El Pistachio

      Preparem-se, fãs da Volkswagen. As próximas semanas vão ser de emoções fortes aqui na All Wheels Photography com vários veículos da marca alemã. Desde Golf MK1 (este, pois claro) passando por um Scirocco até um Golf MK7 R, temos de tudo um pouco para vos agradar. Mas para que não tenham uma indigestão de Volkswagen’s, vamos com calma fazer um artigo de cada um deles, com uma interrupção italiana para que possam apreciar cada um deles de uma forma mais meticulosa e detalhada. Mas antes que se ponham a assinalar datas no calendário (podem fazê-lo obviamente), vamos espreitar este fenomenal MK1, numa cor que pode ser estranha a início mas deixem que vos diga, é bestial. Aliás, diríamos até que pela forma como o carro está acabado e como tudo foi combinado, é a cor perfeita para este projecto. E que projecto, portanto coloquem-se confortáveis, apreciem as fotografias e venham conhecer «El Pistachio».

      Todos sabem (se não sabem, é estranho estarem a ler este artigo) que a Volkswagen é uma das mais bem sucedidas marcas do mundo. O tradicional emblema VW continua, desde o pré-guerra, a ter um grande sucesso, algo que começou com o Beetle, um dos mais bem sucedidos automóveis de sempre. Com a fasquia elevada e os anos a passarem, a marca alemã começou a projectar um substituto do «carocha» mantendo os custos operacionais baixos para que se mantivesse a ideologia do carro do povo. O primeiro Golf rolou para fora da fábrica em 1974 e são produzidos até aos dias de hoje, atualmente na oitava geração. Mas nos anos 70 as coisas eram bem mais simples e isso ajudou a «espalhar» o Golf por todo o mundo, especialmente nos EUA, onde os carros compactos eram uma miragem. Talvez fosse do re-nome Rabbit mas juntamente com o Honda Civic, a Volkswagen abriu as portas do mercado americano aos carros europeus.

A palete de cores está programada para um artigo em grande!

       Entre 1974 e 1984 o Rabbit foi um sucesso nos EUA. O facto de usar um motor refrigerado a água, económico e de fácil manutenção alegrou os americanos que atravessavam uma crise de combustíveis e necessitavam de se deslocar em cidades cada vez mais populosas e com mais veículos. Com tamanho sucesso, um pouco inesperado até para a marca, surgiu a necessidade de instalar uma fábrica em território americano, sendo a segunda marca europeia a fazê-lo, depois da Rolls Royce. Com isso, começaram a surgir várias versões especialmente a GTI, que se tornou icónico e ainda hoje, em todo o mundo, é vista como a responsável pelo início do culto dos pocket-rocket. Ainda hoje ter um Golf MK1 GTI, por exemplo, é o sonho de muitos petrolheads. Mas este não é um GTI, nem é americano, pelo que avancemos no artigo.

      Como sabem, estamos numa excelente fase da pandemia. Os números baixos mesmo com o desconfinamento dão-nos alguma esperança quer em termos de saúde, quer em termos de negócio e de sessões fotográficas. E apesar de 2020 ter sido um ano muito fraco em termos fotográficos, 2021 já mostrou estar a ser bastante proveitoso nesse âmbito. Mas nem tudo da pandemia foi mau, e exemplo muito bom é este MK1, comprado, montado e desenvolvido durante os meses iniciais da pandemia. Já conhecemos histórias variadas sobre a forma como cada um viveu e sobreviveu ao primeiro confinamento mas obviamente as que se referem a automóveis são as mais interessantes. Há quem tenha aproveitado para trocar de jantes, para se dedicar ao detalhe caseiro, outros trocaram algumas peças e fizeram manutenção mais cuidada. Mas montar um carro todo, em 4 ou 5 meses, é novidade para nós na AWP.

       De 1980, este MK1 diesel foi adquirido em Janeiro de 2020, mesmo antes de «rebentar a bolha» do COVID19 por cá. Inicialmente o objectivo era ir-se fazendo, com calma e durante o tempo livre mas acabou por ser construído e aperfeiçoado em pouco tempo, o que não diminuiu a atenção ao detalhe, vos garantimos. Com este MK1, ficamos a conhecer um nome bastante importante e quase icónico no mundo dos Golf, Nuno Torres. Este «boss» da VW acabou por ser um dos responsáveis pela aquisição e construção deste Golf, tendo ido juntamente com o Filipe (dono babado) ao norte onde estava à venda. Desde esse dia até ao dia das fotografias, este Golf pouco saiu à rua mas o pouco que andou foi para mostrar o que de bom se faz em Portugal. Montado com peças de qualidade e à imagem de alguns dos melhores projectos além fronteiras, um dos grandes sonhos do Filipe é levar este MK1 até à Meca da VW, Wörthersee, na Áustria, local onde há 2 / 3 anos foi com o Nuno Torres a bordo de outro MK1, espalhar magia portuguesa pelo evento austríaco.

Perdemo-nos um pouco nas fotografias deste Golf. É carismático, fotogénico, atraente...

      Basicamente este «pistachio» é um carro de passeio. Construído a pensar num estilo virado para o stance, este Golf passou por alguns percalços durante a sua construção, como em todos os projectos. E honestamente, assim é que tem piada; conhecer obstáculos, encontrar soluções e colocá-las em prática acaba por ser aquilo que faz um aficionado apaixonar-se pelo seu projecto. Comprar feito ou pedir a terceiros para o fazer acaba por retirar o que de melhor se retira de fazer algo nosso, com o nosso know-how e suor. Uma das peripécias mais engraçadas foi quando montaram as portas, capot e bagageira na carroçaria, um amigo entrar na oficina e ao ver o MK1 pela primeira vez, achar (correctamente) que o tom de verde dessas partes amovíveis eram diferentes da carroçaria. Quem trabalhava no carro não tinha reparado, talvez por estarem «habituados» a olhar para as várias peças. Foi a tempo o reparo!

      Mas continuemos a escrever sobre este projecto. Mecanicamente e como somos prontamente informados assim que nos chegamos a este Golf, é um diesel, não é um GTi nem um motor a gasolina emprestado de outro modelo, como é habitual fazer-se «lá fora». Este MK1 era diesel antes das alterações e assim se manteve, embora bem mais atualizado e claro, aprimorado para melhores consumos e… bem, quem queremos nós enganar, está bem alterado para andar um pouco mais rápido, tanto que acompanhá-lo não é fácil! Contamos então com um 1.9 VP (derivado dos Golf III/IV e também usado nos Audi A4 B5 e Passat) completamente restaurado e recuperado com turbo, alteração dos injectores e uma pequena (será??) reprogramação. O que é facto é que apesar de ser diesel, é engraçado ver um pequeno clássico a «rasgar alcatrão» e a envergonhar modelos bem mais recentes e supostamente, com capacidades dinâmicas superiores.

        Fechamos o capot e voltamo-nos para o exterior, que é muito agradável de apreciar. A pintura verde está extremamente cuidada e bem aplicada e nada foi deixado ao acaso. Por exemplo, por baixo desta chapa temos insonorização com tela, o que nos transmite um grande nível de qualidade quando se fecha uma porta por exemplo. Além disso, toda a chapa foi trabalhada e recuperada ainda previamente ao início do projecto, sendo posteriormente «recheado» de peças de qualidade, a maioria delas compradas via internet (não esquecer que estávamos em plena pandemia) no Autodoc, Werk34 ou na Mecatechnic, por exemplo. Todas as pequenas peças, eixos, parafusos foram lacados a preto com tinta de protecção ou então zincados em branco e o chassis foi submetido a pintura com fleetcoat para protecção, tudo com o único objectivo de atribuir a este projecto uma excelente qualidade geral.

      No sector da postura, temos o que é já considerado a receita-base para projectos do conhecido mundo do stance, suspensão a ar da Air Lift e umas lindíssimas e muito raras jantes BBS E51, pintadas com o centro dourado e abas cromadas. O aspecto deste Golf «pousado» é fenomenal. Consegue conferir uma postura arrojada, agressiva e muito impressionante, especialmente quando se vê de frente ou de traseira, com os centros das E51 a saírem completamente e a assumirem todo o protagonismo. Depois temos o jogo de cores que foi feito, pois é dado adquirido que o dourado e o verde sempre jogaram muito bem e este MK1 é a prova disso. As medidas das jantes permitem que este «pistachio» role baixo sem roçar nas cavas, que foram todas elas preparadas e reforçadas em caso de «roça-roça» inadvertido. Por trás das jantes (sim, é difícil de ver) temos a travagem totalmente restaurada e pintada pelo António Couto, o guru da AC Parts.

         E já vamos avançados no artigo mas ainda temos tempo (obviamente) para escrever duas ou três linhas sobre o interior. Sim, por aqui também não se olhou a poupanças nos detalhes e foi tudo tratado ao detalhe. Embora o padrão do centro dos bancos tenha sido adquirido no ebay, o trabalho de artesão e estofagem ficou num nível muito elevado de qualidade juntamente com as laterais em pele. Depois temos o tablier e consola central, integralmente forrado a alcântara, que dá ao habitáculo deste Golf MK1 um aspecto cuidado e de qualidade. Temos ainda o volante BBS com os braços em carbono e a manete das mudanças da Black Forest Industries. Temos vidros em tom acobreado, originais da VW e no traseiro, o Filipe montou um louvre (persiana) a invocar o passado. Este interior é um espaço de glória, digamos. Estar a bordo transporta-nos directamente para o mítico evento em Wörthersee e faz-nos ter vontade de num próximo ano, irmos até lá.

       Mas deixemos os sonhos futuros e voltemos ao presente. Fomos até Loures para conhecer este Golf e em boa hora o fizemos. Ver um projecto que nasceu durante uma das piores fases do nosso país e que jamais esqueceremos ter esta qualidade dá-nos esperança. Podem estar cépticos sobre esta nossa opinião, mas acompanhem-nos no raciocínio. Se houve capacidade de gerir ideias e orçamentos para construir este VW Golf, também acreditamos que haja nas várias áreas de negócio a nível nacional, capacidade de resiliência e superação. Talvez a nossa comparação não faça qualquer sentido para a maioria mas para nós, fãs dos automóveis, apaixonados pela arte que são os veículos (de quatro ou menos rodas), esta forma de ocupação dos tempos livres, digamos, é algo que devemos enaltecer e realçar. E vos garantimos, este Golf MK1 apelidado de «Pistachio» vira cabeças por onde passa e certamente que irá brilhar nos eventos que atender. E que eles comecem, mal podemos esperar! Mas antes dos eventos, deixamos um vídeo do canal Type Talks sobre este Golf MK1, espreitem que vale a pena!