Capítulo II – o GTA desportivo

    Os últimos meses têm sido de maiores pausas em termos de artigos. Ainda assim, temos tido acesso a projectos bem executados, com alterações interessantes, bem como restauros de clássicos onde é impossível apontar falhas mas uma área onde usualmente não é dado o devido valor é nos modelos modernos, que ainda são «novos» para restauros mas cujo objectivo é manter toda a originalidade. Com base nisso, temos tido mais procura em modelos que mantenham a sua linhagem de fábrica, com manutenções periódicas e cuidadosas, onde a paixão pelo automóvel está espelhada em cada parafuso, em cada borracha, em cada peça plástica.

Detalhes em cada canto é marca deste 147 GTA.

   Felizmente estamos rodeados de boas pessoas. Temos de o dizer e até de o gabar! É difícil hoje em dia pegar num projecto do zero e ir subindo com ele a montanha da diversidade e da concorrência. Bem, nem queríamos usar essa palavra, pois diminui e coloca numa caixa retorcida no canto da garagem o que efectivamente fazemos. Mas, e voltando às boas pessoas que nos têm «dado a mão», em cada artigo que nos aplicamos, o que ficamos a conhecer do dono de cada automóvel deixa-nos fascinados e até aliviados. Sim, ver que existem «outros» como nós, que cuidam do seu carro como quem cuida de um membro da família realmente é recompensador.

   Dentro de todo este «romantismo» em torno da ideologia do petrolhead, encontramos o dono desta Bella, um bonito Alfa Romeo 147 GTA na cor que muitos dirão (e nós também) ser a certa para um vestido desta «senhora». Ora, antes de entrarmos na nossa análise de conteúdo e de olharmos mais para este Alfa, temos de enquadrar este 147. Desta vez, re-publicamos os três artigos desta «família» na ordem correcta. Depois do Capítulo I (http://allwheelsphotography.com/capitulo-i-o-gta-familiar/), apresentamos aqui o segundo capítulo, o street car (carro de estrada). Sim, numa família de entusiastas, nunca há apenas uma história para contar (o terceiro capítulo fica para depois).

    E que história! O Nuno volta a sentar-se em frente a nós para mais dois dedos de conversa. Desta vez, com mais tempo (anteriormente, a história foi, em parte, contada entre mangas do trackday no Autódromo do Estoril e como tal, um pouco mais à pressa), Nuno conta-nos que desde sempre que sonhou com o 147 GTA, automóvel que para ele (e concordamos!) continua a ser moderno, a estar esteticamente atualizado e claro, a atrair a atenção, especialmente nesta apaixonante cor vermelha. Antes do 147 GTA, Nuno cresceu no seio de uma família Alfista e a paixão acentuou-se quando em 2003 o pai comprou um bonito 156 GTA para as viagens de família.

   Ao longo dos anos, foi contactando com vários Alfas sempre atento ao 147 GTA, sendo que na altura em que iniciou a procura por automóvel, apenas existia um em solo nacional (branco pérola, de testes de imprensa) que supostamente estaria na Madeira. Um ano depois da chegada do 156 GTA à garagem da família, e numa viagem à Suiça (num passeio Fiat), Nuno viu ao vivo e a cores o primeiro 147 GTA e a paixão aumentava; anos mais tarde encontrou num stand cá no continente o que viria a ser o «seu» 147 GTA vermelho (tinha sido vendido novo, também para a Madeira).

   Certo dia, num track day, Nuno viu um 147 GTA Cup branco com um papel a dizer que estava para venda o que se traduziu também numa novidade, pois foi a primeira vez que viu um 147 Cup! Passado uns meses, numa segunda-feira à noite, mergulho na internet e espreitou num site de venda de automóveis qual o valor desse 147 GTA CUP Branco e tudo começou nesse momento. Alterou a pesquisa para o Alfa Romeo 147 e organizou-se pelo preço mais alto e eis que apareceu o «seu GTA».

    Dois dias depois do primeiro encontro (embora apenas virtual), Nuno foi participar num passeio internacional do Clube Fiat de Portugal, e no segundo dia deste passeio (na quinta feira), durante o passeio, tiveram os automóveis expostos na fonte luminosa junto à Alameda e foi então nessa altura, debaixo de um forte calor que Nuno resolveu dar um salto ao stand com o seu pai para ver ao vivo e a cores o 147 GTA. Conta-nos como ficou impressionado com os alargamentos do carro face às restantes versões do 147 e claro, como foi difícil sair do stand sem a sua Bella. Depois de mais alguns telefonemas e do 147 GTA estar garantido, era questão de esperar mais uns dias para poder sentir o que é conduzir parte da história de uma marca que ainda hoje move centenas de aficionados em passeios, eventos e meros «ajuntamentos».

A tradicional grelha Alfa, intemporal.

    Como de uma história de amor, a ligação do Nuno com o seu Alfa 147 GTA teve um desenvolvimento digno. A pesquisa, a procura, a leitura e aprendizagem, a escolha e a opção emocional de um automóvel para um apaixonado pelas quatro rodas pode ser confundido com um romance realmente, pois em capítulos seguintes, acaba por haver sempre momentos menos bons, com despesas, dissabores que invariavelmente, acabam por escrever a história de um automóvel e com isso, aumentar o seu valor emocional para o seu dono.

    Romance acabado, falemos um pouco do Alfa Romeo 147 GTA. O 147 surgiu em 2000 como resposta ao contínuo crescimento da procura de pequenos familiares na Europa, substituindo o 145 e 146. A marca italiana andava um pouco afastada desse segmento em termos de vendas mas viu no 147 uma oportunidade de conseguir reclamar para si uma parcela dos lucros que este mercado conseguia atingir. Vendido durante 10 anos e baseado no 156, o 147 foi vendido com várias ofertas de motores a gasolina, desde o 1.600cc ao 3.200cc que aqui trazemos, passando por uma obrigatória oferta diesel baseado no 1.900cc, podendo ainda optar pela caixa manual ou pela semi-automática Selespeed. E já que falamos do motor, o que dizer o coração deste GTA?! Um bonito, sonoro e bem capaz 3.200 cc V6 de 247 cavalos e 300 nm de binário capaz de projectar este foguete vermelho até perto dos 250 km/h. E se neste exemplar há orgulho, aqui é um bom local para o ver, dado que todos os cromados reluzem, os plásticos cintilam e todos os detalhes estão constantemente a serem vigiados e recuperados com vários detalhes realizados.

     Fechamos o capot, e debaixo de um bonito e caloroso sol de inverno apreciamos as curvas desta Bella Signora, e rapidamente damos conta dos acentos estéticos que a Alfa Romeo projectou para este GTA. Fruto dos rabiscos bem conseguidos de Walter de Silva (conhecido designer da Volkswagen, Seat e Audi), o 147 GTA facilmente é reconhecido num parque automóvel banalizado pelas cores cinzentas e pretas. Além do chamativo vermelho-fogo, os alargamentos da carroçaria são evidentes quando olhamos para a frente ou traseira deste GTA, essenciais para acomodar as generosas jantes com as características formas circulares que hoje em dia estão até na moda mesmo na utilização em outros modelos não-Alfa.

     Atrás das chamativas jantes, os potentes travões pintados na mesma tonalidade da carroçaria e com o logo Alfa Romeo denunciam que além de rápido, este 147 também é seguro e trava bem. Também ajuda à sensação de confiança em condução mais rápida o autoblocante original da Alfa Romeo que segundo quem sabe (e conhece a condução em ambas as vertentes), faz uma diferença abismal no comportamento em curva e na forma como a potência é entregue às rodas da frente.

    Mas não nos percamos da estética deste 147. A frente conta com a porção inferior bastante diferente dos não-GTA. Com uma entrada de ar mais generosa e com duas pequenas a ladear a típica grelha Alfa Romeo, facilmente se distingue um GTA dos restantes, sem ser necessário recorrer a abusados apêndices aerodinâmicos ou linhas vincadas na carroçaria. Na traseira, a simplicidade mantém-se, com o design a ser aqui mais expressivo recorrendo a um pára-choques com um desenho inspirado nos difusores traseiros dos veículos de competição e dupla saída de escape à esquerda. Completando a traseira, o elegante mas eficaz aileron no topo da bagageira e claro, o logótipo GTA.

    Na lateral, o mais evidente são as referidas cavas e painéis laterais alargados, interligados com generosas saias laterais que apesar do seu volume, não destoam e assentam que nem uma «luva» neste italiano raçudo.

    A estética do 147 foi revista no final de 2004, com as alterações mais evidentes a serem executadas na frente e traseira, utilizando faróis semelhantes aos do Brera e do 159 na frente, e farolins mais «simplistas» na traseira.

    E se o charme italiano do exterior já é um bom cartão de visita, no interior o estilo mantém-se. Totalmente em pele e com umas baquets com bom apoio lombar e nas pernas, o habitáculo do 147 GTA parece resistir aos anos e manter um invejável ar jovial e atualizado, sendo apenas traído nesta visão «modernista» a consola central. O volante de três braços, grosso e de boa pega, mostra-se bastante leve e fácil de manobrar (basta volta e meia para atingir o curso total), o que ajuda ao sentimento de desportividade inerente na condução deste 147. Comparando com os 147 «normais», as diferenças não são assim tão óbvias (além dos bancos, claro); a cor dos trimmings, as molduras dos ventiladores e a consola têm um tom antracitado, que liga muito bem com a elegância da pele e o manómetro da temperatura do óleo no quadrante, sempre útil quando se usa e abusa de um motor destes. E quando nos cansarmos de ouvir o bonito tom rouco dos escapes do GTA, nada como ligar o rádio e ouvir o som cristalino e sem ruídos das colunas Bose (verdade seja dita, a bordo deste 147, não nos apeteceu ligar o rádio, sequer!).

   O cuidado e paixão com este 147 GTA é visível em todos os painéis e em todas as palavras que o Nuno profere sobre este carro. O restauro permanente, chamemos-lhe assim, que este Alfa Romeo «sofre» é algo que é único e que transmite o que nós na All Wheels Photography tentamos mostrar através destes artigos e fotos, a verdadeira paixão automóvel que neste caso, é mais que obrigatória, perante a «raridade» do modelo, pois apenas 5030 147 GTA’s foram produzidos (segundo informação fornecida pela Alfa Romeo). E se isso não bastasse, em Portugal são ainda mais raros, especialmente quando mantidos como de fábrica, não só nos componentes estéticos e mecânicos, como no estado de conservação.

   Deixamos mais um «até já» ao Nuno, com a promessa de voltar novamente ao seu esconderijo, à sua garagem que, cada vez que nos recebe, partilha novas histórias e novidades. E claro, haveremos de re-partilhar o terceiro capítulo, o GTA de corrida.