Belgian Flavour

      O mundo do stance continua a mexer, mesmo sem eventos este ano. Com os grandes nomes dos encontros desta área a serem adiados para o ano que vem (se houver controlo da pandemia que continua a assolar o mundo), os projectos que por cá se vão fazendo e mantendo não têm este ano onde se «mostrar». Assim, gostaríamos de pensar que estamos a fazer uma espécie de evento virtual, online, com a exposição de cada um destes projectos na sua área dedicada e aberto a que todos os possam apreciar. Mas para isso contamos com a disponibilidade e vontade dos seus donos e projectistas em partilhar connosco os seus meninos! Sim, parece que este tal «evento» será algo com poucas participações, mas nada melhor do que começar com um bonito projecto da zona centro-norte do país… bem, na realidade, da Bélgica (pelo menos de matrícula).

     Em 2019 fomos até Águeda e à bela zona da Pateira de Fermentelos fazer umas fotos a um Audi A3 do Paulo Ribeiro, que figura também ele no nosso portefólio (Bagged A3) e ficámos desde então com vontade de ter o Audi do outro Paulo presente também a compor o nosso site. Apesar das dificuldades inerentes à estranha e nova realidade em que vivemos, decidimos fazer-nos à estrada e avançar com as fotografias e o resultado é o que já começaram a ver. Como este S3 habita na zona do Caramulo, mítica pelos seus eventos ligados ao automóvel e aos eventos desportivos motorizados, nada melhor do que realizar as fotografias perto desse local. Bem, não estamos lá, mas estamos novamente em Águeda e na nova Casa da Cultura da cidade, uma obra moderna, revestida a betão crú e vidro espelhado, que em termos de cenário fotográfico resulta com qualquer peça, em especial com algo pintado num tom vermelho com nuances alaranjadas, como é este Absolut Red da Audi, cor mítica dos S e RS do final do milénio.

Um S3 vermelho... um edifício moderno em tons de cinza...

      Procurávamos o sol de final de tarde, aquela típica cor dourada que acentuaria a pintura deste S3 mas S. Pedro decidiu brindar-nos com um tempo mais… britânico. Mas não esmorecemos, pois acabámos por perceber que devido à tonalidade quase perolada desta pintura, a luz directa podia ser um verdadeiro desafio fotográfico e de posterior edição, pelo que assim, com o esbatimento causado pelo céu cinzento, conseguimos captar e transportar para o ecrã a verdadeira cor, sem filtros e sem invenções, para que o possam apreciar. E sejamos sinceros, e desafiamos a quem não concordar connosco a nos enviar uma mensagem privada mas… estes carros desportivos, sejam eles de que marca for, merecem uma cor viva, que acentue as linhas e curvas da chapa e que atraiam as atenções, mesmo sem recorrer aos motores habitualmente ruidosos e aos escapes capazes de umas boas pops&bangs.

     Mas… o que faz um carro belga, que já foi holandês, a ser fotografado em Portugal? Sabem aquelas histórias que quase dão um romance, se tivermos a nossa veia lírica e poética bem afinada e lubrificada? Pois, resumindo para não vos aborrecer, este S3 fase 1 de 1999 foi primariamente comprado na Holanda, onde esteve uns bons anos. Mais tarde, foi trazido para a Bélgica e dois anos depois, adquirido pelo Paulo nesse país mas usado nas longas viagens entre a sua casa e Portugal. Mas esta paixão pelo S3 começou antes, em 2015, quando o Paulo e a sua cara metade vinham numa dessas viagens a caminho de Portugal e na zona de Valladolid cruzou-se com um S3 8L na mesma cor Absolut Red e não deixou mais de pensar que era um assim que queria ter e um ano e meio depois, cumpriu com essa meta de vida.

     Este S3, por ser um Fase 1, conta com o 1.8 Turbo de 210cv ao contrário dos 225 da versão seguinte e recorre ao sistema de tracção integral Haldex que, na maioria do tempo de utilização, permite a este Audi funcionar como se fosse um tracção dianteira. Quando necessário (principalmente quando perde tracção), e recorrendo à embraiagem, o sistema desvia o poder de tracção também para o eixo traseiro permitindo um comportamento equilibrado e equiparado ao Quattro, tão conhecido da marca alemã. O motor de 4 cilindros em linha derivado do Audi TT mas com menos potência (para não ofuscar o coupé) e de 20 válvulas consegue dar alma aos quase 1400 kg’s e foi o primeiro motor «pequeno» a ser usado pela linhagem S ou RS da Audi.

     A frente deste Audi é o que faz o maior destaque perante os restantes A3. Não só pelos detalhes específicos da versão desportiva S, mas principalmente pelos faróis de xénon e pelos alargamentos das cavas, o que lhe confere um aspecto «bruto» e pronto para a estrada. Além destes detalhes, temos de destacar o bonito trabalho na grelha inferior pintada em preto piano e no emblemático símbolo S3 na grelha de cima. Mas o que é interessante quando nos colocamos ao nível da frente neste carro, é mesmo as abas das jantes a espreitar o que neste tipo de projectos é algo que tentam fazer mas que nem sempre bate certo. O quebra-cabeças de larguras de jantes, abas, ET’s e sistema de suspensão acaba por se tornar quase em ciência aeroespacial de forma a que tudo bata certo.

As RH ZW4 parecem ter sido feitas propositadamente para este S3.

    E quando passamos para a lateral e nos deliciamos com as fotografias tiradas, percebemos essa tal ciência e a forma como tudo se conjuga de maneira a que o resultado final seja o tal perfect fitment ou encaixe perfeito. Não é para todos os gostos e por isso é que temos áreas dedicadas no nosso website para que haja zonas de conforto e interesse para todos. Mas estamos a falar deste S3 e no que concerne ao sistema de suspensão e rodas, contamos com uma suspensão Airlift V2 que permite encostar as abas das jantes às cavas. E por falar em jantes, as bonitas RH ZW4 utilizadas no Porsche 964 foram alteradas nas suas medidas de forma a se tornarem únicas e um verdadeiro caso de sucesso no que concerne ao estilo, dado que têm 10 polegadas de largura na frente e 11 atrás, com 18 de diâmetro, o que faz esticar bastante os pneus montados.

      Os detalhes em preto piano começam na frente, passam pelas doorblades e terminam no difusor traseiro onde, juntamente com a dupla ponteira de escape, compõe a traseira. Na realidade, não fossem esses dois detalhes e este S3 passava despercebido no trânsito, daí que seja fácil utilizar este aspecto mais desportivo do S nos mais vulgares A3 o que, em última instância, deve ser visto como um elogio ao bonito e desportivo design da traseira do S3. O logo Proud que podem ver também no vidro traseiro é alusivo ao grupo onde se insere este projecto e do qual o Paulo é, digamos, o representante português.

    Aproveitando a luz a desvanecer, espreitamos o interior tão anos 90. Os bancos estilo baquet em pele ajudam a manter-nos no sítio quando o sistema de tracção faz o seu trabalho e permite descrever curvas como se estivéssemos sobre carris. Não são os mais confortáveis mas neste caso específico, em que toda a suspensão e set rolante foram alterados, esse conforto é difícil de avaliar. Mas é algo que não incomoda, tendo em conta o objectivo do projecto, totalmente virado para o OEM+ / Stance. Mas temos outro tipo de conforto, claro. Apoio de braço, uma direcção leve e bastante fluída e directa e mesmo sem a tecnologia de agora, continua a ser um excelente local para se estar, até porque convém relembrar que este carro tem 21 anos.

    Com as fotografias a avançarem a grande ritmo (com um bom cenário e carro, ficamos sem perceber a quantidade tirada até irmos para a edição), fomos falando dos eventos e do estranho ano que estamos a viver. Com os eventos cancelados, e sendo o Paulo um dos organizadores do SKP (Street Kustom Portugal) que habitualmente tem lugar no Calvão, na zona de Aveiro e seria muito em breve mas já se sabe as razões que levaram ao seu cancelamento, tal como a inúmeros outros. Para muitos, trata-se da oportunidade perfeita para alterar mais algumas coisas nos seus veículos ou investir noutros projectos pois, como sabemos, neste mundo os donos dos projectos gostam de mostrar as novidades nos eventos, em especial naqueles que ou lhes dizem mais ou nos que pertencem à sua organização.

    Temos de confessar que estamos tristes com 2020 não só por já estarmos a finalizar a primeira metade sem eventos e sem grandes sessões fotográficas mas ao mesmo tempo temos de pensar da forma positiva, isto é, na esperança que 2021 seja um ano em grande para todas as empresas ou pequenos hobby’s que dependem do contacto entre nós e os clientes, pois acreditamos que se estejam a guardar para mostrar essas novidades. No entanto, temos a esperança que este ano ainda vamos conseguir fazer bons trabalhos, pois a nossa paixão pela fotografia e pelo conteúdo automotivo, sejam carros, motas ou outros, não desaparece.