Giallo Midas

      Na All Wheels Photography começamos 2022 com um boom de boas peças no nosso sector de Era Moderna. Apesar de também termos postado material noutros locais, tem sido nos modelos modernos e sem alterações que o nosso portefólio ganhou mais. E a marca de Sant’Agata Bolognese parece estar em altas por aqui. Depois do Lamborghini Urus que mostrámos há umas semanas, cortesia da Overlay, trazemos hoje este Gallardo. E se foi uma sessão em que nos divertimos imenso, se foi! O Gallardo – nome escolhido para honrar um criador de touros do século XVIII, Francisco Gallardo – foi uma das mais importantes criações da marca italiana e a primeira após a aquisição por parte da Audi. Assim foi também uma peça fundamental do mundo dos carros desportivos por incorporar um chassis compacto e leve um motor V10 de origem Audi (o mesmo usado no R8, por exemplo).

Giallo Midas. Um amarelo vibrante e que brilhou num dia chuvoso.

     Desde os anos 80 que a Lamborghini não usava motores mais «pequenos» que os V12 do Diablo e do Countach. Foi com o Jalpa que a marca italiana se despediu do século XX com a arquitectura mais modesta que os 12 cilindros em V e por isso o Gallardo foi sempre visto como uma espécie de sucessor espiritual deste Jalpa, dado que não partilha nada com o mesmo e claro, existe um intervalo de 15 anos entre o fim da produção do Jalpa em 1988 e os primeiros Gallardo, em 2003. Apresentado nesse ano em Geneva debaixo de muita publicidade e atenção, o baby-Lambo foi visto como o supercarro de uso diário da marca do Touro, para combater o sucesso do 911 Turbo e do Ferrari 360/458. O Gallardo foi, até à chegada do Húracan e depois do Urus, o Lamborghini mais bem sucedido e com mais unidades vendidas: 14020, entre mais de dezena e meia de versões, umas mais banais, outras bastante limitadas e numeradas. O spider, que aqui trazemos, foi o segundo modelo a ser apresentado, quase a par com a versão fechada.

    Numa época onde ter um Lamborghini era menos comum, a marca só oferecia o Gallardo e o Murciélago, o monstruoso V12 que veio destronar o Diablo no topo dos modelos da marca. Como tal, a marca italiana, sob o escrutínio de outras marcas e «espicaçada» pela competição, apostou todo o seu espólio económico em versões do Gallardo, de estrada e de competição, criando troféus mono-marca, modelos para provas de resistência e até equacionou a produção de uma versão mais todo-o-terreno para Rally, algo que não saiu do papel, pelo menos pela mão da Lamborghini. Apesar do chassis mais compacto e curto, o Gallardo vai buscar parte da sua eficiência desportiva à sua longa distância entre eixos, com as rodas bem colocadas nos extremos da carroçaria o que conjugado com a tracção integral, faz deste Gallardo um dos mais eficientes Lamborghinis alguma vez feitos (até à data da sua comercialização).

      Visto como um surpreendente e bom all-rounder – podemos ir às compras de manhã, ir almoçar ao centro da cidade e à tarde fazer umas voltas em pista – o Gallardo é ainda hoje um verdadeiro super-desportivo e atrai imensa atenção por onde passa, especialmente quando tem vestido cores bem vistosas, como é apanágio da marca italiana. Esta nossa peça, em amarelo vivo, faz da tradição o cartão de visita. Ruidoso, vistoso e sensual, o Gallardo que aqui vos trazemos esteve no Vixtra Design and Detailer para uma necessária recuperação do brilho desta pintura e claro, um detalhe cuidado, completo e que virou do avesso este desportivo, garantindo que está pronto para as estradas durante mais uns anos. Aliás, em algumas fotos (feitas com pequenos aguaceiros) é bem visível o efeito do detalhe e da protecção cerâmica da pintura, com o tal aquacoating tão bonito de ver e claro, de fotografar.

      E foi ao fazer este artigo que descobrimos um fator engraçado, uma curiosidade que partilhamos aqui convosco. Sabiam que o Húracan (modelo que veio substituir o Gallardo) vendeu tantos exemplares como o seu antecessor, mas em metade do tempo? Ao Gallardo os números foram atingidos em 2013, 10 anos depois de se ter iniciado a comercialização do modelo, já com o Húracan bastaram 5 anos para se atingir as 14000 unidades, destronando rapidamente o Gallardo como best-seller da marca de Sant’Agata Bolognese. Mas a estrela do nosso artigo é o Gallardo Spider e é dele que vamos continuar a «falar» de forma escrita, claro está. A versão de céu aberta e de acesso à gama (o primeiro de vários), apresentado no Salão de Los Angeles, foi vendido entre 2005 e 2008 e contava com o mesmo V10 de 520 cavalos capaz de chegar aos 100 km/h em 4,2 segundos e atingir uma velocidade máxima de 310 km/h de capota fechada, um pouco menos a céu aberto.

      Estes números foram uma espécie de marco na história da marca Italiana. Com um motor mais pequeno mas potente, a Lamborghini virava a página e entrada no século XXI decidida a apostar na diversidade e eficiência dos seus modelos, muito por «culpa» da investida Audi no território italiano. A aposta da marca em construir algo que fosse diferente da peça de garagem ou de museu que eram o Countach e o Diablo pagou dividendos e fez com que a Lamborghini saísse da crise económica do início deste século e que levou a deixar de ser uma marca independente e passar a pertencer a um consórcio; o Gallardo colocou a Lamborghini no mapa e fez tremer a Porsche e a Ferrari, lideres indiscutíveis no segmento onde o Gallardo se introduziu. Resta ainda acrescentar, nesta «aula de história» que o responsável pelo desenho do Gallardo foi o inconfundível centro de design Italdesign Giugiaro, com a produção de um concept-car denominado Lamboghini Calà, construído para uma suposta substituição do Jalpa em 1995, mostrado no Salão de Genebra. Deste concept migrou para o Gallardo o estilo exterior e o motor V10 que fazem do Gallardo o que ele é, ainda hoje quase 20 anos depois do primeiro ser vendido.

Muita qualidade e detalhe a bordo, que merece destaque.

      E já vamos lançados no nosso artigo e aposto que as fotos «falaram» mais do que o texto em si. Não vamos prolongar muito a conversa com a nossa já habitual análise de sector (frente-lateral-traseira-interior). Achamos que neste caso específico o conjunto que aqui apresentamos faz o trabalho por si. Este Gallardo é uma obra de arte e conjuga sensualidade, desportividade e o tal lado mais prático, se assim lhe podemos chamar. É que a bagageira na frente não é grande, mas conseguimos lá colocar uns sacos de compras… e só tem dois lugares, embora espaçosos. Mas se os ocupantes forem altos, a capota fechada pode tornar a experiência um pouco claustrofóbica mas honestamente, nada disso penaliza a peça que aqui vos trazemos. É um Lamborghini e só por isso criticá-lo devia ser blasfémia.

      Apesar do céu cinzento, S. Pedro voltou a receber o nosso email e permitiu-nos um par de horas para ver, apreciar e fotografar este Gallardo, junto às instalações do Vixtra Design & Detailer no Alto Estanqueiro (para quem não sabe, fica na zona do Montijo, perto da Atalaia). A estrada de campo deserta foi o cenário escolhido para este amarelo sobressair, entre o céu cinzento e o campo verde. E parece-nos que a aposta foi ganha. O tal tom quente contrasta bem com as jantes Callisto em negro, recuperadas e seladas para melhor aguentarem os castigos das estradas portuguesas. Os faróis estreitos na frente aumentam a perceção do tamanho deste Gallardo, fazendo-o mais «largo» do que é. A carroçaria vinculada, com ângulos fortes e mais quadrados é, ainda hoje, um regozijo de se apreciar. Ficámos alguns minutos parados a apreciar a silhueta para perceber de que forma podíamos captar a essência deste desportivo.

       Com a capota em tecido, este Gallardo ganha personalidade. Invoca um certo neo-classicismo mantendo a silhueta desportiva quer de capota recolhida, quer com ela colocada. O contraste entre a mesma e o amarelo forte é mais um ponto de assente sucesso nesta bela peça onde a exploração da cor nas nossas fotografias acabou por ser o que mais nos interessou, mostrando a profundidade conseguida com o detalhe a que foi alvo. Já falamos antes do interior de forma mais sucinta, mas temos de fazer uma ressalva: é um local de extrema qualidade e ótimo para se estar, à parte de tudo o referido anteriormente. Pele por todo o lado, pespontos amarelos a condizer com o exterior e com um estilo menos tecnológico e mais analógico, onde os botões ainda fazem parte da consola central ao invés dos atuais ecrãs dá um toque de classe e de clássico a este habitáculo.

     Foi tão bom. Honestamente! Foi uma sessão fotográfica que nos deu um gozo imenso fazer, não pelo emblema no capot, embora isso tenha parte importante neste sentimento. Mas especialmente por toda a envolvência e conjugação perfeita de fatores: um automóvel que é já um pré-clássico, sensual e lindissimo, num local tranquilo, de campo, com beleza natural e com uma cor que contrastou na perfeição com o céu carregado de nuvens. Permitiu-nos explorar mais o detalhe do detalhe (passe a redundância) e as curvas e linhas de um dos mais importantes modelos da marca italiana do touro. Mais do que isso, fez com que criássemos um artigo agradável à vista e acreditamos nós, à leitura e que marca mais um trabalho feito com o Vitor, mentor do Vixtra Design & Detailer, que pouco a pouco vai ocupando uma posição de destaque no campo do detalhe automóvel em Portugal e a quem deixamos um agradecimento pela confiança… e não precisam de esperar muito por mais artigos provenientes daqui, just stay tuned.