Envy Green

     Sol, dias mais longos, temperaturas agradáveis, finais de dia convidativos a ir para uma esplanada beber uma cerveja ou um cocktail sem álcool. Já nós preferimos exercitar posições estranhas para fotografar um automóvel. Com o texto deste artigo a começar depois de algumas fotografias, rapidamente percebem que se trata de algo especial, que nos causou alguma curiosidade desde a primeira vez que o «vimos» em fotografia nas redes sociais. Mais animados ficámos quando percebemos que este BMW M3 F80 pertencia a um antigo cliente nosso e membro de um grupo onde nos inserimos, o HorsePower Maniacs, onde reina a boa disposição e a coincidência de todos os membros terem um gosto especial por automóveis potentes e menos comuns.

A cor aqui mostrada não reflecte mesmo a profundidade do tom Envy Green. Melhor só mesmo vendo ao vivo.

    O principal objectivo desta sessão fotográfica era captar a cor deste M3. Mais do que fotografar um dos mais icónicos desportivos dos últimos anos e talvez o mais importante M3 da história recente da BMW, conseguir caracterizar o tom de verde deste F80 foi realmente um verdadeiro desafio. De nome Envy Green o vinil aplicado serve bem mais do que para proteger a pintura original (Branco Mineral Pérola da BMW Individual); dá mais ênfase às formas, ângulos e linhas deste sedan desportivo e canaliza ainda mais as atenções por onde passa… pensamos até que provavelmente e tal com o próprio nome do tom verde, é capaz de provocar inveja.

     Antes de colocarmos aqui a extensa lista de detalhes, extras e pormenores que este M3 encerra, temos a obrigação automobilística de falar (neste caso, escrever) um pouco mais sobre a tal importância deste M3 para a BMW. Existe, talvez erradamente, a ideia que quando sai um M3 das linhas de montagem da BMW, este é a última bolacha do pacote; uma expressão um pouco errada, até porque a última bolacha está normalmente partida e não se come. Já o M3 «come-se» e bem, principalmente se acompanharmos com uma boa dose de loucura ao volante, condimentado por um toque picante mas sempre de forma a que até os mais sensíveis de estômago o possam comer. Sim, o M3 sempre foi um desportivo de raça que invoca aos sentidos e com o F80 a BMW decidiu consolidar a posição de familiar “apressado” que até então era exclusivo do M5 (sim, também existiu o M3 E90 mas as vendas foram residuais devido em grande parte às diferenças de desportividade entre o coupé E92 e o sedan E90).

As fantásticas 666 de 20 polegadas!

     Quando o M3 F80 foi anunciado e se conhecer os detalhes técnicos, foi bastante criticado pelos fãs e seguidores da BMW, em especial da divisão M, principalmente pela utilização de um motor turbo ao invés de um montado em V ou até naturalmente aspirado. E numa altura em que o mercado está em altas no segmento das berlinas desportivas, com a Alfa Romeo a reclamar um pedaço do mesmo que era integralmente gerido pelos alemães (Audi RS4, Mercedes-Benz C63 AMG ou o BMW M3), o papel deste germânico torna-se ainda mais fulcral no futuro da marca. Além do turbo, foi também a potência anunciada que «gelou» os aficionados da BMW, ao verem entre 50 a 70 cavalos a menos no BMW que nos rivais. Ora, um motor 3.0 litros, 6 cilindros em linha biturbo com menos potência que Mercedes, Audi e Alfa Romeo parecia heresia mas o que é facto é que em pista, o M3 F80 acompanha o AMG e o Quadrifoglio.

     A evolução dos BMW desportivos é mais que evidente neste F80. A caixa automática de dupla embraiagem com DriveLogic permite atingir os 100 km/h em 4,1 segundos e com o M Driver’s Package o limitador passa para os 280 km/h (mas em segredo vos dizemos, dá mais… bem mais!). Este M3 em concreto conta com pequenos ajustes no motor, foram colocados downpipes, abertas as válvulas de escape e foi feito um pequeno acerto electrónico permitindo melhorar a potência para meia centena de cavalos. Além do tejadilho em carbono, existem secções de carroçaria em alumínio e em aço, de forma a manter a segurança em caso de acidente mas também o peso dentro do normal para o segmento. O handling foi melhorado com as molas H&R específicas para a suspensão M e montadas as jantes de 20 polegadas características do modelo M3 Competition, as bonitas 666M forjadas com pneus Pirelli P-Zero.

Ao contrário da «moda» o motor deste M3 F80 tem muito do seu coração à vista. Apenas a zona das válvulas e cilindros se encontra tapada pela tampa de plástico com a inscrição M Power.

     Mas vamos fechar o capot e falar de outros detalhes. O M3 tem um aspecto bruto que deve ser tido em conta e até respeitado. Toda a estética deste desportivo foi pensada e tem função e apesar de em cores mais neutras quase parecer um serie 3 com pack M (nesta geração, parece ser fácil ter um 318d com os pára-choques M3 e restante parafernália de detalhes), neste tom de verde quase Hulkiano, essas semelhanças rapidamente são colocadas de lado. A quinta geração do M3 começou a ser produzida em 2014 e veio confirmar a ideologia da BMW em separar as águas. Anteriormente, o M3 tinha apenas códigos internos diferentes consoante a carroçaria. Agora, se querem um «M3» de duas portas, coupé, têm de comprar o M4. Tal como o M3 anterior (o coupe, não o sedan), este F80 tem tejadilho em carbono que baixa o centro de gravidade ao retirar algum peso «alto» do corpo do automóvel; além do ganho em peso, também a estética é um ponto positivo (quem não gosta de ver carbono nos automóveis?).

    Se se depararem com este M3 no vosso retrovisor, mais vale apreciar os curtos momentos em que o conseguem aguentar nesse local. A frente deste BMW é ocupada em parte pelas cinco entradas de ar, sendo as duas mais emblemáticas os «rins» em preto piano e que ostentam a principal sigla M3 deste automóvel. Os faróis com luzes adaptativas em led são já uma assinatura das novas gerações BMW e deixam de estar separados dos tais «rins». No restante sector frontal, ressaltam à vista os vincos do pára choques e os guarda-lamas laterais largos, mais do que no serie 3 normal, comprovando o carácter desportivo deste familiar apressado.

     Continuando a espreitar este M3, damos por nós quase sentados a admirar as tais jantes 666 que escondem o sistema de travagem de grandes dimensões (pena não ser cerâmico) mas o que é facto é que estes travam muito bem e mesmo abusando deles aguentam a fadiga de forma exemplar. Os espelhos tem o formato peculiar e enganam o observador, parecendo ter dois suportes como nos anteriores M3 e conduzem o olhar para o guarda-lamas frontal onde a saída de ar de arrefecimento dos travões com a inserção M3. Na outra extremidade é novamente a maior largura de vias que mostra que este BMW não é uma versão mundana.

    As quatro ponteiras traseiras transmitem um ronco vigoroso, profundo, gutural! Algo que gostamos de ouvir e que é obrigatório num automóvel como este M3. As tais válvulas abertas de que falámos anteriormente acrescentam o tom metálico e vibrante à «voz» deste BMW. Mesmo ao relantim, é perceptível a fantástica sonoridade e ficamos com pena de não ter feito um pequeno clip de vídeo para que possam ouvir. A envolver as ponteiras temos mais carbono num difusor discreto mas essencial e esteticamente bem conseguido e que faz a «ponte» com o spoiler também em carbono situado no topo da bagageira; a completar o look desportivo temos os farolins também em led com a assinatura da BMW.

Em cima, o pequeno lip em carbono. Ao lado, é evidente a maior largura de eixos deste M3 face ao Serie 3.

     Abrimos a porta e apreciamos o interior antes de começar a fotografar. O aspecto bruto e desportivo do exterior dá lugar ao charme e qualidade BMW no interior, com pele, carbono e alumínio um pouco por todo o lado. Aqui faltam adjectivos para caracterizar a forma como a marca alemã consegue ligar o desportivismo exterior à classe e conforto do interior mas não se deixem enganar, temos componentes desportivos bastante interessantes por aqui. Comecemos no local onde nos sentamos, as fenomenais baquets M aquecidas e ventiladas em pele. Aliás, o interior está todo ele forrado em pele castanha Merine Individual, inclusive no tablier. Aí, o contraste com os frisos em carbono e detalhes do pack M Competition são evidentes e elevam a qualidade a bordo, quase fazendo esquecer que estamos num desportivo de 500 cavalos. Mas mais do que potência e dinâmica, este BMW tem tudo aquilo que é esperado de um BMW: muitos, muitos extras!

    Para ajudar na condução, contamos com o Package M Driver’s que já referimos anteriormente (altera o limitador do velocímetro). Temos também sistema de infotaiment com serviços Connected Drive e navegação profissional bem como o BMW head-display bastante intuitivo. Para quando nos cansamos do som do escape (que provavelmente não acontecerá), a BMW disponibiliza neste M3 o sistema de som Harman-Kardon que de uma forma cristalina e com alta definição, transmite o som proveniente do sistema rádio. Contamos ainda com sistema mãos-livres e USB, alarme, ajuste eléctrico do banco com memória, sensores de luz e chuva, assistente de máximos, keyless entry, sensores de estacionamento… podíamos estar aqui mais dois ou três parágrafos para descrever os extras, o que são e para que servem mas não estamos aqui para vender este BMW… mas no entanto, ele está mesmo para venda.

     E se a cor da inveja é verde, não nos importamos nada de ter esta inveja na garagem ou nas nossas mãos. Um desportivo único, que mantém acesa a chama da sigla M e que alia à dinâmica uma boa dose de conforto e habitabilidade e até utilidade, com uma bagageira generosa, espaço para quatro adultos e até capacidade para ser comedido nos consumos. Mas o forte deste M3 F80 é mesmo a capacidade de chamar a atenção seja parado, seja a rolar nas nossas estradas e é prova disso os olhares e as fotografias tiradas. Esperemos que o novo dono o estime e desfrute como ele merece.