AMG: uma nova era

     O que faz de um AMG um… AMG? Questão ridícula, dirão vocês enquanto abrem o nosso artigo sobre um Mercedes-Benz AMG. Mas será assim tão descabida? Já tivemos vários AMG nas nossas sessões e nunca colocámos esta pergunta desta forma tão directa. Mas acompanhem o nosso raciocínio por favor. Desde quase o início da colocação da sigla da marca de tuning de Affalterbach (casa da AMG) que os modelos que a ostentam contam com, pelo menos, um V8 debaixo do capot. A «casar» com esse motor, um sistema de escape que entoa toda a cavalagem e engrossa a voz dos vários modelos, sendo quase irrepetível o «roncar» de um AMG. Mas com a evolução dos tempos, com as leis ambientais e a limitação dos motores e das suas emissões, também os AMG começaram a fazer dieta quer de cilindros, quer até da sua voz. Assim, a marca alemã de personalização teve de recorrer a outros artefactos para manter viva a chama que causa umas borboletas no estômago sempre que se liga um automóvel que ostenta a sigla na traseira (ou apenas no motor).

      Este downsizing que temos assistido tem feito com que muitos automóveis, verdadeiros aviões no seu tempo, se tornem verdadeiras lendas até antes do tempo. Um AMG com motor V8 é algo cada vez mais raro atualmente, com a marca alemã a apostar os 4 e 6 cilindros em linha para equipar os seus modelos topo de gama. Mas será que todas estas alterações impostas por um conjunto de regras que penaliza as marcas consoante as emissões que produzem, limitam o prazer de condução? Será um AMG com motor em linha menos capaz que um V8? Gostávamos de ter a resposta já aqui mas não teria a mesma piada, pois não iriam ler o resto, certo? Antes de continuarmos na nossa dissertação, apresentamos já o carro em questão: Mercedes-Benz E53 AMG, um coupe espaçoso, potente e l-i-n-d-i-s-s-i-m-o!

      Não estranhamos esta sigla na traseira de um Mercedes, até porque anteriormente já existiram modelos C32 AMG, C43 AMG por exemplo, que serviam de porta de entrada para um mundo exclusivo de potência e raça automóvel. Na mesma altura, a AMG tinha na outra «ponta do espectro» os diabólicos V12 com que equipou as versões CL, SL e até emprestou à Pagani para o Zonda. Com tudo isto queremos apenas mostrar que a sigla AMG é mais do que o número de cilindros num motor e a forma como estes estão dispostos no bloco. É alma, paixão e acima de tudo, carisma e lenda. Mas a inovação não está apenas no tal downsizing. Acopolado ao motor de 3 litros existe um turbo bem «fofo» e um compressor de acionamento eléctrico, gerido pelo sistema EQ Boost de 48v que gera cerca de 22 cavalos e 250 Nm e que envia a energia gerada para um par de baterias. Ou seja, estamos perante um mild-hybrid, tão na moda atualmente. Mas desenganem-se. Este E53 não é um Prius ou semelhante, isto é, não consegue circular puramente elétrico.

     E fazemos agora outra pergunta: para que serve então este «motorzeco» elétrico num desportivo como o E53? Basicamente é um booster instantâneo e que potencia o motor de combustão, melhorando a dinâmica, a resposta ao acelerador, recuperando até energia das travagens e baixando as emissões, as tais «culpadas» pelo constante ataque aos grandes carros, com motores possantes e à antiga. Mas não estamos mal atualmente, com as diversas marcas a conseguirem responder o melhor possível às tão necessárias exigências climáticas. Será então que com tanta adição tecnológica, o carisma AMG ainda está presente? Será o mais potente dos E Coupe disponíveis (não há a versão 63) capaz de fazer jus à traça original dos AMG, de andar depressa e de fazer aqueles slides deliciosos e prolongados que recordamos de programas como o Fifth Gear ou o Top Gear.

Um dos nossos ângulosnfavoritos deste AMG!

     O local das fotos foi a Marina do Parque das Nações, amplamente utilizado para este fim mas que nós teimávamos em evitar usar e nem sabemos porquê concretamente. Bafejados pela sorte meteorológica, S. Pedro evitou a chuva e brindou-nos com um céu espetacular e com uns raios de sol que de quando em quando lá iluminavam o tom antracite deste Coupé de linhas sedutoras. E começamos mesmo por aí. Os coupes da Mercedes têm sido uns dos mais bonitos dos últimos anos e os Classe E e S não são excepção. Aliás são, possivelmente, as opções estéticas melhores concebidas no que concerne à sua beleza absoluta. Este E53 esbanja sensualidade em todas as curvas, arestas, recantos e apêndices aerodinâmicos. A chegada do «nosso» E53 é anunciada pela banda sonora. Não é um V8, sabemos disso, mas o facto de vir em modo Sport+ faz-nos sentir como que um adolescente à espera de sair a próxima Playstation, com um brilho nos olhos e um morder de lábio ao sentir o ronco metálico e soprano do tal 6 cilindros.

Não é um 250d com kit AMG... é um fantástico 53 AMG.

     As fotos começam logo assim que o E53 é posicionado. É impossível esperar mais. A máquina fotográfica ganha vontade própria perante a fotogenia do coupe alemão que no «alto» dos seus quase 2000kg’s mostra as suas linhas esguias e que nos confundem por momentos com o C63 AMG, pelo seu tamanho que embora maior que o C, engana, principalmente pela cor antracite que acentua algumas formas e esconde outras. Mas olhando para a brochura da Mercedes, este E53 cumpre bem aquilo para que foi desenhado. Os seus 435 cavalos encurtam o cronometro dos 0-100 km/h para os 4,4 segundos e como todos os outros AMG da atualidade, encontra-se limitado aos 250 km/h. Mas ao volante sentimos que este E53 é bem capaz de passar esses dígitos, em local próprio e com condições de segurança *cof*cof*.

       O teor desportivo desta receita da sub-marca alemã é mandatório, mas não belisca nem omite a potencialidade de luxo e conforto a bordo, algo que podemos já saltar, para dinamizar um pouco os nossos artigos. Abrir a porta deste Mercedes é como que abrir um portal para uma dimensão onde o espaço, luxo e tecnologia andam de mãos dadas. Somos brindados com um gigantesco ecrã plano que atravessa dois terços do tablier e onde estão reunidas todas as informações necessárias para operar um vaivém da NASA. É fácil passar-se horas a explorar os menus, as configurações, os modos de condução e de conforto, as formas como podemos mudar as cores das luzes interiores ou o que aparece em frente ao volante. Basicamente é uma espécie de sistema informático e de domótica com um carro à volta.

Excelente local para se passar um par de horas, garantido!

     Mas além da tecnologia, é do conforto que vive a boa fama da Mercedes nos interiores e neste E53 AMG, isso não é excepção. As poltronas integralmente em pele com zonas perfuradas «abraçam-nos» sem se tornarem invasivas da nossa «bolha» pessoal. Dão-nos imenso apoio lombar e nas pernas ao mesmo tempo que se tornam cada vez mas confortáveis a cada quilómetro que passamos sentados nestes bancos. Com memórias e muitas configurações, permitem que este E53 AMG passe de «arruaceiro» a grandtourer sem ser preciso mudar seja o que for na configuração dos mesmos. A polivalência dos bancos da frente estende-se atrás, havendo claro o compromisso do espaço para adultos mais altos, pelo formato coupé deste E53. E apesar do massivo ecrã, ainda existem muitos botões para fotografar e conhecer, nomeadamente da válvula de escape ou então os pequenos botões com ecrã no volante.

     Por muito que o interior nos tivesse cativado, era altura de passarmos ao exterior, com a ameaça de chuva no horizonte. A elegância das linhas deste desportivo faz-se notar principalmente quando o vemos de ¾, ao podermos apreciar a curvatura da frente com as bossas no capot e a gigantesca grelha central com as barras cromadas verticais e claro, o imprescindível logo AMG. Os pequenos apliques em preto piano das entradas de ar laterais e da inferior contrastam na quantidade certa com a sobriedade da cor deste coupe, levando-nos a acreditar que esta cor é a certa para este AMG. Os faróis full-LED acentuam a dinâmica desportiva ao mesmo tempo que contribuem para uma segurança na condução noturna sem igual. Impactante sem dúvida a face deste E53, uma excelente apresentação do que está para vir.

      No perfil a sensualidade das linhas do desportivo germânico são as armas de arremesso para o mercado onde este E53, se analisarmos bem as opções, não tem rival! O RS5 e o M4 acabam por ser concorrentes mais do C63 AMG e o M6 posiciona-se talvez já no segmento seguinte. Mas não vamos entrar em guerras de segmento, até porque acreditamos que, mesmo que houvesse rival directo, este E53 chegava e sobrava para as «encomendas». As jantes de 20 polegadas calçam os excelentes Michelin Pilot Sport 4S e têm um traço estético que nos conduz à parte mais ecológica deste AMG, ao terem um desenho interno que otimiza a admissão de ar fresco para a travagem que produz energia cinética para o tal sistema elétrico EQ Boost. Mas não compromete a estética do pacote, onde as maxilas AMG saltam facilmente à vista. De coxas largas, zona posterior arrebitada e com uma linha de cintura subida, este coupe tem um perfil imperdível.

      Já na traseira começamos pelo óbvio: as quatro ponteiras de escape. Redondas ao invés de quadradas como nos 63 AMG, são as responsáveis pelo gorgolejo e engrossar da voz do tal motor mais redondo e pequeno que está montado na outra extremidade. Tal como o A35 AMG, as ponteiras redondas anunciam um modelo que não é o de topo, apesar de no E coupe, este ser a versão mais potente. Os farolins também em LED conferem uma assinatura sensual e que promove uma maior desportividade, com a saliência das cavas das rodas traseiras a ficarem mais evidentes. Depois, apenas um pequeno lip na mala serve para assinar o carácter mais desportivo deste Mercedes. Aliás, não fossem as quatro ponteiras e diríamos que estávamos perante um modelo mais «modesto», denotando a necessidade da marca alemã em aliar o lado diabólico do AMG com o aspecto luxuoso e tradicional do E coupe.

       Seja de que lado se olha, este E Coupe da linhagem AMG é um verdadeiro «bombom». Tem tudo aquilo que se pode pedir de um desportivo aliado a uma imagem mais conservadora e menos espampanante. E depois temos conforto a bordo, tecnologia e dinamismo, num pacote tão completo quanto possível. E se acham que no meio disto tudo, é apenas um excelente rolador de autoestrada, desenganem-se. Pois também gosta de curvas, apesar de não ser possível disfarçar as quase duas toneladas de peso. Apesar disso, não fica envergonhado perante outros, sendo surpreendentemente ágil e fácil de manter sobre controlo em curva embora não tenha aquela brutalidade dos 63 AMG. Contudo tem uma excelente compostura e capacidade de fazer qualquer trajeto muito, mas muito depressa.

       Voltando ao início deste artigo, voltamos a perguntar a quem leu… o que faz de um AMG, um verdadeiro AMG? Concluímos que mais do que três letras, a sigla AMG encerra tradição, encerra estilo, desportividade e carisma. E este E53 reúne todas essas qualidades. Mais do que um «muscle car» alemão (algo que era mais aceitável nos V8), este E53 é mais um grandtourer que nos insere um sorriso em serra, carregado de qualidade e luxo a bordo. Para o dono deste E53 que sempre teve um soft spot por coupés, o Classe E é a escolha certa por ser o mais elegante e o completo do mercado. Afirma ainda que na altura da compra, ficou satisfeito por já não se fazer o 63 AMG pois considera que este 6 em linha é extremamente equilibrado e, no que toca a prestações, seja em arranque ou até em serra (apesar das duas toneladas) é espetacular. E depois temos todo o resto, nomeadamente a configuração deste AMG, que está full extras e que não se nega a nada, sendo prova disso os mais de 20000 km feitos. Resumindo ou em jeito de conclusão, deixamos algo que o dono deste E53 AMG nos disse e que concordamos a 300%: se querem um carro elegante, com presença, muito confortável (para viagens) e com prestações fantásticas, este é o vosso carro!