Camo-Rocco

        Os leitores assíduos dos artigos da All Wheels Photography (são poucos, mas são fiéis!) seguiram de perto o concurso que a equipa lançou no final do Verão de 2017. Como forma de premiar os seguidores da AWP, decidimos realizar uma pequena competição onde cada um dos interessados teria de publicar uma foto do seu automóvel e partilhar a publicação, de forma a poder ganhar uma sessão fotográfica e respectivo artigo dedicado. Bem, já devem ter percebido quem ganhou esse concurso, certo? Um bonito e incomum Volkswagen Scirocco. Com a temática do vinil e da camuflagem em voga, este VW acompanha a moda e «vestiu-se» a rigor para o ano de 2017 e claro que na sessão fotográfica esse facto tinha de ser realçado.

Não se esqueçam que este artigo é um throwback, mas merece toda a nossa (e vossa) atenção.

      Sobre a temática da camuflagem, fomos para Alcochete para podermos estar à vontade e poder explorar um pouco do desenho tão bem sucedido deste Volkswagen que apesar de ser um coupé de pretensões desportivas, vendeu bem nesta terceira geração. Em produção desde 1974, o Scirocco sofreu um interregno de 16 anos entre a segunda e terceira geração, tendo sido justificada esta ausência com o flop de vendas que constituiu a segunda geração. Nesta terceira geração, que se atualizou recentemente com um moderno e bem sucedido facelift, todo foi redesenhado e repensado de forma a colocar o Scirocco na ribalta dos desportivos compactos. E um aviso antes de continuar a ler o artigo, se gosta desta terceira geração a ponto de querer comprar um apresse-se, pois a VW já avisou que provavelmente não irá produzir um novo Scirocco (nem se prevê um substituto à altura).

       Regressando à evolução do Scirocco, temos de ir aos anos setenta para podermos contar um pouco do que é este modelo e de onde surgiu. A Volkswagen é conhecida pela sua «paixão» pelos ventos, correntes e marés e o Scirocco não é excepção. O modelo da marca alemã foi batizado em nome do vento mediterrânico Sirocco, quente e proveniente do norte de África. E foi com base nisso que o slogan da primeira geração foi feita – Scirocco. A hot new car from Volkswagen. As fast and powerful as the desert wind it’s named after. E o slogan tinha de prometer, dado que este Volkswagen vinha substituir o saudoso Karmann Ghia que, apesar das parcas vendas, foi um modelo que criou e ficou para a história automobilística como um dos mais bonitos coupés de sempre.

       A segunda metade da década de setenta foi importante para a VW. A antecipação da venda do Scirocco em 6 meses permitiu a distinção entre este modelo e as versões de três portas do Golf, que ao partilhar o chassis com o Scirocco numa primeira fase, poderia criar algumas confusões entre ambos os modelos, principalmente pela possibilidade de se pensar no Scirocco como uma versão desportiva do Golf, algo que a VW quis, desde o início, afastar.

      Na primeira geração, vários foram os motores e versões disponíveis, principalmente consoante o mercado de destino. Nos EUA as frentes dos Scirocco tinham de possuir duplos faróis, ao invés dos restantes mercados, onde a frente tinha apenas dois faróis retangulares; nos motores a escolha podia recair entre as versões a gasolina dos 1.100cc aos 1.700cc e um 1.800cc diesel, acompanhadas por opções de caixa e versões de equipamento.

         A segunda geração, vendida entre 1981 e 1992, foi uma lufada de ar fresco perante os pontos menos positivos da primeira geração. Mais espaço interior, maior capacidade de bagageira, melhor coeficiente aerodinâmico e motores mais económicos foram as «armas» de marketing da Volkswagen. Esteticamente a segunda geração evoluiu obrigatoriamente, com alguns detalhes bem conseguidos, como o spoiler traseiro a meio do vidro, sobre as letras do modelo, em vinil. Mas o mais importante desta segunda versão foram as edições especiais feitas (com destaque para a Wolfsburg vendida apenas nos EUA e Canadá), bem como a tão desejada opção GTi. Em 1992 a produção do Scirocco partilhou o espaço com o Corrado, encerrando o comércio do coupé até 2008.

     Como já referimos, 16 anos depois do Scirocco deixar de ser produzido, surge a terceira geração do coupé de quatro lugares. Completamente atualizado, modernizado e produzido em Portugal na AutoEuropa, a actual geração do modelo da Volkswagen é baseado novamente no Golf e no caso da fase inicial esta geração, no chassis do Golf V (quinta geração), partilhando inúmeros componentes e detalhes de produção. Das várias versões comercializadas, as mais apetecíveis foram a GTD e claro, a versão topo-de-gama R, com o motor de 2.000cc de 260 cavalos, TFSi, que permitia associar à estética consensual do modelo uma dinâmica bem conseguida. Contudo e fruto da conjetura económica nacional, desde 2008 que as versões mais bem sucedidas a nível nacional e com isto queremos dizer, mais vendidas, foram as versões a diesel de 140 e 170 cavalos, ambas derivadas de um bloco 2.000 TDi. E aqui entramos no «nosso» Scirocco.

       Começamos por onde terminamos, no motor. Este Scirocco de pintura diferente do habitual (a ela iremos a seguir) conta com o bloco TDi de 140 cavalos que ao olhos (e não só) do dono pareceram pequenos e curtos, levando a um ajuste electrónico e ficando com cerca de 200 cavalos e 440 nm de binário, ficando a dinâmica mais condizente com o aspecto deste Volkswagen. E se anda melhor, também trava melhor, recorrendo à travagem da versão R, pintada a vermelho. E dado que abordarmos a estética, certamente que já perceberam que a temática aqui é a da semelhança para com a versão de topo do Scirocco, o R.

      A frente com um pára-choques mais agressivo com três grandes entradas de ar e as luzes diurnas fazem da «cara» deste VW um dos pontos mais expressivos deste automóvel. O logo R a vermelho, o emblema VW a preto e claro, o vinil camuflado contribuem para a musculatura deste Scirocco. A lateral também tem o toque do R claro, com as embaladeiras a trazerem o perfil deste pequeno coupé para mais perto do chão. Também o rebaixamento conseguido através dos V-Maxx Xtreme ajudam a este perfil mais desportivo, completado pelas generosas jantes OEMS de 19 polegadas (8,5 de largura na frete, 9,5 atrás) envoltos em pneus 235/35 que ajudam a manter o Scirocco na estrada quando este é conduzido de forma mais agressiva.

            Na traseira o look R volta a ser a estrela, com o pára-choques com difusor a preto ladeado por duas ponteiras generosas e completado com o lettering, também em vinil e a invocar a segunda geração. A agressividade deste Volkswagen neste ângulo é potenciada pelos farolins em led da Dectane, que ao travar, acendem a luz retangular em led, criando uma assinatura única.

         Com o sol a baixar, viramo-nos para o interior. Aqui não havia muito a fazer efectivamente. Os quatro lugares do Scirocco são agradáveis e espaçosos embora os traseiros não transportem comodamente adultos com mais de 1,80m de altura… O volante do facelift do Scirocco R em preto piano confere uma pega espetacular e condiz na perfeição com os plásticos do interior pintados ora a preto piano, ora a vermelho, indo buscar a cor usada nos emblemas R do exterior. As luzes do quadrante, ponteiros e detalhes foram trocados e são agora azuis, tal como na tal versão R e o rádio RNS 510 permite um melhor som e mais qualidade e facilidade na utilização do sistema de entretenimento a bordo.

Tentámos camuflar este Scirocco no ambiente circundante mas na realidade queríamos que ele se destacasse!

        Voltamos ao exterior para admirar não só o Scirocco como o espaço envolvente. Da casa das Estradas de Portugal, abandonada e sediada na berma da antiga N10 que liga Alcochete a Vila Franca às salinas que por ali vão crescendo, o ambiente sereno apenas era «quebrado» pela passagem dos veículos pesados na nova N10. Aproveitamos esta calmaria para conhecer mais do João e do seu Scirocco. Depois de vender o seu «menino» (menino entre aspas, pois tratava-se de um Toyota VX 3.0 Turbo) por necessidade de ter algo mais pequeno e económico, começou a bater stands e ver na internet. Apesar de formatado para um BMW, encarou com o anúncio deste Scirocco e depois de o ver pessoalmente, a frase cliché do amor à primeira vista fez-lhe tanto sentido. Com uma versão parca em equipamento, houve e ainda há espaço para melhorar, nomeadamente com extras OEM ou alterações de melhoria do equipamento original, algo que ainda está longe de estar fechado, como é normal num projecto.

       Já no fim da tarde decidimos abandonar o local. Aproveitamos os caminhos cruzados de ambos para fazer umas fotos em andamento, ao qual agradecemos ao nosso amigo de longa data João Carias que além do apoio na sessão, também nos brindou com os seus conhecimentos sobre a Volkswagen e claro, dicas para melhoria do projecto que aqui vos mostramos. Uma tarde de excelente qualidade, a premiar o primeiro vencedor dos concursos da AWP.