695 Biposto Record

                Há duas coisas na nossa área de trabalho que nos fazem parar o que estamos a fazer e sair de máquina fotográfica em punho: automóveis e motas! Básico, certo? Mas depois dentro de cada um desses grupos existe sempre algo que implica maior felicidade e até ansiedade em criar um trabalho digno de figurar no nosso site. Quando vimos a janela do nosso messenger piscar com o nome de um grande cliente e amigo, já sabemos de antemão que vem algo interessante e único a caminho. E assim enveredamos novamente na história automóvel italiana com um modelo que, digamos, é novo mas que já é um clássico. Basicamente, nasceu para se tornar um item raro, colecionável e muito exclusivo. Tão especial que só existem 133 no mundo e nós tivemos durante duas tardes este só para nós. Benvindos ao 695 Biposto Record.

                Os 133 695 Record estão num nível à parte de exclusividade. A Fiat e em especial a Abarth sabem como explorar o 500 de uma forma verdadeiramente espantosa. Há inúmeras versões, para comemorar aniversários de pessoas ou eventos, de modelos ou até de parcerias e quando achamos que já não existe mais mercado para estes pequenos irrequietos, eis que a sub-marca de desportivos lança nova peça, mais surpreendente que a anterior. A receita é simples e muito conhecida já do mundo automóvel e basicamente, é pegar num desportivo, desprovê-lo de peso não-essencial, calçá-lo com uma suspensão de corrida, travões eficientes e claro, pequenos ajustes no motor. Será uma receita para o sucesso ou o caminho para o desastre?

Todos os ângulos gritam desportividade e raça neste 695.

                Se nos permitem a sinceridade, é difícil não gostar dos Abarth. Pequenos, ágeis e barulhentos, são usualmente a extensão de quem os conduz. Depois as versões limitadas e especiais já se tornam algo mais ao transformarem o aspecto e sonoridade que muitos entendem por ser arruaceira em imagem de marca e som de classe. Contraditório? Digamos que quando um destes automóveis tem um preço que faz corar até os mais acérrimos fãs da marca, temos de ver as coisas com outros olhos pois se o 695 Biposto normal custa, sem extras, cerca de 46 000€, imaginem  esta «fera» amarela (até a cor é exclusiva – Amarelo Monza) de dois lugares e menos de 1000 kg de peso. Bem, já nos adiantámos em alguns detalhes… mas aproveitamos para vos incentivar a observar bem as fotografias, pois detalhes é o que não falta neste Abarth, principalmente no exterior onde o carbono faz o perfeito contraste com a tal cor amarela.

                Quando queremos fazer fotografias a determinado veículo, escolhemos um cenário que não roube a atenção do mesmo. Contudo há locais que são difíceis de manter essa opção dada a beleza natural com que nos deparamos quando lá chegamos. Já conhecida da equipa AWP, a Serra de Sintra mostrou ser, mais uma vez, o local ideal para fazer ecoar o som fantástico do escape deste 695. Entre as clareiras e zonas mais densas, o cantar deste Abarth é sempre diferente porém delicioso e as «pipocas» acentuam ainda mais o carácter desportivo deste desportivo. Até a vida animal reage à passagem deste Fiat, com os pássaros a voarem para longe e a deixarem um silêncio pouco usual na zona. Silêncio que não dura assim que ligamos este Abarth para o mudar de local.

                E o que significa o nome deste Abarth? Basicamente é um tributo a Carlo Abarth, mítico piloto da marca italiana que em 1965 bateu o recorde de velocidade em Monza; como referimos, apenas 133 destes Abarth Record serão feitos e esse número refere-se ao número de recordes detidos pela marca italiana. Interessante também é saberem que Carlo Abarth, austríaco de nascença, italiano de coração (e posteriormente, de nacionalidade), para bater o referido recorde, teve de perder quase 30 quilos para conseguir encaixar no banco do condutor do seu Fiat Abarth 105 bhp. Sim, isto de fotografar automóveis com história associada é muito bom para a nossa cultura geral pois faz-nos conhecer mais sobre o veículo em si, sobre o que o rodeia e claro, ajuda a compor este texto que acompanha as fotos que vocês tanto gostam de ver.

                Basicamente temos o mesmo motor que nos restantes Biposto, o 1.4 T-Jet de 190 cavalos, 250 nm e claro, vontade de consumir gasolina. Sim, os 6,5 l/100 anunciados pela marca são claramente utópicos principalmente quando se tem junto ao motor um Turbo Garret que «bufa» cada vez que o conta-rotações sobe, impelindo o Abarth até uns suficientes 230 km/h. Para lá chegar é preciso alguma estrada livre claro, mas os 100 km/h chegam antes dos 6 segundos o que vos garantimos que é rápido, muito rápido. A arma deste Biposto Record é mesmo o baixo peso para a potência que tem e é neste detalhe que começa a justificar a diferença de valores. Pois, não é só neste pois pagar mais por menos pode ser contraditório mas recordem que o Megane RS R26-R esgotou assim que foi anunciado por ser um carro de corrida legal para a estrada, tal como este Abarth.

                Ainda que estejamos a analisar este 695 Abarth de uma forma descontraída, não nos podemos esquecer da importância que estes modelos têm para a marca italiana. A limitação do número faz atrair compradores mas em especial colecionadores como o Nuno que continua a confiar em nós os seus exemplares. Recordam-se dos três Alfa Romeo GTA? Ou do fantástico Fiat Coupe? Há muito bom gosto na garagem do Nuno, e mais virão mas… agora a nossa atenção é toda para este «trovão amarelo» que nos deixou completamente apaixonado e rendido às suas linhas, detalhes e claro, sonoridade. Talvez seja por isso que decidimos não só trazer as fotografias até vós, como também um pequeno vídeo para verem em movimento este 695 Biposto mas esse extra fica para o fim do artigo.

                Vamos então a mais alguns detalhes. Como já dissemos, a unidade motriz deste 695 é a mesma dos «normais» Biposto, mas há algumas alterações perante as versões base – bem, a palavra «base» parece um pouco fora de mão aqui mas serve para o que estamos a explicar – nomeadamente os travões que passam a ser uns poderosos Brembo de 4 pistões e de 303 mm de diâmetro na frente, para segurar os poucos quilogramas deste Fiat. Pelas mãos da Akrapovic nasce o som deste 695, algo que já vamos estando habituados a ouvir pois a marca de escapes tem sido bastante utilizada em numerosas viaturas com que temos tido contacto. Talvez se justifique pelo bonito som que produzem, com nuances metálicas e uns graves guturais que se misturam com as notas mais «estridentes» das altas rotações; um verdadeiro tenor das estradas que neste Abarth ganha nova expressão, principalmente ao volante. Mas há mais. O pára-choques da frente é mais «saído», digamos, que os normais devido ao maior intercooler e os alargamentos que podem ver na foto em cima servem para acomodar melhor as jantes de 18 polegadas ultra-leves. Por cima, novo spoiler de tejadilho, maior e com mais apoio aerodinâmico e para a leveza, contribui também a ausência de antena.

                A isso se deve um interior despido de luxos e de… bancos traseiros. Sim, este Abarth leva a expressão «dieta rigorosa» ao extremo e além do rádio e do ar condicionado, também os bancos traseiros foram removidos. O posto de condução é um verdadeiro hino à desportividade ao volante e é, digamos, difícil de igualar. Estamos perfeitamente encaixados numas baquets Sabelt cinza com as inscrições dos modelos para que não nos esqueçamos de onde estamos e até estes bancos levaram com o corte do nutricionista de serviço ao terem as costas em carbono. Leveza levada ao extremo também nas portas, onde o painel é… um painel, onde todos os puxadores (até da bagageira) foram substituídos por tiras de tecido e encontramos uma pequena rede para guardar as luvas de condução e quiçá um saco para o pendura, caso enjoe nas curvas. Há outra espécie de rede de carga atrás onde os bancos traseiros estariam, que é porreira para colocarmos os capacetes ou uma muda de roupa. E depois há o carbono em todos os cantos dos nossos ângulos de visão.

                Se ainda não vos convencemos que este Abarth é fenomenal, deixem-nos falar sobre a condução. A suspensão ajustável é um hino à dinâmica em curva e casa na perfeição com o diferencial mecânico e aumenta a confiança em curva o que pode provocar alguns sustos especialmente se encontrarmos um buraco na linha de condução, pois faz este Abarth saltar da trajetória muito facilmente e pode inclusive fazer-nos tomar algum analgésico depois. Sim, é linear e muito focado na condução, mas não há bela sem senão e a condução é dura e comunicativa. Conseguimos perceber rapidamente que estamos em estradas portuguesas e obriga-nos a resfriar a excitação ao volante. Mas qual é o carro desta natureza que não é assim? Não se esqueçam que este 695 Biposto Record é um carro de pista, com legalidade suficiente para andar na estrada.

                Posto isto, sentimos a obrigação de resumir um pouco esta experiência de duas tardes com este pequeno mas grande carro. É muito caro para o carro que é; não é prático, nem confortável e garantidamente que não é silencioso e como estamos em Portugal, pagamos bem para andar com ele. Mas honestamente, é um automóvel fenomenal! Não nos podemos esquecer do objectivo deste Abarth. Não é ser carro de dia-a-dia, é sim ser um item de coleção de alguém que tem muito bom gosto e é conhecedor das coisas boas da vida, principalmente das quem têm quatro rodas. É único, chamativo e vibrante e vos garantimos que vira mais cabeças que um Porsche. É daqueles automóveis que mesmo parado, valoriza e se usado, também, especialmente se partilhar a garagem com outras peças de interesse histórico e valor sentimental. Claro que há carros que são mais rápidos, mais práticos, mais baratos até mas cada centímetro quadrado deste automóvel grita exclusividade. E isso torna este Abarth 695 Biposto record numa verdadeira peça irrepetível!