Civic EK – o tributo

       O mundo automóvel está em evolução. Especialmente se considerarmos as novidades e as constantes inovações tecnológicas, onde atualmente reinam a electrificação total ou parcial do automóvel (no caso dos híbridos). Outras formas alternativas são o hidrogénio cujo desenvolvimento parece estar mais atrasado mas em termos ambientais aparenta melhor relação com o nosso planeta e claro, outras invenções que vão aparecendo, menos globais e algumas caseiras. Para trás parece ficar o motor a combustão, cujo desenvolvimento e aperfeiçoamento dura há mais de 100 anos e que continua a proporcionar emoções, a entusiasmar os aficionados e claro, a viciar os petrolheads. Nem vamos entrar aqui na discussão eterna entre diesel e gasolina, cuja temática não interessa aqui abordar, mas queremos dar uma especial atenção aos motores de combustão, aqueles que (ainda) nos fazem vibrar.

O objectivo não é enganar mas sim prestar homenagem. Este Civic EK é um verdadeiro tributo ao Civic EK9 Type R, comercializado apenas no Japão.

         Não estranhem a introdução que acabam de ver, especialmente depois de verem o parágrafo ladeado de fotografias de um Honda Civic, EK de geração, com uma temática que alguns dos nossos fãs já  devem estar a vibrar e super entusiasmados. Antes de prosseguirmos, queremos desde já acalmar as vossas palpitações: não é um «verdadeiro» Type-R. Aliás, até ao início deste texto, o título do artigo era para ter sido Wanabe Type R, sendo até esse o nome da pasta no ambiente de trabalho do nosso computador. Mas optámos por algo diferente e menos «problemático» principalmente pela conotação negativa que a palavra wanabe (quer/aparenta ser) tem. Temos de ver o copo meio cheio e não meio vazio neste assunto. Se se quer ter um automóvel parecido com outro supostamente superior, devemos ver isso como um elogio aos proprietários desses referidos modelos/versões mais xpto.

     Mas palavras e nomenclaturas à parte, temos de dar a mão à palmatória: este Civic EK está fantástico, é uma réplica quase perfeita do modelo real. E dizemos «quase» porque há sempre detalhes a aprimorar e, principalmente, porque não tem o volante à direita, algo essencial neste caso porque o «verdadeiro» EK Type R apenas se vendeu no mercado japonês (o famoso JDM – Japonese Domestic Market). E perguntam vocês: não seria mais fácil importar um destes do Japão? Pois… fácil não é, até porque cada vez mais estes modelos estão a atingir valores absurdos e claro, cada vez mais raros e procurados enquanto veículos de colecção e para guardar. Assim, estas réplicas acabam por ser o melhor de dois mundos: esteticamente iguais ou semelhantes, sem o «pânico» de ser um veículo raro, difícil de obter e principalmente, de manter, pois a vontade seria de andar todos os dias com ele.

A atenção ao detalhe ganha novos contornos nas jantes, com pneus nas mesmas medidas que o «verdadeiro» Civic Type R.

      Vamos a factos mais detalhados. A geração EK é a sexta versão do modelo familiar compacto da marca japonesa. Na altura em que é anunciada a décima primeira geração, esta que aqui vos trazemos começou a ser vendida ainda nos anos 90, em meados da década. Foi lançado com 3 formatos diferentes (coupé, hatchback e sedan) sendo o hatch o único a receber o tratamento do sector desportivo da Honda e a ostentar o badge Type R. Aliás, foi o primeiro Civic Type R a surgir, tendo este sido baseado numa versão já de si mais desportiva, o SiR; vendido durante apenas 4 anos (de 1997 a 2000), estes modelos de dinâmica mais apurada distinguiam-se dos restantes pelo tratamento de peso e dinâmica que levavam nos recantos da Honda Motorsport.

        De código interno EK9, a primeira geração do Civic Type R surgiu no mercado quando o Integra Type R já andava nas ruas e com ele partilhava alguns detalhes como a ausência do sistema de controlo do som emitido pelo escape e pela utilização do motor B16B embora no Integra tenha ligeiras alterações, mas com internos e pormenores mecânicos semelhantes. O 1.6 VTEC do Civic Type R descende de uma longa família de motores que foram introduzidos pela Honda em 1968 e cujas atualizações e evoluções mecânicas culminaram com a associação do sistema VTEC ao motor de 4 cilindros em linha DOHC e à sua utilização mais virada para a eficácia desportiva que para a eficiência de consumo. Mas há mais do que o motor na versão «verdadeira» do EK9 Type R. Para lidar com o 1.6L naturalmente aspirado cujo potência por litro de cilindrada continua a ser das maiores de sempre, a Honda optou por utilizar um chassis monocoque de forma a reforçar a rigidez torcional deste modelo. A suspensão foi também melhorada com molas mais curtas e amortecedores mais rígidos transformando o pequeno familiar num fantástico desportivo, mesmo com tracção frontal.

       Capaz de «sprintar» até aos 100 km/h com arranque parado em 6,7 segundos (calma, falamos de um carro com praticamente 25 anos) e uma velocidade máxima de 225 km/h, o Civic Type R da primeira geração é um verdadeiro ídolo para os fás dos carros japoneses. Apesar de terem sido produzidos 16 000 unidades, este número é hoje bastante inferior, como muitos desportivos. A condução mais aguerrida fez as suas vítimas e claro, há também algumos exemplares que foram convertidos em versões mais despidas e de competição. No mercado europeu, como já dissémos, não foram vendidos e apenas no Reino Unido se consegue importar directamente do Japão, sendo a porta de entrada para os restantes países. Bem, se quisermos podemos importar directamente mas os entravas, complicações e limitações são muito maiores.

      Mas falemos da estética deste EK. Aliás, é esse o ponto forte deste «nosso» Civic, sendo esse o ponto de partida para o excelente exemplar que aqui temos. Assim que chega junto de nós, somos brindados com o full stock Type R look, branco e jantes brancas, com o interior vermelho. À primeira vista, somos invadidos pelo sentimento made in Japan que este Civic transmite, apenas travado pelo facto do volante estar à esquerda (no Japão o volante está à direita). Não faltam os detalhes que ajudam a «vestir» este Civic com roupagem R (de Racing), nomeadamente os emblemas Honda de fundo vermelho, característica que ajuda a distinguir logo à distância um modelo Honda normal de uma versão desportiva Type R. Os faróis de fundo mais escuro e o pequeno lip no pára-choques frontal compõe o aspecto mais desportivo e comprova que não é necessário grandes «abusos» estéticos para termos conotação mais sporty num automóvel.

       De perfil temos, talvez, o aspecto mais distinto deste modelo. O formato de carroçaria hatchback (traseira curta) neste tom branco compensa o que falta em contraste com o bom aspecto geral. As jantes brancas, leves mas resistentes da Honda Racing com o emblema em vermelho escondem travões melhorados face à travagem de origem que este EK trazia. Mais uma vez, recordados que este veículo se trata de um projecto e que tudo foi feito com base num Honda Civic perfeitamente banal e simples, utilizando o modelo Type R como ponto de partida. Temos as embaladeiras Type R, o autocolante Type R junto às rodas traseiras e conseguimos espreitar deste ângulo as baquets vermelhas mas… já lá iremos.

      Na traseira a estrela é o spoiler original Type R. Compõe esta secção e juntamente com o lip do pára-choques assina um look mais desportivo. Claro que temos também mais um autocolante Type R e o emblema de fundo vermelho para ajudar a recordar o que este Civic tenta recriar. A panela de escape original, de saída simples não utiliza artifícios para se fazer ouvir. Não há ponteiras Akrapovic ou linhas directas para fazer aquele barulho que usualmente associamos aos Honda Civic e que tão má imagem lhes atribui mas sim um bonito cantar do 4 cilindros em linha que mora na outra extremidade. Olhando para este Civic, seja da traseira ou de outro ângulo, não nos esquecemos que estamos perante o veículo de finais dos anos 90 e deixamo-nos invadir pela excitação e alegria que era viver nesse tempo e apreciar os modelos automóveis que povoavam as nossas estradas.

       O interior espartano e bicolor deste Civic recorda-nos novamente que este carro tem mais de 20 anos e que há «mordomias» que hoje são tão habituais que nem damos por elas mas que anteriormente eram pequenos luxos. Mas o que queremos destacar neste habitáculo são as fantásticas baquets Recaro vermelhas, que nos remetem logo para o Integra Type R que fotografamos há uns anos em Setúbal. O contraste que estas fazem com o restante interior mais escuro e monocromático é seguido pelos tapetes Type R também em vermelho. Os bancos traseiros e quartelas ainda são as originais, com o padrão de dois tons e o tablier não tem alterações que mereçam destaque. O quadrante ainda é o original, mas sabemos que há planos para ser trocado pelo do Civic Type R e o volante também apresenta o H pintado a vermelho, para seguir a temática a bordo e temos ainda uma manete em alumínio que «grita» Go Go Go e nos incute a conduzir este Type R bem no redline.

        Os 1050 kgs, o autoblocante no eixo dianteiro, o motor 4 cilindros atmosférico com o sistema VTEC e um chassis reforçado são os ingredientes perfeitos para se ter um automóvel de utilização normal mas com (muita) apetência para circuito ou estradas sinuosas. O primeiro Civic Type R foi e sempre será um verdadeiro ícone da marca japonesa e um exemplar perfeito para os fãs de automóveis japoneses no geral. Mesmo quem não seja fã da Honda se rende à eficácia, potência e dinâmica dos modelos da Honda Racing. E este Civic, não sendo um verdadeiro Type R, honra o modelo de onde «bebe» inspiração ao vestir a sua roupa de uma forma perfeita, correcta e cuidada, sem esquecer o propósito com que foi construído pelo seu dono: manter a chama acesa enquanto o verdadeiro Type R não chega à sua garagem. Aqui estamos já a torcer para que isso aconteça em breve!