais estações de rádio ou programação de detalhe mais virados para a utilização quotidiana.

       E anteriormente falamos da caixa manual. Sim, a Volkswagen é conhecida pela excelente DSG, uma das melhores caixas do mundo, especialmente quando nos cingimos às caixas automáticas. Mas depois de lermos as críticas feitas noutros ensaios e de ouvirmos o discurso do Pedro, dono deste GTi, percebemos que a caixa manual faz muito mais sentido. Em especial em modos de condução mais hardcore (e abrimos um parêntesis para referir que neste Golf são cinco esses modos… mas que bastavam três) onde a condução rápida fica comprometida pela indecisão da faixa de rotação onde a DSG deve engrenar uma mudança acima ou abaixo. Em determinadas faixas de utilização e velocidades, a DSG fica muito abaixo da capacidade intuitiva e racional do ser humano, sendo claro que para extrair toda a excitação ao volante que este GTi nos pode dar, tem mesmo de se optar pela caixa manual.

      E claro, nem falamos do prazer de condução. Enquanto que uma caixa automática no dia-a-dia acaba por ser uma enorme vantagem em termos de facilidade de utilização, neste caso concreto, em que o Golf é carro de fim-de-semana, acaba por não se justificar. E também é esta opção que faz com que este GTi Performance seja ainda mais especial, dado que devido à configuração que tem, torna-se ainda mais exclusivo em solo nacional. E até mais barato, pois em novo a opção da caixa manual em detrimento da DSG poupava ao comprador cerca de 1700€. E já que falamos de euros e apesar de não ser habitual (mas acreditamos que quem lê este artigo fique curioso sobre isso) o valor, em novo, deste GTi rondava os 51 000€, um valor que podem achar exagerado face à concorrência. E qual é a concorrência? Megane RS e Hyundai I30N principalmente, ambos abaixo do valor deste Golf (com diferenças quase de 10 000€) mas há dois (ou três) factores em que a superioridade do Volkswagen salta à vista: o sistema de infotaiment, a qualidade de construção e claro, a história das três letras que orgulhosamente ostenta em diversos locais. Foram estes, entre outros detalhes, que convenceram o Pedro a adquiri um ao invés de outras possibilidades, especialmente pela paixão que sempre teve pelo Golf GTi, desde a sua primeira geração.

      O Volkswagen Golf GTi continua a ser um dos mais apetecíveis desportivos compactos do mundo com uma legião de fãs e uma cultura em torno dele. Há eventos e festivais que dedicam a sua existência a este modelo e a própria linhagem de construção mostra a importância que estas três letras têm para a marca alemã. Mas mais do que letras e mais do que um modelo, é o ícone que deve ser preservado e sempre que surge um novo Golf, a preodupação dos petrolheads é a possível desvirtuação do GTi. Nesta geração e meia e em especial na versão Performance acreditamos veemente que a herança, a arte e a raça do GTi se mantem e acima disso, se aconselha. Mas para saberem melhor o porquê da paixão por este modelo em específico, nada melhor do que ouvir o Pedro ao volante deste Golf, num vídeo feito pelo youtuber PR Vlogs em jeito de entrevista e ensaio ao Golf GTi que aqui vos mostramos.