A45 AMG

       O veículo de transporte está a mudar. A modernização do automóvel e o surgimento de novas tecnologias quer de construção, quer de mobilização, permitiu que o automóvel evoluísse a ponto em que se torna difícil distinguir, por vezes, veículos da mesma marca, mas de segmentos diferentes. Já nem basta olhar para o número de portas, ou para o seu tamanho exterior. É então cada vez mais importante a categorização dos veículos em segmentos (famílias automóveis, tal como existe no reino animal), permitindo distinguir os automóveis em ramos consoante o número de volumes (áreas do automóvel) e tamanho volumétrico.

      Hoje trazemos um veículo do segmento C (pequenos familiares), com carroçaria de 2 volumes (em que o compartimento da bagageira partilha a área do habitáculo e cuja porta para aceder a esta zona abre na totalidade com o vidro – hatchback). Mas claro que na AWP não iríamos trazer um simples veículo de segmento C para vos falar apenas das diferenças entre este e os restantes. Escolhemos um brilhante desportivo, que tem invadido as estradas traduzindo-se num enorme sucesso de vendas. Antes de falarmos mais em detalhe do Mercedes-Benz A45 AMG 4matic (a evolução também tem aumentado as designações dos automóveis), queríamos continuar a cultivar um pouco a cultura automobilística de cada leitor. A maioria dos petrolheads que têm a AWP como leitura obrigatória já deverão saber a designação da sigla que carimba os Mercedes-Benz como desportivos, voláteis, insanos – a AMG.

    Aufrecht Melcher Grossaspach ou AMG para resumir, resulta da agregação de três nomes responsáveis pela formação da divisão desportiva. A AMG foi fundada por dois parceiros, Hans Werner Aufrecht e Erhard Melcher, que tinham uma enorme paixão pela marca alemã e que viam nos modelos da mesma um enorme potencial desportivo. Mas ainda falta o G, que vem da cidade-berço de Hans, Grossaspach, uma pitoresca zona situada perto de Estugarda, na Alemanha e que viu os primeiros esboços dos automóveis desportivos da Mercedes tomarem forma, começando pelo coração dos AMG, o seu motor.

   Este dois sócios, responsáveis nos anos 60 pela divisão desportiva da Mercedes, trabalhavam no Mercedes-Benz 300 SE Racing, na divisão de desenvolvimento da Daimler-Benz, quando a marca decidiu suspender indefinidamente todos os trabalhos relacionados com a divisão desportiva. E aqui entra a razão pelo qual os AMG têm espaço na AWP – a paixão pelo automóvel – pois os dois sócios, apaixonados pelos motores potentes e dinâmica apurada, resolveram evoluir o motor em que estavam a trabalhar. Uns anos mais tarde, em 1965, um amigo em comum, Manfred Schieck, surgiu na primeira prova do Campeonato Alemão de carros de turismo ao volante de um Mercedes com o motor 300 SE que Hans e Erhard tinham desenvolvido e venceu… 10 corridas!

     A reputação ganha na área desportiva lançou os sócios num negócio focado na sua paixão primária: carros de estrada com rendimento e eficácia semelhante aos modelos de competição, levando a que em 1967, Aufrecht e Melcher fundassem a empresa que mais tarde se transformaria no marco que é actualmente. O auge desportivo que lançou a AMG no mundo foi a vitória, na sua classe, do AMG Mercedes 300 SEL 6.8 nas míticas 24h de SPA (prova de resistência). Um veículo familiar, com um motor desenvolvido artesanalmente, conseguiu bater veículos mais leves e performantes, causando enorme surpresa e excitação no mundo automóvel.

      Nos dias de hoje, a divisão AMG emprega quase um milhar de trabalhadores e são responsáveis por apimentar os Mercedes desde o pequeno mas ágil Class A (que aqui vos trazemos) até ao monstruoso Class S ou ao elegante AMG GT. Nos vários segmentos, há um AMG à medida de cada condutor (e de cada carteira). Tal como em outras marcas automóveis, a Mercedes-Benz relega para a sub-marca AMG o desenvolvimento dos modelos mais desportivos da marca. Mas não é só modelos desportivos que a divisão AMG produz. Os conhecimentos nas variadas áreas de motor, suspensão, transmissões, aerodinâmica e eficiência estende-se não só para a Mercedes como para outras marcas e projectos. A AMG produz motores de vários modelos sendo um dos mais conhecidos e emblemáticos o Pagani Zonda.

As «canards» fazem parte do pack aerodinâmico, opcional.

      Agora que explorámos as siglas AMG, a sua história e evolução, vamos ao A45. Este compacto da Mercedes surge para substituir o anterior Classe A, um autêntico fracasso de vendas com uma história difícil de suplantar pela marca (certamente que se recordam do falhanço nos testes da Euro NCAP, na prova do alce, em que o modelo capotou com imensa facilidade). O novo Classe A, lançado em 2012 veio revolucionar o mercado dos pequenos familiares de luxo, onde o BMW Série 1 e o Audi A3 eram reis e senhores. Com um leque variado de motores, dos económicos CDI ao mais potente AMG (que aqui vos trazemos), o Classe A aumentou em mais de 25% as vendas da Mercedes no primeiro ano de comercialização do mesmo, tornando-se num dos mais bem sucedidos da marca alemã dos últimos anos.

     O modelo 45 AMG surge como resposta da Mercedes aos vitaminados RS3 da Audi, M135i da BMW e aos mais hardcore Focus RS da Ford e Golf R, da Volkswagen. A elegância das linhas da versão base do Classe A deu lugar a arestas e linhas desportivas, a vincar o carácter desportivo e dinâmico desta versão. A suspensão mais rija e rebaixada, especificamente produzida pela AMG casa na perfeição com as jantes de 19 polegadas e os enormes travões AMG, específicos das versões de topo, juntamente com os apêndices aerodinâmicos característicos do pack Aero. Um aspecto brutal para um veículo que apesar de manter as 5 portas e a funcionalidade de um carro familiar, consegue virar as cabeças de quem por ele passa.

    O motor 2.0 Turbo debita 360 cavalos e 450 nm de binário e recorre à transmissão 4matic para transmitir toda esta potência para o alcatrão, conseguindo levar o A45 dos 0 aos 100 km/h em apenas 4,3 segundos. Esta transmissão às quatro rodas aumenta também o apoio em curva e permite manter trajectórias quase impensáveis para um veículo tão performante. O apoio aerodinâmico também se faz sentir, não só em curva, como acima dos 190 km/h, e é de extrema importância quando este AMG atinge os 250 km/h limitados electronicamente. Apesar de compacto e do aspecto familiar se contarmos com o tamanho da bagageira e o acesso fácil ao habitáculo, este A45 destrona carros bem mais caros e de segmentos superiores no que concerne a potência, velocidade e emoção.

Vamos ao interior, sim?

     Passando para o interior, onde a pele perfurada e as enormes mas confortáveis baquets marcam presença, é um local excelente para se estar. A qualidade Mercedes está lá, com os plásticos mais duros a serem reservados apenas para áreas longe do olhar, sendo o habitáculo acolhedor, sem ser claustrofóbico. Contudo, e apesar do esforço da Mercedes em manter as cotas de habitabilidade, no banco traseiro sentimo-nos um pouco mais apertados que nos modelos Classe A normais, talvez por culpa do formato das costas das baquets. Não é algo que nos incomode, pois o lugar para se estar é ao volante, com um excelente tacto e base plana, permite uma posição de condução perfeita para se dominar os 360 cavalos. O que também ajuda a dominar esta potência é a boa caixa de velocidades automática com a chancela Dynamic Select que diminui o tempo de resposta da caixa comparativamente aos modelos anteriores. Claro que para os petrolheads também viciados nas tecnologias, o infotaiment do A45 AMG está garantido, com sistema de emparelhamento automático, modulo WLAN e conexão satélite são apenas alguns dos pormenores interactivos deste Mercedes.

    Nas estradas por onde andámos, este A45 AMG fez as delícias de quem lá ia dentro. Não é confortável nem apto para utilização diária intensiva, mas lembramo-nos de vários outros modelos que são bem piores que este A45 nessa área. Olhares discretos pelo canto do olho permitem-nos aperceber que ninguém fica indiferente a este modelo, especialmente pela vistosa cor branca a contrastar com as jantes pretas e os apêndices aerodinâmicos com detalhes a vermelho e pelo som grave emanado pelas quatro ponteiras de escape. O ajuste da suspensão e os pneus semi-slicks deixam antever que este A45 é utilizado não só como meio de transporte como também como track-car, com algumas incursões ao Circuito do Estoril.

     Tobias Moers, CEO da AMG, afirmou no lançamento deste A45 AMG, que a sub-marca consegue produzir veículos acessíveis mas ainda assim com a chama AMG e que “..será o mais potente, novamente!”. E pelo que nós vimos nos percursos feitos a bordo ou atrás deste A45, não há dúvidas disso! Um automóvel de petrolheads para petrolheads, para os apaixonados pelo automóvel que seguem a filosofia da AWP e que vêm no seu automóvel um escape à nossa vida e aos nossos stresses. um mundo diferente entre rodas que nos ajuda a esquecer os problemas e a ultrapassar obstáculos.