
Há ícones que nos acompanham na nossa infância e juventude. Por vezes, nessas fases da nossa vida, esses ícones já têm um processo histórico e já foram também eles importantes para os nossos pais, por exemplo. Quando somos «malucos» por automóveis e crescemos a ver na televisão os automóveis que conotamos como raros ou caros, criamos a ilusão de impossibilidade em vê-los um dia. No entanto, e com a grande ajuda do mercado automóvel actual, em Portugal já é fácil encontrar alguns carros que há uns anos apenas os víamos em eventos especiais ou na televisão. Com as fotos que já colocamos anteriormente, certamente que já perceberam que um dos ícones que mais nos marcou a infância foi o Ford Mustang e claro que com a oportunidade de fotografarmos um, as nossas memórias de criança voltaram ao activo.



A Ford trouxe a sexta geração do icónico pony car para a Europa, nomeadamente para o mercado Português que, até hoje, apenas podia contar com a importação (e com toda a limitação económica) para trazer o Ford Mustang para solo nacional. Agora é possível ir a um stand e encomendar um, tal como se tratasse de um qualquer utilitário. Basicamente, temos a cultura americana ao alcance de, bem, não é de qualquer um, mas de alguns que optem por um pedaço da história do Tio Sam ao invés da tecnologia europeia ou japonesa.
Tendo em conta que contamos ter mais alguns Mustang ao nosso dispôr (sonhar não custa, pois não?), não vamos aqui deixar a história do Mustang e os desenvolvimentos das várias gerações e modificações entre cada uma delas. Vamos centrar-nos na última geração, a sexta, que acaba por ser a mais «não-americana», tendo em conta as opções de motorizações, os extras que se podem colocar e até o acerto estilistico, que apesar de manter os traços gerais do icónico Mustang e de ter alguns detalhes que invocam as primeiras gerações, está mais «suave» no seu aspecto geral e até na forma como pode ser conduzido.



O que importa reter sobre o Mustang é que está em comercialização desde 1965 (com concepts mostrados em 1962 e 1963) e tem sido dos modelos da Ford mais bem sucedidos depois do Model T e Model A (que também já vos mostrámos na AWP). A sexta geração surge em 2013 nos Estados Unidos, tendo um período de comercialização a par da quinta geração o que fez com que nos primeiros meses, o seu sucesso fosse relativamente parco; com a globalização das vendas apartir de 2014, o Mustang MY2015 começou então a conhecer um aumento do volume de vendas e consequentemente o sucesso que os directores da Ford tanto esperavam, tendo em conta o 50º aniversário do ícone Mustang. A globalização do Ford Mustang faz parte da ideia negocial da Ford, One Ford, que pretende ter os vários modelos da Ford adaptados a todos os mercados, sem haver modelos específicos de cada mercado, diminuindo custos de produção e adaptação. Pela primeira vez, produziram-se Mustang com volante à esquerda e à direita, na mesma linha de produção.



Prova desta globalização, além do já referido cuidado estilístico, são as opções de motores, todas elas geralmente disponíveis em todos os mercados. O mais «económico» é o Ecoboost 2.3, partilhado com o Ford Focus RS que apesar de contar com 314 cavalos e 434 nm de binário, parece mais adormecido e lentificado no Mustang que no Focus RS, talvez pela ideia de que o Ford Mustang é um super-carro e que como tal, devia deixar-nos sem folêgo em cada aceleração (entra aqui a tal imagem do ícone da infância, um automóvel potente, com um ruidoso V8). No outro extremo da oferta (em Portugal), temos o Mustang GT com o V8 coyote engine a desenvolver 418 cavalos e 532 nm de binário, que já conta outra história.

O rugido tão característico destes modelos está lá, bem como o factor wow da potência disponível. Estranhamente, 104 cavalos fazem diferença mas sejamos sinceros, será que essa centena e pouco de cavalos a mais justifica uma diferença de 41 000€ no preço das versões bases de cada um.



Este vistoso Mustang vermelho com a pintura protegida através de película transparente aplicada na Overlay (mais uma vez, os nossos agradecimentos pela confiança em registar o produto final de um serviço vosso), conta com algumas adições ao seu aspecto base, conferindo um look mais agressivo e mais «americano» até. Um generoso lip na frente e o capot redesenhado agora com uma entrada de ar central (invocativa das versões mais desportivas da Shelby ou Roush) contribuem para o factor «susto» quando este Mustang se aproxima da traseira de outros carros. A sua imponência é acentuada pelas luzes diurnas verticais em led que devido à sua posição nos faróis, fazem com que este fast Ford pareça constantemente zangado e em pulgas para soltar a cavalaria estrada fora.



Na lateral também foi adicionado um pequeno lip que percorre toda a embaladeira e acentua a agressividade das linhas e combina esse detalhe com a supressão da janela lateral traseira, sendo esta substituída por uma tampa que simula a admissão de ar ao habitáculo e que, tal como o que referimos anteriormente, invoca o estilo dos modelos mais apimentados do Mustang. Ainda na lateral, o guarda-lamas frontal conta com duas saídas de ar adornadas pelo logo Mustang e contribuí para o aspecto mais «americano» deste Mustang tão europeu. As generosas jantes negras de 19 polegadas escondem uma travagem que não sendo das maiores do mercado perante a potência disponibilizada, mostra-se eficaz quando solicitada.



A traseira é menos imponente, talvez pela ausência de grandes spoilers ou adornos, mas cativa o olhar através da assinatura das luzes que, novamente, utiliza a ideia dos primeiros Mustang para fazer a ponte entre o moderno e o tal modelo que fez 50 anos. Com três farolins verticais, este pony car tem uma traseira revivalista e moderna, não esquecendo a agressividade e desportividade do modelo. Para isso, o difusor contem uma porção central pintada à cor do carro, sobressaindo no preto do restante difusor e das saídas de escape. Depois de alguns minutos a fitar esta zona do Mustang, concordamos que nºao precisa de mais nada!


Descansamos um pouco sentados ao volante. A golden hour vai-se instalando e permite-nos registar em fotografia o interior mais escuro e «monótono» com uma coloração um pouco mais quente. As baquets opcionais da Recaro envolvem bem os passageiros, mas são um pouco desconfortáveis na forma como fornecem o apoio lombar; contudo, num Ford Mustang não podemos estar propriamente confortáveis, pois a ideia aqui é andar bem e depressa. O revivalismo continua no interior, com o tablier simétrico e o volante de três braços, simplista, a serem protagonistas. As saídas da ventilação com os cavalos decalcados e a chapa de identificação do modelo (a relembrar os 50 anos de intervalo entre o primeiro e esta sexta geração), os botões dos modos de condução e os pedais contribuem para o ambiente americano a bordo.



Alumínio, pele e claro, plástico compõem este interior que apesar de mais espaçoso que a geração anterior, continua a ser bastante apertado principalmente nos bancos traseiros. Contudo e para a sessão fotográfica, foram quatro adultos no habitáculo e nenhum deles se queixou significativamente deste detalhe apesar de ter sido uma viagem pequena. O visor apresenta uma leitura simples, concreta e objectiva daquilo que se pretende e não estranhem se vos parecer «copiado» dos restantes modelos Ford… porque é!


Efectivamente, ter um ícone à nossa frente trás bastante responsabilidade no que concerne à justiça que lhe temos de fazer com as lentes da máquina fotográfica. Os ângulos, linhas, detalhes são importantes e precisam de ser mostrados sem esquecer a história que este modelo tem, nomeadamente em participações de filmes (Bullit, por exemplo, com um excelente exemplar da primeira geração) ou na importância que teve e ainda tem para a marca da oval azul. Não poderíamos estar mais satisfeitos com a opção da Ford em trazer o Mustang para a Europa e em especial para Portugal dado que este modelo traz uma lufada de ar fresco ao parque automóvel nacional e claro, um pouco de exotismo e exuberância tão necessária.

